Comandante Guélas
Série Paço de Arcos
Quando os cafés encerravam a
actividade tornava-se febril. O Gang dos Meninos Ricos e Caucasianos de Paço de
Arcos funcionava por sazonalidades e uma delas consistia em valorizar a região
e colocar a Costa do Estoril na rota dos grandes destinos de férias de
qualidade. Entretenimento também era cultura e neste aspecto o grupo era muito
criativo. A operação “Pó para todos” teve início no pólo cultural da moda, a
Estalagem do Farol, e mais uma vez graças ao Max (o porteiro), que barrou a
entrada ao Gang, junto a um extintor. Enquanto se esgrimiam as vantagens e
desvantagens de permitir a entrada de 25 gandulos, de boas famílias, na
discoteca, parte deles desmontou o garrafão de “Pó ABC” e todos juntos saíram
do espaço de diversão com o extintor ao colo e a cantar os “parabéns a você”. O
aplauso foi geral, do Max que conseguiu ver-se livre daquelas melgas que lhe
infernizavam a vida e do Rodrigues (o dono) que estava na fase sentimental da
bebedeira:
- Vê-se mesmo que são filhos de boas
famílias, tão ordeiros, - disse, limpando uma lágrima ao canto do olho. – Levam
o aniversariante ao colo.
Mal ele sabia que o amigo era um
extintor de 10Kg, e não tinha por nome Peidão, porque o agente propulsor da
botija era o nitrogénio, enquanto que este andava a metano. O Pacheco levou
seis no carro e do lugar do morto era quem levava o brinquedo. O primeiro aviso
foi dado logo ao sair do parque:
BROOM
E ficou uma nuvem branca na noite
escura. Estava operacional, mesmo caducado. Contra todas as probabilidades,
visto ser uma raridade na Costa do Estoril, habitat de queques, o carro parou
junto a um par de pretos, que se aproximaram todos solícitos quando o Pilas os
chamou delicadamente, tratando-os por “patrão”:
- Ó preto, queres ficar branco?
BROOOOOOOOOOOOOOOOOOM
A nuvem que se formou parecia um
cogumelo, mas por estranho que pareça os clientes não saíram de dentro dela,
tendo-se limitado a sacudir o pó, à procura de ar. Enfim, maneiras diferentes
de reagir perante imprevistos. A próxima paragem foi em Oeiras, junto à taberna
que era paredes-meias com a esquadra da polícia. Mais tarde este local de venda
de meio-gordo branco modernizou-se e tornou-se numa agência bancária, cujos
funcionários trocaram os aventais com desenhos de pipas por fatos com gravata,
mas a qualidade de atendimento diminuiu grandemente, assim como o número de clientes.
O Pilas carregou no gatilho e só o largou muitos minutos depois, quando o pó
acabou. Ninguém reagiu. Uma nuvem branca saia em fúria do estabelecimento, mas
da Associação dos Amigos do Tintól não havia viva alma. Só dez minutos depois é
que saiu um cliente a cambalear. Mas foi só 1! O que é que terá acontecido aos
restantes sócios? Ficou tudo no segredo dos deuses porque o “Correio da Manhã”
ainda não passava de uma intenção.
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