Comandante Guélas
Série Colégio Militar
A vida é constituída por grandes
e pequenos afetos. Por isso quando o oficial entrou na companhia e viu ao longe
o funcionário a esfregar o chão, gritou a plenos pulmões:
- Moca, - e acelerou o passo.
- Epá, meu malandro, como estás
crescido, - exclamou o fâmulo, encostando a esfregona à parede.
O abraço foi sentido, tinha
misturado uma grande amizade e saudade.
- Se fosse noutro tempo já me
tinhas arreado uma cabeçada por estar a pisar o molhado.
- Ainda sou capaz de te dar uma -
respondeu, rindo-se.
- Não és homem, não és nada.
- Não me provoque meu coronel, -
disse, aproximando a cabeça em forma de bigorna.
- Estás com medo?
A cabeçada do senhor Cândido
Gomes Alves foi tão eclética, que trouxe à luz do dia todas as memórias
profundas dos fabulosos anos em que o visitante fora um Menino da Luz. , esta
estória segue outro rumo!
O período dos “5 estudos”, cinco
tempos letivos exclusivos para preparação para os exames, a quem não tinha
dispensado. Por isso o tempo estava reservado ao estudo intensivo, os
procedimentos militares reduziam-se ao mínimo indispensável, o batalhão
colegial era residual. Era um tempo com muita actividade noturna extracurricular.
Quando naquela noite de verão o Br…, perdão, “Alfinete de Peito” (sinónimo),
resolveu acompanhar os colegas, ia com a cabeça cheia de sonhos, já só se via a
trote em cima da “Albertina das Mamas Grandes”, e a galope no lombo da “Dallas Cowboy”.
- E com um bocado de sorte está
lá a Constança e a Francisca, - informou o líder do grupo, um cliente de “Cueca
Gold”, o único que tinha no currículo uma camponesa desprevenida que se cruzara
com ele durante um exercício de marcha na Semana de Campo em Mafra, que o
obrigou a atirar a mochila e a espingarda para o feno, para assim poder dar os
tiros.
O Br…., perdão, “Alfinete de
Peito”, não aguentou a emoção, também havia princesas no Bairro Alto, por isso
foi a correr para a casa de banho. A fuga deu-se a seguir ao toque do recolher,
como a época era especial não havia necessidade de pedir licença aos poucos graduados.
Até lá o líder informou os excursionistas dos serviços disponíveis e da tabela
de preços, o frango do noviço iria deixar a capoeira para ser esgalhado por
mãos alheias. O Br….,perdão, “Alfinete de Peito”, saiu do colégio já com o
bicho em sentido. Quando as primeiras sombras do pecado começaram a aparecer no
lusco-fusco, sentiu uma entidade estranha a forçar-lhe a braguilha. Viu então
uma mulher lívida, de sorriso estampado na cara.
- O nosso melhor cliente está de
volta - disse, aproximando-se do “Cueca Gold”.
- Trago um que, relações, só com
a almofada, - informou o Menino da Luz.
- Vai para a Albertina, ela tem
um bom par pedagógico.
O BR…., perdão, “Alfinete de
Peito”, aproximou-se da porta e viu, iluminados por uma luz branca com papel
celofane amarelo, uns pés de hipopótamo decorados com umas unhas de águia
pintadas com um vermelho desbotado, das quais pendiam restos do lençol, que um
dia tinha sido branco. Estava tudo desfocado, desproporcionado. Entrou com
cautela. Deu de caras com um espetro de extrema singularidade, inquietante e
perturbador, que bebia calmamente uma cerveja preta e debicava uns tremoços, ao
mesmo tempo que acariciava com sensualidade uma barba que nascia na cabeça e
desaguava nos pés. O Menino da Luz olhou para as cortinas gastas que guardavam os
vestígios de outros clientes, que tinham conseguido resistir à erosão do tempo,
e quis fugir pela janela. A intensidade do desejo impedia-o de ver a situação
na perspectiva correta.
- Então, demoras muito a tirar a
arma cá para fora? – Perguntou a dama, com palavras levadas por um vento e por
uma tempestade inesperada, veloz e aterradora, que deixou no ar um bafo azedo
polissémico, agressivo.
A dita do Br….., perdão, “Alfinete
de Peito”, tinha desmaiado, e a “Albertina das Mamas Grandes” estava à beira de
um ataque de nervos, porque uma cerveja preta e uma taça de tremoços davam
geralmente para cinco clientes, mas com este Menino da Luz estavam agora
vazias. O que se passou a seguir deu origem a várias versões, que circularam na
camarata, uma das quais dizia que a dita do Br….., perdão, “Alfinete de Peito”
entrara dobrada, com a Albertina a gritar para se despachar, ao mesmo tempo que
comia tremoços e bebia a sua cerveja preta, e outra que regressara à camarata
com a arma selada, tendo-se vingado na almofada a noite toda.