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315 estórias

Thursday, December 22, 2016

Ao velhinho se torce o pepino


O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol P.A. 9

Em Paço de Arcos, terra com hábitos desportivos, joga-se mais Padle no Watshapp, que substituiu o café do Américo, do que no campo. E aqui já se destacam dois atletas, o hilariante Cociolo que joga à chuva para esquecer aquilo que foi um dia, o Cociolo, e joga à chuva para esquecer aquilo que é hoje, o Cociolo.
- “Entrar nestas conversas é um insulto à inteligência”, - protesta o jogador de personalidades labirínticas, imprevisível e incoerente.
E o Conan Vargas, que “joga por diversão”, mostra que vai para o campo à procura de sexo!
- “Já tenho bolas, bandolete, fita de óculos, punhos, e outras padeleirices. Só não tenho guarda chuva”! – respondeu.
Valorizamos o futebol de Paço de Arcos como um pilar essencial à nossa sobrevivência. E quando se vai jogar pensando que nada de novo irá acontecer, e portanto a crónica semanal não terá conteúdos para prosseguir, eis que o Caramelo traz o amigo Carcaça, e o Fininho o filho ilegítimo Fernandinho. O primeiro, sem pronunciar qualquer palavra, e aparecendo detrás de um carro, estende uma nota de cinco ao Peidão, um eurodependente, que abre de imediato a bolsa das esmolas para aceitar tão generosa dádiva, e segue viagem em direção ao campo decidido a jogar. O segundo vem com um sorriso de orelha a orelha, e é de imediato aceite por estar abrangido pela “Lei do Sete Escadas”. No campo o Caramelo põe como condição para participar na escolha das equipas, ficar de imediato com o Brinca na Areia, alegando “nunca ter jogado com ele”, mas o Peidão chama-o à razão:
- É contra as regras, temos de escolher com a pedra, o Fininho é homem para anular o resultado no final, caso perca, alegando incumprimento dos estatutos. Todo o cuidado é pouco, trouxe o Fernandinho por alguma razão. Mas está descansado, eu sou um jogador de rotinas, ponho a pedra na mão direita e atrás das costas mudo.
E assim o Caramelo aceitou cumprir. Mas os hábitos mudam! A pedra permaneceu na mão direita e o oponente escolheu a esquerda. O Bill começou o jogo com grande fulgor, conseguiu acertar duas vezes nos postes, mas acabou por ser traído pelas habituais “Disfuncionalidades Cognitivas Temporárias”, que o fazem jogar com muita qualidade na equipa adversária.  Entrou Fernandinho, saiu Botas Sanjo, estava encontrado um novo jogador com perfil para o Futebol PA, que nunca seria aceite no Incha Padle, um grupo elitista, cuja mensagem do Velhinho não deixa margem para dúvidas:
- “Cociolo tens de ir para orientar os coxos, nem que seja roda bota fora”.
Mas para compreendermos esta nova modalidade que atrai todos os mancos finos da vila de Paço de Arcos, basta seguir a rotina de dois dos seus atletas de maior renome:
São 7 horas duma sombria e chuvosa  manhã paçoarcoense, Conan Vargas, uma lenda viva da Costa do Estoril, autor da frase mais famosa de todos os tempos, “dou 8 de seguida sem ver a luz do sol”, nunca tendo compreendido que as mijas não contavam, espreita pela janela e vê que o seu adversário direto de Padle, Cociolo, já está na estrada a treinar para o próximo campeonato. Ambos representam dois mundos paçoarcoenses opostos, que se digladiarão mais tarde num campo da Quinta da Moura, onde habita o mais complexo jogador do Futebol PA, o Milhas. O Cociolo sempre avaliou muito mal o que a maioria dos concidadãos pensam dele, estica a corda até ao ponto em que a própria sombra foge. Por isso entre o Conan e o Cociolo existe uma dissonância cognitiva e afetiva, que separa as elites bem pensantes do povo cosmopolita. Mas há agora uma esperança de mudança, os Coxos de Prata, um sub grupo do Incha Padel, que se encontra ainda na fase da bolha, impensável existir no Futebol PA. E com outros objetivos bem definidos está o Big Mac que, a coberto de uma reportagem fotográfica, vai construindo a sua famosa “Lista Chinoca”!

Saturday, December 17, 2016

Operação Mata Velhos

O Comandante Guélas
 Série Paço de Arcos
Futebol P.A. 8 

Quando o Big Mac apareceu no futebol de domingo a fazer a apologia do Padel, o Tio Mino desconfiou, não porque ele trouxesse um braço ligado, mas porque se definia como um “velho atleta que já contava para cima de cinco dezenas, sem uma hora a mais ou a menos”. Mal ele sabia que uns dias antes o Big Mac tinha proferido umas estranhas palavras no final de uma reunião de trabalho numa sinistra agência funerária, a “Cinzas Finas”, na Brandoa:
- Amigos, amigos, negócios à parte! - Explicou, com as lágrimas a caírem em catadupa.
O esquema estava montado, as vítimas seriam encaminhadas para o primeiro e último jogo com o Preto, o Chinoca e o Conan Vargas. Mas vamos por partes! O isco era o imponente Conan Vargas, imagem de marca do Padel paçoarcoense, com legenda e tudo:

 “sou demasiado forte para alguns, é esse o meu problema!”

 E uma vez em campo despachavam rapidamente o atleta, cujo óbito era logo ali declarado pelo médico, facilitando o transporte imediato do corpo na mala do carro do proprietário do forno de Barcarena, ao mesmo tempo que o homem da Remax punha o nome do falecido no cartaz da venda da propriedade agora desocupada. Mas o negócio previa outras mais valias! Só convidavam pesos médios, para assim terem que gastar mais lenha na fritura, por ausência de gordura corporal. O Velhinho nunca poderia jogar, iria pôr em risco o negócio do Chinoca, explodindo no ato da fritura, devido a ter as células atestadas de álcool. Havia um indício que os convidados desconheciam, a crise de lenha nas redondezas, toda ela açambarcada pelo asiático.
 - É a ideia perfeita, mas não poderei convidar os amigos todos juntos, vêm a prestações, - explicou o empresário de Padel aos cúmplices.
Mas havia outro a fazer negócio paralelo, o Tio Kiki, o homem do material, que acabara de comprar várias frigideiras no Ikea.
- Digo-lhes que são raquetes, nem notam a diferença!
Por isso, caros paçoarcoenses, desconfiem de cada vez que receberem um convite do grupo Incha Padel do Whatsapp.