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315 estórias

Saturday, September 17, 2005

Vêm aí os Celtas!

                        Camarada Choco  
                                                  
                                                                         Exmo Senhor

Animador ViraBicos

Vimos por este meio convidar V. Exa. e a sua Tribo, para estarem presentes na “ Festa CeltiMonguibérica “, a realizar em Coimbra.
Com os melhores cumprimentos
Dr. David Kovac’Olhões

O desafio estava lançado ! Era necessário transformar o Grupo Folclórico “ Os Mongas da Venteira “, num agrupamento de “ Celtas Desaparafusados da Brandoa Sul “, não sem antes desmontar os “ Chutos, Bufas e Bofetadas “ da Picheleira, fruto do último show no Parque Central. Depois de três seguidas com a mão, o nosso visionário Vira Bicos apresentou-se ao trabalho com uma resma de folhas A4 debaixo do braço.
- Aqui está o plano, vamos incendiar o Centro do País – disse, mostrando a folha da selecção.
Juntar os convocados foi um pouco complicado, como do costume, mas um ViraBicos é um ViraBicos, e por causa do seu estilo reaccionário, devido ao brinco na orelha esquerda, quarenta e cinco minutos depois tinha os candidatos a Celtas todos em sentido no primeiro andar. Trouxe também a reboque a sua Assessora, o senhor Pintor, a dona Espatinha e o stor pobre.
- Celtas, mas isto é que são Celtas !?? – Perguntou o stor pobre. – Não estou a ver aqui ninguém alto, de pele branca, olhos claros e cabelos louros.
- Se se der um banho no Choco com sabão “ Macaco “ e uma escova de piaçaba, fazes dele um Celta de Raça Pura, - explicou o senhor Pintor, abraçando o druida da Brandoa.
- Ok, a origem do Choco já está confirmada ! E os outros ?
- Este e este – apontou para o Bibi e o Badaró. – Vê a barriga circular e estes dentes de ferro.
E lentamente foram-se analisando os perfis dos candidatos. Havia Celtas com fortes indícios mongólicos e Celtas de raça indeterminada. Mais uma vez o Choco mostrava ser um Ser Humano do mais puro sangue roxo do norte da Europa, um homem de uma cultura castreja, um feiticeiro dos tempos modernos. O único que se aproximava do nosso herói, era o também lendário ViraBicos. Teriam sido outrora irmãos gémeos siameses ?
- Ò ViraBicos, se tomares banho com uma pedra pomes e lixívia, ficas loiro ! – Exclamou o senhor Pintor e continuou. – E quanto aos olhos azuis, arranjamos lentes no bazar chinês “ Lympókú “.
- Deixemo-nos de chinesices e vamos à música, - interrompeu a assessora, carregando no botão.
Uma música marota invadiu o espaço e tocou fundo no Choco. Como um vulcão adormecido que volta de repente à actividade, o Silva explodiu em movimentos Celtas, Lusitanos, Iberos, Fenícios e Gregos, só tendo parado no pilar do fundo da sala.
- Eu não quero movimentos tão perfeitos, porque senão ainda dizem que o deficiente sou eu, - gritou o ViraBicos, mostrando um cartão vermelho ao nosso herói.
Ficou então o grupo de pseudo celtas reduzido a doze cartagineses, incluindo o ViraBicos, a Assessora e a dona Espatinha. O senhor Pintor, por ser um romqano de gema, não pode fazer parte da alcateia.
Reiniciou-se a música atrevida, mas o grupo foi todo abafado pelo Badaró, na altura em que iam a passar por debaixo dele. Devido à sua acutilante visão de toupeira embriagada, abriu as pernas, em vez dos braços, e trancou com sofreguidão a Palhaça Tété, que soltou de imediato o franguinho assado do pequeno almoço.
- Porra, estão a gozar com a Cultura ? – Gritou o Animador, assoando-se com raiva à túnica fenícia. – Se isto continuar assim vou à secretaria e despeço-me.
Nova tentativa, nova corrida. Mas, em vez de tocar uma “ Céltica “, saiu um “ Carlos Ribeiro mais quatro “ gaulês com tendência para o suicídio, que levou, sem o consentimento do próprio, o nosso bem amado Choco para o meio da pista de dança, com um ritmo de rã abafada. O seu “ bumbum “ estava perto da redline, das orelhas já saia um fumo negro, da cera a derreter, e dos pés fugia um odor cavernoso, que dava um ar sensual ao ensaio. O stress do ViraBicos era tanto, que o brinco da orelha esquerda foi parar ao septo nasal, parecendo agora um toiro enraivecido perto da reforma. A cena era tão dramática, que o Kodac já se preparara para fazer uma pega de caras ao animador ruminante.
- Chiça, vocês desculpem, mas parecem uns mongas, - metralhou o ViraBicos, atirando com o capachinho para o colo do Stor Pobre.
O espanto foi geral quando da cabeça do colega do Batatoon saiu uma longa cabeleira loira, que se desenrolou até ao traseiro. Devido à raiva e à convulsão existencial, os olhos tornaram-se azuis e do meio das pernas saiu uma longa espada da Europa do Norte.
- Um Celta, um Celta, - gritou a assistência, precipitando-se para as escadas.
Na sala ficaram, frente a frente, dois Celtas genuínos: o Choco e o ViraBicos.