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315 estórias

Saturday, January 30, 2010

O Regresso da Turma 2


Comandante Guélas
Série ISEF 1

O Instituto era Superior e situava-se numa das zonas vermelhas da capital, a Cruz Quebrada, atravessada pelo inebriante Jamor. No ano de 1981 apresentaram-se na Turma 2 vinte e seis indomáveis estudantes, vindos dos quatro cantos do país, tendo sido atribuído o número 1 a um careca traficante de fotocópias e o número 26 a um avatar que gostava mais de ir treinar abdominais com a Marreca de Monsanto, do que exercitar a cambalhota nos colchões do stor Palmada.

No dia 9 de Janeiro do Ano da Graça de Nosso Senhor de 2010 tornaram-se a encontrar num restaurante da Capital com decoração alentejana. Quando flanquearam a porta a alma do velho Xarope não aguentou dar de caras com uma vara de alentejanos em cima de um palco, todos coladinhos a grunhir em voz alta e a roçarem-se uns nos outros num movimento balanceado ora para a direita ora para a esquerda e gritou:
- Morte aos panilas, - ao mesmo tempo que era vítima de uma convulsão traiçoeira, que o obrigou a placar, tal como o tinha feito no século passado ao seu colega Bruxedo, o grupo de reformados da apanha da bolota.
Os gerontes nem tiveram tempo de guardar as dentaduras e acabaram por cair em cima do assessor Anselmo, que se tinha escondido atrás das cortinas para que não fosse confundido com aquela trupe de trapezistas capaz de lhe arruinar a sua carreira política, construída à sombra da Lurdes e do Valter, obrigando-o a voltar para a escola, de que fugia como o Diabo da Cruz. O homem das Caldas aproveitou o caos e tomou conta do palco, aproveitando o momento para mostrar aos clientes a sua já lendária queda para a dança, tão bem classificada na já longínqua cadeira temática. O proletário Pedreta já ressonava a sono solto e só acordou quando um jarro de tinto e cinco dentaduras se despedaçaram na zona do seu córtex occipital direito, lançando de imediato uma série de impropérios , em chinês, sinal de que a queda sofrida há vários anos das Torres Gémeas da Fonte da Telha não estava suficientemente cicatrizada. O Chaparro, devido ao seu porte atlético estilo “Damatta”, nem a perna esquerda conseguiu mexer e assim permaneceu entalado na cadeira ao lado do Lopes, agora tão careca como o número 1 da Turma 2. Em frente destes estava o eclético Bezerra, recordista absoluto de e-mails, que agora só conseguia exprimir-se numa linguagem Itálico-Australiana, à mistura com o velho “Carago”, responsável pela sua comissão de serviço forçada nos Açores. O Barroso nem queria acreditar onde se tinha metido, agora que era o presidente dos espadachins da Cova da Moura e por isso fingiu que estava incontinente, aproveitando-se da idade como desculpa, e escondeu-se na casa de banho das senhoras, mais propriamente junto da sua colega Carocha. Quanto ao Catedrático de serviço, o Gil, não do Parque das Nações, mas do Jamor, aproveitou a pausa do jantar para elaborar mais um teste, com que iria lixar os alunos no dia seguinte. O Renato e o Roxo já tinham acabado a observação daquele estranho jantar de confraternização do Batalhão de Pinos e Cambalhotas e esperavam agora pela confirmação da nota dada pelo Quim, que deu finalmente um “Excelente” ao dançarino das Caldas, que lhe permitiu acabar a Licenciatura e ainda ter tempo para telefonar para o seu gerente da conta nas Caldas, para acrescentar o título de “Doutor” nos cheques que iriam ser emitidos no dia seguinte. As meninas, agora umas belas velhotas, especulavam sobre o paradeiro da amiga Valverde, tendo a stora Matos informado o Conselho de Anciões, que de imediato registou em acta, que a colega fora vista numa traineira lá para os lados da Mauritânea pelo Chico, agora dono e senhor de um veleiro atracado na marina de Oeiras. As storas Nascimento, Loureiro e Amado fizeram tricô a noite toda, sinal de que já tinham entregue os papéis para a reforma. Foi notada a ausência do stor Bruxedo, vítima de uma estranha troca de e-mails entre o Chaparrão, dono e senhor de Beja, e o proletário laranja de nome Pedreta, de Palmela. Este pedira ao outro a morada electrónica do stor-monga, mas fizera-o já depois do suíno da torre da Igreja ter tocado as badaladas da meia-noite, altura em que o Chaparrão, apesar de estar num Conselho Pedagógico, já se encontrar encharcado em sumo de uva, acabando por trocar o endereço e dar-lhe o do Aníbal, que compareceu no jantar com a Maria e os batedores, pensando ir encontrar-se com o Zézito para ambos discutirem o Orçamento de Estado. Quando o Anselmo o viu foi a correr ao seu encontro, chamando-lhe “colega”, mas escorregou numa dentadura tresmalhada e teve de agarrar-se à primeira dama, acabando ambos por cair no chão, um por cima do outro, como nas aulas do professor Palmada, onde o stor das Caldas brilhava com o seu cinturão azul e com o barulho das suas cambalhotas, que impressionavam sempre a Glorinha da cantina. A festa acabou com o Chaparro a ser levado para casa pelos verdadeiros colegas, numa carrinha de caixa aberta, com o Xarope a correr atrás e a gritar:
- No meu Algarve não entram panilas!
O judoca mais graduado deste gang, que ostentava um soberbo cinturão negro comprado no chinês, acabou a noite rodeado por moldavas, contando-lhes a sua comissão na Cruz Quebrada, onde se destacava a graciosidade como jogador de Rugby, a leveza de dançarino, a invencibilidade no judo, a flutuabilidade na Natação, a potência no Andebol, a impulsão no Basquetebol e outras características mais íntimas que só contaria àquela que o acompanhasse no Mercedes até à serra da Malveira, altura em que a obrigaria a pagar a gasolina, tal como o tinha feito à professora que ousara chumbá-lo na cadeira de dança do 2º ano. Foi notada a ausência da gestora Oliveira, presa no trânsito em Tóquio.

Visita de Cortesia à Mercearia “Aveirense”





Comandante Guélas
Série Paço de Arcos
  
A Visita de Cortesia à Mercearia “Aveirense” de Silva & Sousa Lda.
Rua dos Fornos, nº 17ª/17B e 17 (números em metal) ou 17/17ª e 18 (números a tinta)
Em 1975, devido à crise de pretos (com a abolição da escravatura fugiram para África), os gangs em Paço de Arcos eram constituídos por brancos. Numa noite, já de madrugada, a Padaria “Aveirense” foi visitada por uma destas turmas, constituída por gente muito importante do Portugal actual. Recuemos umas horas, para tentarmos perceber o que levou aqueles “meninos de bem” a fazerem uma visita de cortesia à célebre Padaria. A noite ainda era uma menina, e a festa na sede velha do Clube Desportivo de Paço de Arcos ia de vento em popa. O irmão mais velho do primeiro marido da Tita-dos- Pés-Sujos, controlava a música, e debitava freneticamente os vinis gamados aos amigos, fazendo abanar o edifício. Até já um “Paçoarquiano” tinha dado um golo numa cerveja de litro, que estava escondida debaixo de uma mesa, mas em vez de cerveja bebera mijo, e do rijo, procurando desesperado os autores de tão alegre acto. Dois pigmeus de blusões negros, vindos de Porto Salvo, estavam parados junto ao Salão de Dança e tinham colocado os seus capacetes no chão, um em cima do outro, num local de passagem.
- Quem se atrever a tocar-lhes, morrerá – ameaçaram, coçando os tomates.
Nem dito nem feito! O nosso querido Milhas já se tornara no convidado mais chato da festa, pois ultrapassara a fasquia das cinco “bejecas” e andava perdido na dança, à procura duma vítima. Quando se cruzou com os capacetes deu-lhes um chuto à Eusébio, atirando-os para o meio da multidão. O anão mais próximo nem teve tempo para o homicídio, pois o Milhas agarrou-se de imediato a ele e levou-o para a dança, talvez confundindo-o com a “Huga Huga Lagosta”. Entretanto, o Velhinho conseguira deitar a mão a uma caderneta com senhas de produtos que estavam junto ao homem da caixa, e estava a distribui-las pelos amigos. A azáfama no Bar era enorme, os produtos esgotaram-se num instante.
- Isto é que foi um grande negócio, vendemos tudo! – Disseram os responsáveis, fazendo um sinal com o polegar para o colega que estava na outra ponta da sala, mais propriamente na caixa.
Mas festa em Paço de Arcos não era festa, sem uma carga de Litopol (Ácido Muriático+Litopol). E, como sempre, foi fatal! A noite já ia longa quando o Gang foi arejar para o exterior, encostando-se à “Padaria Aveirense”. O pior foi quando as bexigas começaram a apertar e a vontade para mijar atingiu a “redline”. A pouco e pouco os membros do Gang viraram-se para a parede do estabelecimento comercial e começaram a verter águas. Os que tinham só parede, para a parede olharam, mas os que ficaram com as janelas à frente da cara, depressa descobriram que a loja estava recheada de guloseimas, que davam muito jeito aos estômagos vazios. Cinco minutos depois, o Gang de brancos estava ao balcão da “Aveirense”. Mais cinco e já todos corriam em várias direcções da vila, levando nos bolsos rebuçados do Doutor Bayard, Sugus, Chocolates “Sombrinhas”, queques, amendoins, favas fritas, Vinho Rosal, Rebuçados “Bola de Neve”, Tabaco, e tudo o mais que viesse à rede. A única pista foi dada por uma testemunha anónima que viu um indivíduo, às três horas e dez minutos, com um caixote de produtos à cabeça, junto à linha do comboio. Consta que era o célebre Focas das Docas!

Tuesday, January 19, 2010

A Lenda do “General sem Medo”


 Comandante Guélas
Série Paço de Arcos



Esta é uma estória que trabalha de orelha em orelha, por isso de cada vez que o Peidão pedia ao Graise para o ir buscar a casa, este fazia sempre a mesma pergunta:
- O teu avô está preso?
O ano de 1975 foi pródigo em brincadeiras militares e Paço de Arcos não foi exceção.O avô do Peidão e o pai do Bajoulo eram generais da “brigada do reumático” e estiveram durante todo este ano de prevenção contra quaisquer movimentações de indivíduos suspeitos, que incluía mulheres de bigode farto, sovacões eufémicos e pintelheiras dinossáuricas, sinais revolucionários, que se aproveitavam dos calhaus com olhos para dizer que os representavam, ou melhor, para gamarem e ocuparem em seu nome. Quando se soube que um grupinho de artistas vestidos com narizes vermelhos estava a preparar-se para fazer uma visita de “cortesia” aos burgueses do alto da vila, uma vez que a Comissão de Moradores de Paço de Arcos chumbara a proposta dos meninos ricos de alargar o conceito de “chalé” às barracas da Pedreira, onde vivia o Ratinho Blanco, estes dois militares da velha guarda prepararam-se para os receber condignamente. Houve trocas de armas, capturadas uns anos antes aos turras, eletrificaram-se as janelas, ou melhor, pintou-se o sinal de “Alta Tensão”, que bastava para assustar aqueles portadores de neurónio único, as agulhetas das mangueiras foram mudadas para melhorar o banho anual, e assim causar a confusão nas linhas inimigas quando eles regressassem a casa com cheiro a burguês, os informadores da PIDE, Polícia de Investigação e Defesa da Esquerda, o guarda noturno, o talhante, o jardineiro e o vendedor de fruta, todos Josés, começaram a dar de caras com os canhangulos dos militares da velha guarda. O primeiro era uma espécie de profissional liberal, que só assaltava as casas dos que não lhe pagavam a dízima, e não passava recibo. O segundo foi vítima de uma emboscada quando ia a meio da escadaria e o militar de cachimbo o saudou com um revólver que mais parecia um canhão, obrigando-o a abandonar os bifes e a só parar no colo do patrão, o pai do João Gordo. O nascimento da lenda estava reservado para uma tarde de Verão, quando o Zé jardineiro informou o avô do Peidão de que estavam a assaltar a casa das duas alemãs, que só tinham pastores alemães com uma mancha ariana na língua. O herói agarrou no pistolão, acendeu o cachimbo e rumou em direção ao teatro de guerra. Deu de caras com um puto de fraldas  a tentar arrombar, com uma enxada, um armário cheio de caramelos, contrariando as ordens  do pai, que queria ouro e dinheiro. Ao avistar o cowboy da terceira idade o puto molhou as calças à frente e rendeu-se de imediato, não se tendo nunca sabido se a pintura rupestre traseira tinha sido causada pelos caramelos espanhóis fora de prazo, ou pelos efeitos fisiológicos fora de controle. Foi visto por todos com os braços no ar, indo atrás de si o agora“General sem Medo”. A notícia depressa se espalhou pela vila, e até o guarda noturno deixou de ser visto por aquelas bandas, havendo quem dissesse que se tinha reformado. Mas a história não ficou por aqui. O petiz ficou detido na casa do militar enquanto este entregou à Palmira uma ordem de serviço para que ela telefonasse ao Chefe Bigodes, enquanto fazia guarda ao perigoso malfeitor. A uma certa altura o general, para ganhar mais pontos para a sua fama tenebrosa disse, em voz alta, que pretendia dar um tiro na perna do petiz, para que ele aprendesse a lição mais consistentemente. Nova mija, mas desta vez no sofá da casa, obrigando à intervenção imediata da autoridade máxima do rés-do-chão, a Milu, que deu ordem de marcha ao marido, porque caso o não fizesse o rapazito ainda lhe sujaria a sala toda. Após isto ofereceu um lanche ao Zézinho do Telhado e deixou-o voltar para casa, ainda a tempo de ver mais um episódio do “Kimba”. Mas a estória não fica por aqui! O grande fornecedor de canhangulos era o pai do Bajoulo, um guerreiro com a voz metálica, que num dos treinos diários transformara um humilde pombo caseiro, que ousara descansar no seu telhado, num monte de penas voadoras, cuja anilha bateu com violência no alcatrão da rua, só parando aos pés do dono que o treinava para o campeonato nacional.
- O que vai ser de mim sem o meu “Barão Vermelho”? – Gritou o proprietário.
- Toma lá esta nota e compra um no Zé da Antónia, que ele tem lá muitos iguais a esse! – Respondeu o general, descansando a arma no ombro esquerdo, e tirando as penas que lhe sujavam o blusão de aviador.
O Pacheco, o Focas, o Pontas e o Pilas gravaram para sempre nas suas almas o encontro do 4º grau com esta lenda paçoarcoense. Foi numa noite escura e chuvosa, quando tentavam desmontar um extintor na oficina da garagem do chalé da família do amigo Peidão. Saído, nunca se soube de onde, no meio de um nevoeiro cerrado feito de fumo de cigarros, apareceu-lhes a figura imponente do “General sem Medo” de pistolão em riste, apontado aos corpos rijos dos amigos do neto, que faziam as delícias do Capitão Porão, um oficial revolucionário que vivia na parte de baixo de Paço de Arcos, que jogava noutro campeonato. Os braços foram levantados tão depressa em sinal de rendição, que o Focas não conseguiu esconder a crueza da violência sofrida deixando sair intempestivamente um valente flato, que o Pacheco interpretou como um tiro, caindo assim desamparado sobre um armário, de onde caiu uma caixa cheia de parafusos, tendo ainda tempo para um último pensamento:
- O velho vai-me por solas novas na alma!
 Houve um instante eterno!
- Ah, és tu! – Exclamou o colega do pai do Bajoulo olhando para o neto, e guardando o pistolão nas calças, manifestando assim a sua efetiva presença na comunidade.



Sunday, January 10, 2010

O Voo do Cisne


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Comandante Guélas

Série Paço de Arcos
O motivo era forte porque no dia seguinte o Rui B tinha de apresentar-se, não na tropa, mas no altar. E sem falta! A despedida tinha de ser inesquecível, para que décadas depois ainda fosse relembrada, numa altura em que os membros do Gang dos Meninos Ricos e Caucasianos de Paço de Arcos (G.M.R.C.P.A.) fugissem destas recordações como o Diabo da Cruz, não fossem perder a autoridade sobre os filhos que eles querem agora que sejam doutores e engenheiros. Em vez de um bolo com velas, porque não se tratava de um aniversário, alugaram um soberbo Mini-Metro com 400 Km e foram testá-lo para a Quinta do Loureiro em Cascais, onde actualmente se ergue o “Cascais Vila”, em homenagem a estes seis aventureiros. Mas antes da acção os seis magníficos foram abastecer as barrigas, que ainda não mostravam sinais de gravidez, para o bar “O Cisne”. E eis que, depois de várias “loirinhas”, o Rui B desafiou os amigos com a pergunta que iria ficar para sempre nas suas memórias:
- Quem é que quer voar ?
- Voar?? – Interveio o único do gang com vocação jornalística.
- Voar num Mini-Metro, - respondeu o noivo.
E pegou de imediato numa caneta desenhando o plano de voo no tampo da mesa. Assim, explicou Tintim por Tintim aos cinco candidatos a aviador o que lhe ia na alma. Na Quinta do Loureiro havia um terreno baldio com três socalcos e a ideia consistia em acelerar a fundo o bólide, levantar voo no primeiro e aterrar para lá do terceiro. Simples, de fácil execução e sem riscos, pois a máquina não pertencia a nenhum deles. O desafio era tentador. Para co-piloto ofereceu-se o Bigornas, o Escoto levantou o braço para escrever a peça jornalística e como fotógrafo ficou o Zé. O Nuno M responsabilizou-se pela logística do “ground force” e pelo controle do “take-off” e o Miguel R pela confirmação do “landing”. A deslocação até ao local da acção foi feita em câmara lenta, não por se tratar de um filme, mas porque a cerveja já circulava em grandes quantidades por aqueles corpos ainda roliços. A máquina, que não tinha sido feita para voar, segundo constava no manual de instruções, foi colocada na linha de partida e todos se prepararam para o lançamento, não do “Vai e Vém”, mas só do “Vai”. O Escoto entrou para a rectaguarda, atrás do banco do piloto-noivo, mas teve de ficar dobrado, pois o carro não tinha sido desenhado para jovens arraçados de girafa. Ao seu lado estava o Zé Fotógrafo, resvés com o tejadilho, e com a máquina fotográfica pronta a registar para memória futura toda esta epopeia, não dos irmãos Wright pioneiros da aviação, mas dos futuros, e já célebres pelas secas que davam aos clientes no balcão da Jomarte, irmãos Cruz. À frente, no lugar do morto, sentou-se o Bigornas, cuja cabeça ocupava grande parte do tablier e tapava o ângulo de visão do mano. O Rui B rodou a chave e o motor começou a roncar. Mas ainda houve tempo para um brinde. O Bigornas atestou os “flutes” da Atlantis com Dom Perignom e todos rezaram para aterrarem em segurança e continuarem a beber na boda do dia seguinte. O Nuno M ergueu o copo e brindaram:
- À nossa saúde, que está garantida, e à vossa que está periclitante, - desejou o Miguel R.
- Vamos a isto, - gritou o jovem girafa. – Nem consigo mexer o pescoço.
Cada um ocupou o seu posto, o Rui B carregou com raiva no acelerador, o Nuno M ergueu o “flute” e de imediato baixou o braço com violência, dando início à grande aventura paço arcoense a seguir aos Descobrimentos. O Mini-Metro de propriedade indefinida, mas alugado a uma empresa com nome na praça, começou a rodar, de início com velocidade mais baixa que o triciclo do senhor João da Fruta, mas depois lá se aproximou da velocidade supersónica da “Deusa”, o soberbo Dyane do Mac Macléu Ferreira, mas nessa altura já estava junto à rampa de lançamento. O Escoto já tinha o pescoço a 180 graus, o Bigornas comprimia com a cabeça o mano no vidro de trás, e o dedo indicador da mão esquerda do Zé colara-se ao botão de disparo, inundando o interior com flashes ininterruptos, o que levou o piloto a gritar:
- Entrámos numa zona de turbulência.
As rodas largaram o chão, o segundo socalco foi sobrevoado, mas já o mesmo não aconteceu ao seguinte, pois o Mini-Metro “bateu inteirinho a meio” (palavras do noivo) e só parou quando deu de caras com um muro, que impediu que o voo se prolongasse para a Marginal. O embate foi tão violento que a mistura de cerveja e Dom Perignom dos passageiros saiu-lhes pelas orelhas e estatelou-se nos vidros da viatura, tornando ainda mais turva a visão do piloto, que teve dificuldades em parquear a viatura, deixando a incumbência entregue ao piloto automático. Deu-se um apagão em toda a tripulação. O primeiro a chegar ao local da colisão, não foi o que estava mais perto, o Miguel R, pois encontrava-se em estado de choque com a razia que o aeroplano lhe fizera, mas sim o mais afastado, o Nuno M, que no início conseguira chegar mais depressa ao primeiro socalco, conseguindo ainda ver o Escoto a dar uma volta de 360 graus com a cabeça. A caixa e a direcção do Mini-Metro alugado com 400 Km morreram ali mesmo, e a carcaça foi abandonada com a caixa do Dom Perignom e os flutes da Atlantis como testemunhas.