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315 estórias

Sunday, November 26, 2017

A Relíquia do Futebol




O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol P.A. 32


O mistério da ausência do Fininho nos últimos três jogos foi esclarecido no domingo passado com o seu regresso aos relvados do Lagoas Parque. Tinha estado a dar formação desportiva a um dissidente:
- Já estou farto do coxo do Conan Vargas, quero de novo adrenalina a correr-me pelas veias – confidenciara o Focas ao Fininho durante uma breve troca de mensagens clandestinas num intervalo do Incha Padel.
- Conta comigo, vieste falar com o atleta certo, vou sacrificar três domingos a ensinar-te a arte de dominar as bolas com os pés, - prometeu o Fininho. – Mexer nesse material com as mãos é padeleirice.
Com o agora Formador Fininho do Futebol PA veio também o estagiário, que esteve todo o tempo a tirar notas das prestações dos atletas. Mais tarde juntou-se a ele, para lhe dar apoio pedagógico, o mais coxo de todos os coxos, o Choné! Mas algo corria mal na formação. O Chico Paulo desde que trocara as chuteiras pelos ténis do Padel andava a marcar golos conscientes, em vez das tradicionais cabeçadas em situação de desmaio.
- Mas ele pensou no gesto que fez? – Inquiriu o formando Focas.
- Não é exemplo para ninguém, - explicou o Choné. – Anda a jogar com um equipamento inadequado ao Futebol PA, por isso todos os domingos marca golos.

Todos? Todos, não, neste domingo, vinte e seis de novembro do ano da graça de dois mil e dezassete, foi vítima de bolling por parte do Formador Fininho, que decretou mais uma regra enquanto o jogo decorria: “Mão Virtual”! Quando a equipa estava na eminência de sofrer mais um golo, uma vez que ele era a última esperança, eis que a bola lhe passa por cima do cocuruto, devido a cálculos mentais já afetados pela idade e, com as mãos nos bolsos, declara “mão”, a palavra mágica capaz de interromper uma jogada no Futebol P.A. O Chico Paulo, que já progredia a caminho da finalização, com os ténis padeleiros, e a deixar rasto no chão, sinal de que a Tenaleide estava solta, travou a fundo!  Mas a justiça desportiva foi logo de seguida reposta com uma cabeçada fabulosa do careca proprietário do “Noobai”, junto ao Adamastor.
- As entradas são de borla no jantar de quinta feira!
Este dia ficará para a História do Futebol P.A. como o lançamento da primeira pedra para um futuro museu da modalidade. O Fininho entregou ao clube as suas famosas meias com quarenta anos, que se assemelhavam já às de um forcado. Foi um gesto filantrópico do jogador de mais difícil cobrança! Mas houve mais! Pela primeira vez esteve presente um Psicólogo Desportivo, o Rato, responsável pela reintegração de antigas glórias que agora regressam de África à origem, como é o caso do Carlos da Tapada, que confundiu, durante parte do jogo, o Maninho Ensina com o Conan, não o Vargas, mas sim o bárbaro dos seus sonhos.
- Tirem-me deste lugar, o rapaz influencia-me negativamente!
Mas o Rato conseguiu produzir algumas abertas naquele cérebro cheio de buracos negros. Ficou a dúvida, se foi o psicólogo ou o efeito da falta de gás no filho do Choné, que ora vem com oxigénio ou com monóxido de carbono dentro da bomba, cujo enchimento é da responsabilidade do pai. A partir de meio do jogo o Maninho Ensina nunca mais passou pelo velho Carlos da Tapada.
Voltemos ao assunto principal, as meias quarentonas do Fininho! Foi sugerido um leilão, o Focas ofereceu cinco euros, e a reação do contabilista Peidão não se fez esperar:
- Esse é o preço no mercado livre para um jogo. O produto tem de render muito mais, tenho de recuperar para todos nós a dívida monstruosa do Fininho!
E havia razões para inflacionar aqueles trapos. Tinham com toda a certeza ADN do jogador, as novas gerações poderiam criar no futuro um clone deste Senhor do Futebol P.A., para que a qualidade da modalidade na vila de Paço de Arcos se mantivesse eternamente.