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315 estórias

Wednesday, December 21, 2005

O Cabo das Tormentas (Triologia) - I



                                                    Camarada Choco

                                           Triologia - O Cabo das Tormentas 
       
                                      Parte 1 - A Irmandade dos Mongas 
                                                                                     
                                                                                       

O Sol já ia alto quando os agentes da autoridade do sul do país, se depararam com duas jovens senhoras que caminhavam de joelhos no meio da estrada.
- Ò chefe, cuidado com as anoas que vão no meio da estrada.
O chiar dos pneus interrompeu a piedosa caminhada.
- Então, o que vem a ser isto ? – Perguntou, um pouco exaltado e a coçar os cornos doridos, o cabo da GNR, ao aproximar-se das donzelas.
- Falta muito para Fátima, senhor agente ?
- Para Fátima !?? A senhora está a gozar com a autoridade ?
- Então Fátima não fica perto de Porto de Mós ? Nós estamos a 5 quilómetros da vila, segundo aquela tabuleta – e apontou.
- Mas esta vila é Porto de Mós do Algarve e não Porto de Mós da região de Leiria.
- Meu Deus, e eu a confiar nas dioptrias da minha colega ! – Exclamou a outra caminhante.
- Mas, o que é que vos trás aqui, minhas senhoras ?
- Um cabo, um pequenito cabo – respondeu uma das anoas, levantando-se e ficando maior que o agente da autoridade, que antes falava para baixo e agora tinha de olhar para cima.
- Ajoelha-te, pecadora – disse de imediato a outra, puxando-a para a posição de beata.
- Eu !?? – Gritou o agente mais graduado. - O que é que eu tenho com isso ?
- Não é o senhor, é o nosso Cabo Pilas, que teve um treco em Lisboa e agora só funciona a carvão.
- É melhor estacionarem no passeio e explicarem-me o problema – ordenou o agente.
Depois de devidamente arrumadas, as peregrinas começaram a confissão.
- Senhor cabo da GNR, nós, humildes servas do Senhor, somos colegas de um Cabo, o Pilas, e cometemos terríveis pecados.

- Violaram-no ?
- Não, não. A minha colega, por Inveja, usurpou-lhe o lugar e mandou-o para o mesmo andar do da doutora, sem mongas. E eu, por Ganância, disse mal da Palmeira que ele rega todos os dias com muito carinho. Devido a estes monstruosos pecados, o nosso Pilas teve um treco depois de um traque..
- Um treco não – interrompeu a outra e continuou, - um RATÉ, e agora está ao nível da nossa colega dos têxteis, ou seja, mais para lá do que para cá. Pelo que nos contaram, precisa da ajuda dos tios para se sentar no bacio e, segundo o veterinário, apareceu-lhe mais um cromossoma no 21, ou seja, tem 4 cromossomas no par 21. No A E I O U, pára no I, e mesmo este tem dificuldade em pronunciá-lo. E tudo por culpa nossa ! Por favor, ajudem-nos, senão iremos directamente para o Inferno. Só Fátima nos poderá limpar estas almas desgarradas.
- Mas a culpa não é só nossa. A psicóloga da educativa confundiu-o uma vez com o monga do Kodac. O Cabo estava de costas.
- Então o que têm a fazer é virarem-se para Norte e continuarem a gatinhar.
Dito e feito. Os agentes ajudaram as donzelas a virar-se para a morada indicada, e com um empurrão puseram-nas em marcha piedosa.
- E se cagássemos para o Pilas e apanhássemos o comboio – disse a peregrina de óculos, de seu nome Pilca.

- Vira para lá essa boca pecadora – gritou-lhe a outra, de seu nome Tatrícia. – Temos de salvar o Cabo Pilas ou o demo tomará conta de nós.
- Mas, o Pilas valerá este esforço ?
- Não é o Pilas que está em jogo, mas o nosso futuro celestial – retorquiu a senhora Tatrícia.
- Pensa bem, ele está só um pouco fraquinho. E graças às nossas acções até tinha subido de andar. A culpa não foi nossa, mas dos ares da direcção.
- A culpa não foi nossa ? – Perguntou indignada a beata Tatrícia. – Eu corri com ele da sua salinha, tirei-lhe os mongas mais mongas que ele e pu-lo mais perto da doutora. Achas pouco ?
- Então se calhar a culpa é só tua, e eu não tenho nada a ver com isso, - disse dona Pilca, pondo-se de pé.
- De gatas beata, tu passaste estes anos todos a dizer mal da palmeira, ou do cacto, que ele lá tinha arrumado ao cantinho do quarto, e queres agora escapar à penitência ? Olhas que vais parar ao inferno !
- Ao inferno não ! – gritou dona Pilca, pondo-se de imediato de joelhos Avante para Norte.
E lá foram as duas almas gémeas desgarradas em direcção à salvação. Já iam em Alcácer do Sal, debaixo de um Sol infernal, quando madame Pilca viu um vulto ao longe. Levantou-se e correu na sua direcção.
- Pilas, Pilas, estás salvo, perdoa-me.
A colega tatrícia não teve outra solução senão levantar-se também e atirar-se ao pescoço da amiga.
- Pára mulher, pára. Não vês que aquilo é um bode velho. O Sol está a dar cabo de ti.
- Um bode !?? E eu a pensar que era o Pilas rijo que nem um nabo, a vir ao nosso encontro para nos perdoar dos terríveis pecados que cometemos.
- O Pilas !?? Ò amiga, ele quando se vê ao espelho, já só vê um ET de cor azulada. Nós demos cabo do Cabo, e temos de pagar por isso.
Mais à frente nova alucinação !
-É ele, é ele, está ali em cima a olhar piedoso para nós e a perdoar-nos, - gritou de novo dona Pilca, apontando para cima.
- Aquilo é um balão do”Batatoon” que foi largado por algum chaparrinho – desabafou a missionária Tatrícia. – Por este ritmo de visões, nunca chegaremos a Fátima.
- Mas porquê este “carma” ó Pilas ? O que te fizemos foi assim tão mau ?
- Foi péssimo Pilca, foi horroroso. Demos cabo do pigmeu, o pescoço dele agora está mais alinhado com a cabeça e as unhas dos pés estão azuladas. Já nem sei se Fátima será a nossa salvação!
- Vila para lá essa boca Tatrícia. Se não for Fátima, então o que será ?
- Meca, penso que só uma peregrinação a Meca é que nos irá salvar.
O dia tinha sido extenuante para as nossas heroínas da Roque Gameiro. Mal o Sol se pôs, já as duas dormiam que nem dois anjinhos querubins. Às duas da manhã o sono foi interrompido pelos gritos aflitivos de madame Pilca. O pesadelo tinha sido tão intenso, que fizera crescer um bigode tipo alentejano a esta auxiliar de meia idade.
- Foi horroroso, foi terrível, - contou a sonhadora. – Estávamos no inferno rodeadas de diabinhos com a cara do Pilas e cauda comprida. E para piorar a situação, eles tinham a forma de “Mon Chérris”.
- “Mon Chérris” !?? Um torresmo daqueles, com sabor a “Mon Chérri” !?? Estás a ficar Monga, o Cabo Pilas está a dar cabo de ti !


Fim da Primeira Parte

Segunda Parte – As Duas Peregrinas
Terceira Parte – O Regresso do Cabo

O Senhor Cagalhão

                        Camarada Choco
                                         Aventura 31

A luta do Choco tinha como fim a Igualdade e a Fraternidade entre todos os seres humanos que circulavam, dentro e fora de mão, na sua querida e amada Cerci: se havia senhores, também queria ser Senhor; se havia doutores sem canudo, também queria ser Doutor Sem Canudo; se havia gente com bigode, também queria ter Bigode...etc., etc., etc.
A fama da sua luta chegou ao Céu e este deu-lhe o maior dos presentes ! Não foi um “Senhor”, não foi um “ Canudo sem Canudo “, não foi um “ bigode “, foi....foi um “Soberbo Cagalhão”. E perguntam vocês, meus queridos leitores ( se chegaram até aqui sem fugirem do Choco, são seus amigos ! ): mas o que é que um Cagalhão tem a ver com a Igualdade ? Tem tudo. Foi por causa de um Cagalhão fresquinho, que o Choco conseguiu igualar a Tribo dos Desaparafusados à Tribo dos Aparafusados, juntando todos numa única: a Tribo dos Pioneses. ! A partir deste memorável acontecimento de Julho de 2003, a Raça Humana passou a ser uma e só uma. Passariam a haver Pioneses de todas as cores e feitios, mas só Pioneses. Tudo isto tem uma história por detrás, e é isso que eu vou contar:

A primeira pessoa a dar de caras com o intruso, foi a dona Espatinha. Ia calmamente desfardar-se, após mais um cansativo dia, dividido entre o Bar e a Sala de Artes Gráficas quando, dentro do balneário reservado aos funcionários, deu de caras com um objecto estranho junto a uma retrete.
- Uma Anaconda – gritou, correndo em pânico.
A Anaconda nem tugiu, nem mugiu. Pé ante pé, tal qual a Padeira de Aljubarrota, resolveu enfrentar a fera. Agarrou na primeira vassoura que encontrou, levantou-a bem alto e quando se preparava para desferir o golpe fatal, arrependeu-se.
- Calma Espatinha – disse de si para si. – O animal deve estar mais assustado do que eu, provavelmente fugiu de algum circo, e está agora ali quietinho e desesperado à procura de ajuda. Vou buscar uma gaiola !
Quando ia a sair do balneário, deu de caras com a madame Electrochoque.
- Electrochoque, está ali uma Anaconda. Toma cuidado.
- Ana quê !??
- Uma cobra, uma cobra muito grande.
- O quê, aquela torta castanha junto à pia ?
- Sim, sim, aquela torta.
- Na minha terra chamam àquilo um “ Valente Cagalhão “. Aqui em Lisboa tem um nome estranho !
- Cagalhão !?? Aquilo não é uma Anaconda ? – perguntou, indignada, a dona Espatinha.
Quando se virou para o animal, já a dona Electrochoque tinha o papel higiénico na mão e estava a levantar o intruso.
- Está quentinho ! O forno ainda deve andar por perto.
O entusiasmo era tão grande, que agarrou no Cagalhão Anaconda pela cauda, deixando a cabeça e o pescoço no chão.
Já perceberam porque é que este objecto tão popular, e com tantos nomes, se tornou num Facto Histórico ?
O Choco até aqui era classificado como um Ser Humano Desaparafusado, pois de cada vez que ia ao trono, deitava metade do conteúdo intestinal para fora, como ficou descrito na aventura “ Estranhos Perfumes “. Acusavam-no de sofrer um desvio anatómico no fim das costas e mais algumas coisinhas, e por isso atiraram-no, quando veio ao mundo, para a Tribo dos Desaparafusados. E agora ? Como é que os Doutos sem e com Canudos classificam o Dono ou a Dona desta Anaconda ? Naquele espaço só é permitida a presença de Aparafusados. E se também os há com desvios anatómicos no final das costas e mais algumas coisinhas, então são Aparafusados Desaparafusados. E não nos podemos esquecer que há Desaparafusados muito mais Aparafusados do que muitos dos Aparafusados. Portanto, a partir deste 25 de Abril de Agosto de 2003 só há Pioneses...ouviram bem....Pioneses.