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315 estórias

Sunday, February 04, 2018

A Zaragata







O Comandante Guélas
Série Paço de Arcos
Futebol P.A. 37



Esta é uma estória de dois domingos, o último de janeiro e o primeiro de fevereiro do Ano da Graça de Nosso Senhor Isaltino. O Futebol P.A. sempre foi uma atividade desportiva em que a originalidade o torna exclusivo. No primeiro domingo assistiu-se a uma auto expulsão, o Burren chegou a uma altura do jogo e teve consciência do seu défice grave na condução do esférico, que se agrava assustadoramente à medida que acumula aniversários, e auto puniu-se:
- Vai-te embora os velhos estão a dar-te um bailinho, e não é o da Madeira , - soprou-lhe ao ouvido um Burran Vermelho sentado no ombro direito do atleta.
- Ele tem razão, - confirmou o Burran Branco.
O Burran não é com toda a certeza um “portento do Entendimento”, como classifica o Choné o Carlos da Tapada, mas sim um “buraco negro”, que absorve a bola e só a larga após explodir, altura em que acusa os colegas de não usarem a cabeça para finalizar a jogada. Durante um ano deixou de comparecer no Futebol P.A., para gláudio de todos, indo fazer carreira no futebol universitário, de onde rapidamente foi expulso, ingressando nos jogos intelectuais de quinta feira, a “elite”, segundo classificação do Caramelo, onde se formaram expoentes máximos na arte de dominar as bolas, muito bem representados pelo Carcaça. No segundo domingo a estória foi outra, faltavam cinco minutos para o meio dia e só estavam presentes dois expoentes máximos da velha guarda, o contabilista Peidão, já antevendo prejuízo, e o dono do restaurante oficial do Futebol PA. Do Fininho nem vê-lo, deu assim a terceira falta consecutiva, o Chico Paulo ficou a ensaiar para o Carnaval de Ovar, e do Preto nem a própria família sabia. Apareceu o tio Kiki e o pai do Balotelli. Da família Marinheiro, que tantas alegrias deu à modalidade, nem sinal. Jogou-se por isso no campo pequeno! Foi a família Choné que tornou possível o encontro: Tarolinho, Paulão, Maninho Ensina e Goucha! Com desconto de ninhada o pai poupa no ginásio. Mas todos juntos num espaço tão pequeno é um risco. Os matulões envolveram-se em confronto psicológico, que foi aproveitado pelo mais pequeno, o melhor marcador do jogo, apesar de calçar umas chuteiras que se foram desfazendo ao longo do encontro, até que os sábios ameaçaram fazer queixa ao pai caso o quid pro quo evoluísse para uma modalidade ainda mais dura. Mas como o progenitor anda numa de filosofia, todos imaginaram que a intervenção não fosse além de um discurso do método:
- A verdade corresponde às convicções duma maioria, num determinado grupo e num tempo. Por exemplo, quando estou sozinho, tal como o Marinheiro pai, acredito que tenho uns filhos exemplares.
Como a equipa do Peidão cilindrou a do pai do Balotelli, a vitória foi de imediato entregue ao Fininho, o jogador que nunca perde!