Comandante Guélas
Série Paço de Arcos
A zona mais
famosa de Paço de Arcos já deu pelo nome de Fontainhas podendo dizer-se que
existe uma “Geração Fontainhas”, que representa o produto da transição entre os
“bons costumes” do Antigo Regime e os “livres costumes” da pós-Revolução. Foi
numa bonita noite de Verão que o Gang de Meninos Ricos e Caucasianos resolveu
presentear todos os automobilistas que circulavam na Marginal com um
enforcamento! O local escolhido foi a entrada de cima, pois havia aí uma árvore
ideal para pendurar a corda, e uma sebe para esconder as pernas. O Bernardo pôs
à disposição dos amigos o seu pescoço e trepou para cima de uma pedra que o
Charlot entretanto tinha deslocado até ao local. A corda foi gamada de um dos
barcos que estavam perto e começou a preparar-se a cena da execução. No palco apareceu
metade do enforcado, com a cabeça à banda e a língua de fora. Um, dois,
três….ACÇÃO!
Passou o
primeiro, passou o segundo, mas não passou o terceiro carro, que fez uma
travagem tão brusca, que ia provocando logo ali um acidente. O “defunto” nem se
mexeu, tal era a convicção. O condutor saiu do carro pé ante pé, não fosse
acordar o “morto”, mas não passou do passeio, talvez com medo de incomodar o
eterno descanso daquela costeleta que não abanava, apesar de estar uma noite
muito ventosa. A seguir parou outro, e outro, até se formar uma pequena
multidão. O “zumzum” da assistência abafou um flato inconveniente do “morto”.
- É melhor
chamarmos a polícia, – disse alguém.
Mas naquela
altura chamar a polícia era um pouco arriscado, pois à noite os agentes não
gostavam de ser acordados, e logo por causa de um mero presunto atado a uma
árvore, que nunca iria fugir.
- Mas primeiro
vamos tentar salvá-lo, – aconselhou alguém de dentro de um carro, e já com
meia-hora de espectáculo.
Quando o
Bernardo já estava a ficar com “cãibras” e à rasca para fumar, alguém avançou
decidido para o enforcado, de apelido Sá. A alguns centímetros do artista e ao
preparar-se para lhe tirar a pulsação, deu-se o milagre: o presunto puxou dum
cigarro e pediu-lhe lume. O cagaço do herói foi tão grande que quase ficou ao
colo do que estava atrás. Por momentos parecia que estavam todos num velório.
Mas depressa o terror se transformou em ódio e gritaram:
- Cabrão!
Foi o sinal de
alarme para o ex-enforcado, que largou o púlpito e deu corda aos sapatos, indo
no seu encalço uma multidão de fãs enfurecidos, decididos a fazer-lhe o
funeral.
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