Comandante Guélas
Série Colégio Militar
O dia começara com o professor de Educação Física Isménio
Tadeu a contar a estória do costume aos seus alunos:
- Não pensem que eu vos mando correr só porque vos quero
chatear. Faz bem à saúde. É por isso que eu deixo sempre o eléctrico arrancar
para depois ir a correr apanhá-lo.
Mas esta aventura tem como cenário a noite.
Estava o oficial de dia a preparar-se para a tradicional
soneca após o toque de recolher, quando tocou o telefone.
- Quem será o chato? – Desabafou o Ananás tirando as botas de
cima da mesa.
- Meu tenente, daqui fala da portaria, - disse o Chico tão de
rajada que o Maná teve a sensação de apanhar com perdigotos.
- Calma homem, mas afinal o que é que se passa? Não me diga
que o 33 está aí outra vez na portaria em cima duma Panhard, como no 25 de
abril?
- No gabinete do sub está…..
- O que é que se passa no gabinete do sub a esta hora da
noite? Estão lá alunos, foram fazer uma visita?
O tenente Ananás ouviu uma voz, destoada e áspera,
saíram clarões raros das profundezas do telefone.
- Chico, não digas que me vais
obrigar a ir aí? Explica-te de uma vez por todas, – pediu o ex-aluno 78, agora
no papel de cão.
- Vê-se tudo, a luz está acesa, -
explicou o funcionário olhando para as janelas espelhadas, que de noite eram
transparentes.
- Vê-se o quê?
- Uma senhora no gabinete…
- E??
- Está de cuecas…
- Cuecas? Uma senhora de cuecas
no gabinete do sub a esta hora?
- …e de botas altas!
- Cuecas e botas altas?
- Só ela?
- Estão a correr…ele vai atrás
dela. Vê-se tudo!
- Ele? Ele quem?
- O sub…está a brincar aos índios
com uma senhora. Vê-se tudo!
- E o que é que queres que eu
faça?
- Telefone e diga-lhe que se vê
tudo cá fora com a luz acesa, - gritou o Chico da portaria.
O tenente Ananás ouviu uma tosse
surda, seguida de um silêncio denso. Esperou. Era um silêncio cheio de gritos.
Imaginou o que se estava a passar na outra ponta do colégio, nesta noite muito
escura. Olhou para a parede do gabinete e fez um pequeno filme, daqueles que o
padre Viana escolhia para as noites no teatro D. Luís Filipe, oferecido ao Real Colégio Militar pelo rei Dom Carlos no primeiro centenário da sua fundação. Via o superior hierárquico com chicote
- Chico, não lhe vou telefonar. Ele que
continue a coboiada!
- Mas, meu tenente. E eu? O que é
que faço? Vê-se tudo…estão a correr pelo gabinete à roda da secretária.
- Eles hão-de cansar-se!
A senhora de cuecas e botas altas,
perseguida por um militar desaçaimado, não era a Macaca, a administrativa que um dia proporcionara umas férias antecipadas ao
125, 157, 191, 601 e 653, pois ousara pôr gasolina no seu Fiat Coupé nas bombas
junto aos claustros, tendo ouvido vários miminhos de uns adolescentes nas
janelas do primeiro andar.
O Chico desesperava, mas ao mesmo
tempo deliciava-se com o que via, dir-se-ia que o Olímpia e o Odéon, onde
costumava encontrar muitos Meninos da Luz fugidos ao colégio, pela porta da
Falca (Enfermaria) que dava para o exterior e encontrava-se sempre fechada no
trinco, estavam a projectar o filme para adultos na parede branca do Zimbório.
O dia já tinha começado com a queda do padre Valdomiro, também conhecido como Baldomijo, na sua Lambreta, que
dissera que vira a “Luz” antes de cair, e agora quando se preparava para tirar
uma soneca na portaria, um artista resolvera trazer uma amiga de fora para
cavalgar no gabinete. Não teve outro remédio do que passar a noite na rua a
afastar as pessoas que passavam junto ao portão.
Dallas Cowboy - Camarada
Choco & Comandante Guélas: Dallas Cowboy
A Noite de Núpcias - Camarada
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A Sexualidade da Luz - Camarada
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A Rosa da Luz - Camarada
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