Comandante Guélas
Série Colégio Militar
O Colégio
Militar definia hierarquias e domínio, mas mais do que isso criava espaços de
amizade, solidariedade, aprendizagem, iniciativa e coragem. Assim “toda a sela”
era prenúncio de queda do cavalo. Por isso "sobrevivência" dependia da ordem de chegada, e quando o toque da corneta avisou o fim
da aula a turma saiu a correr em direção ao picadeiro, sem se despedir do docente,
que preferia vê-los bem longe. Saíram todos? Todos não, o 601 ficou retido pelo
professor de matemática, disciplina que não era muito do seu agrado, e com a
qual a partir desta data iria cortar definitivamente as relações. O tenente coronel
Cabedo já estava no colégio e tinha trazido, mais uma vez, o Lamborghini do
irmão, que roncara na reta para o ginásio. Estava a fazer galopes curtos com o Flipper quando os alunos chegaram. Alinhados numa das paredes do picadeiro, guardados
por soldados, estavam os cavalos do costume: o Salame, a Nono, a Rata, o
Quadrado, o Alfange, o Eusébio, o Patacho, o Vapor, a Quirina, a Tangerina, o
31, o 48…
A Nono teria de
ir no fim da fila, apesar de ser muito mansinha, pois não aceitava ter colegas
a apalpar-lhe o traseiro, respondendo sempre com fabulosos pares de coices. E o
Salame gostava de dar-lhe dentadinhas na garupa, nunca de soube se de amor ou de ódio, sem contar com as cangochas inesperadas
que atiravam sempre ao tapete o aluno mais distraído. Na Rata bastava um toque
nas vértebras sacras para que ela se empinasse. O Quadrado já tinha no
currículo o braço partido do 80, o Alfange também dava coices, o Eusébio, todo
branco, tinha mau feitio, o 31, também conhecido como o Cabeça-de-Mula, não
perdoava uma, enfim, eram todos “bons equinos”. Na semana anterior o 581 e
outros colegas tinham tido uma aventura alucinante, quando receberam ordens
para levar uns quantos cavalos ao hipódromo do Campo Grande. Saíram pela
Estrada da Luz e embrenharam-se pela 2ª circular, misturando-se com o trânsito
caótico. Na zona do Estádio Universitário, com bermas largas de areia e ervas o
instrutor deu ordem de “galope”, e foi nesta altura que o cavalo do 581
desembestou, só parando quando chocou contra a rede que delimitava o espaço
desportivo. À chegada ao local ainda houve tempo para patinagem, nos paralelepípedos
que forravam a estrada. Mas a aventura do 317 também era digna de registo, pois
recebera ordem do Ataíde para ser o fila-guia ("muito bem, agora A-H") e descer as bancadas do campo
de futebol com o Quadrado, que na semana anterior partira o braço ao 80 (Camões), depois de ambos terem levado, ainda dentro do
picadeiro, uns valentes coices da Nono que aparecera, sabe-se lá porquê, com o 298 a tentar chamá-la à razão, após
um galope muito confuso, de frente, aproveitando a ocasião para cumprimentar o
colega e o seu jovem cavaleiro. O cavalo do 317 estava zangado com a “rapariga”
e quem levou com o mau feitio foi o aluno que, no momento em que descia as escadas do campo de futebol foi literalmente cuspido pelo equino de encontro ao chão duro, tendo sido esta a quinta e a derradeira vez, pois o traumatismo craniano não o deixou prosseguir carreira. Mesmo assim ainda montou com o Ataíde aos berros. O 467 era um ás na “arte de bem cavalgar toda a sela”, por isso
tinha sempre a mania de inventar, recebendo com frequência um cartão amarelo do
instrutor:
- O senhor está
a mijar fora do penico!
O 601 nem queria
acreditar quando entrou na aula de Equitação e viu que só sobrava um cavalo, o
Cabeça de Mula, também conhecido como o 31, propriedade da GNR e rejeitado por
esta para o ensino dos seus homens, mas adequado, sabe-se lá porquê, aos Meninos
da Luz. Empinou três vezes durante a aula, e à terceira foi de vez, o Gordini
sentiu no lombo a textura e o cheiro da serradura que forrava o picadeiro.
A Liga Anti-Cavalo - Camarada
Choco & Comandante Guélas: A Liga Anti Cavalo
Único & Única - Camarada
Choco & Comandante Guélas: Único & Única
Simplesmente Vapor - Camarada
Choco & Comandante Guélas: Simplesmente Vapor
No comments:
Post a Comment