O Comandante Guélas
Série Colégio Militar
Nestes
tempos de mudanças rápidas, pensar que virá o dia em que poder-se-á entrar
aluno e sair aluna, caso as histéricas melancólicas de juízo curto, incapazes
de suportar a tensão das suas impotências e tormentas, cujos casais de referência
são o Romeu e Júlio, ou Mariana e Filomena, vençam, atira por terra o último
dos mandamentos do Colégio Militar: pegar de empurrão só para lá dos muros! O 205/1882, futuro pintor e poeta da geração de Fernando Pessoa, que será expulso em 1888 por ter chumbado, revelou mais tarde na sua autobiografia que se tinha tornado "muito onanista" e fumador neste espaço educativo. Por
isso quando o Jerónimo, que da Luz não percebia nada, deu de caras com o anúncio
escrito no papel que forrava a bandeja do buffet do Continente, “café procura
pastel de nata para relação própria”, decidiu-se pela demissão, assim o
obrigavam as palavras inconsequentes do Grilo, “carinhos, drogas e roubos, não
são admissíveis neste espaço educativo”! O sub andava aos papéis, punha uma
tradição, o “gamanço”, no mesmo saco do “montanço”, e isso era um ultraje. Sem aquelas
atividades de “desenrascanço” não haveria “firmezas”, “apresentações à alvorada”,
e outras brincadeiras exclusivas deste espaço militar, onde tudo começava aos
domingos à noite junto à enfermaria, com os graduados a fazerem uma operação
stop à bolama e ao tabaco, que rapidamente passava das cuecas dos ratas para os
bolsos educativos dos estrelados, sem que estes atos fossem ilícitos e muito menos considerados
carícias. Quanto aos “charros”, por lá andaram nos anos quentes da revolução,
para aquecerem a malta alucinada pelos ideais revolucionários, que também quiseram
transformar em borboletas estes meninos de “tosões de oiro”! Ainda o ano vai a
meio, e o “Rei das Fadas”, ao contrário da Cinderela, mal consegue transformar
o primeiro “a” da segunda palavra num “o” após o toque do recolher, mesmo já
depois de um e uma camaradas terem sido apanhados a serrar na sala de leitura
da quarta, e a intoxicação colegial está de volta, mesmo com a Aberta já longe
da Luz e perto de Évora, e o onanista primário do Alguidar algures a tentar conservar
o tacho que lhe está a escorregar pelos entrefolhos. Nestes tempos tão sensíveis,
em que comentar um hipotético olhar de soslaio para uma bilha, tapada ou
escancarada, abre mais uma caixa de Pandora, os antigos da “Geração Rosa” deverão
ajoelhar-se e agradecer-lhe pelas horas íntimas em que esgalharam
freneticamente os frangos, cada qual com o seu, olhando babados para uma “Gina”
gamada, onde uma sueca, sem necessidade de charros, ficava com a cara da musa,
dava aso à imaginação dos imberbes vestidos de cotim. Arrependam-se aqueles que
numa noite tentaram estragar-lhe o bem que, por ser imaterial, pertencia a
todos os sonhos, e cujo efeito secundário não passava de umas almofadas rotas
ou umas molas frouxas. Orgulhem-se aqueles que “em campos de glória fulge”
montaram o Tangerina, o Quadrado, o Alfange, o Eusébio, o Vapor, o Patacho, que
vos deixaram com calos perpétuos nas bilhas, ou os outros que, “com ardor
guerreiro”, manusearam com brio as Mannlicher, ou que
sopraram com “engenho e arte” nas flautas colegiais, servindo hoje, como no
passado a deusa Minerva!
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