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315 estórias

Tuesday, November 08, 2016

O Polvo

O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol P.A. 5

 
Dizem que o Padrinho, sem contestação, é o mais relevante teórico do futebol paçoarcoense, e isto significa saber jogar num campo de polémicas e batalhas.
- “ Para tua informação o resultado do próximo jogo é de 6 – 3”, - escreveu o cidadão português Fininho, autóctone de Paço de Arcos, no whatsapp às 11 horas e quarenta e seis minutos do dia 7 de novembro de 2016, segunda feira.
A ameaça era para ser levada a sério, foram por isso informados aqueles em quem a vila ainda pode confiar: o Sobrinho da Uber, dono do espaço desportivo, e o Bill, o jornalista mais idoso do grupo, caso o Sete Escadas da “Voz de Paço de Arcos” não venha de boleia com o suspeito. E a provocação continuou:
- “O Milhas é da tua equipa e marca dois golos na própria baliza”!
O Preto teve mais uma das suas habituais amnésias na distribuição dos coletes, e enviou o Johnny Bravo, descendente do Focas, para a equipa adversária, onde esteve a maior parte do evento preocupado em fazer posições de Culturismo, do que em jogar à bola:
- “Tio, gostei muito da sua companhia, hoje”! – Escreveu às 0 horas e 22 minutos ao Fininho.
Recebeu de seguida um elogio, que expressou a sua satisfação pelo golo que o sobrinho lhe marcou, e que ninguém viu, e a promessa de o escolher para a sua equipa no próximo domingo. O complot iniciou-se às 5H53 da manhã do dia do dérbi, quando o Chico Paulo enviou uma mensagem encriptada:
- “Já cá estou, sou o último a ir à baliza”!
Os amigos ficaram a saber que acabara de retirar a “Tena Lady”, atirando com os indícios de dopping para o caixote de lixo, mas acabou por ser traído em campo com um gesto técnico que contraria toda a sua carreira futebolística, que pôs em evidência o seu estado de sonambulismo, um golo de cabeça após uma elevação à Ronaldo. E houve mais! O Milhas, contra todas as expetativas, e talvez já as regras, fez parte da equipa do Fininho, e não se zangou, nem com o vento, nem com a relva, nem com os colegas, prova de que foi um jogo atípico. O Tarolo, vá-se lá saber como, trouxe nos pés as chuteiras do pai, que estava naquela altura a trabalhar no embarque do avião para Istambul, e conseguiu trocá-las com o Bill, por isso todos os remates que fez fizeram a bola subir na vertical. Quanto ao jornalista, até jogou com algum bom senso, sinal de que as chuteiras do engenheiro podem ser uma mais valia na sua já ténue carreira futebolística. O Rato veio de novo a jogo, na bancada, e trouxe um amigo, o Má-Cara, que tentou publicitar a sua pretensão de formar uma escola de Padel, esquecendo-se de que estava a falar com jogadores que toda a sua vida usaram as pernas, apregoando ser uma modalidade amiga da saúde, mesmo tendo um braço enfaixado. E tudo isto desestabilizou aqueles que estavam destinados a perder. Sabemos já qual é a tática do Fininho, causar discordâncias através da introdução de leis complexas, com uma esquemática de simplicidade, que influência sempre o jogo de muitos, levando-os a praticar mais Padel do que Futebol. Quando está perante uma derrota iminente, passa a praticar um futebol de envolvência, reclamando penaltis sucessivos. Dizem que o jogo deste domingo, dia 6 de novembro do Ano da Graça de dois mil e dezasseis foi “limpinho”, “limpinho”, “limpinho”, porque desta vez o Fininho foi subtil na manipulação da constituição das equipas. É pois muito importante causar-lhe rapidamente uma derrota humilhante, ou ficaremos reduzidos a meros jogadores de Padel.

Monday, October 31, 2016

Vai com ele, vai com ele!


O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol P.A. 4



A tradição já não é o que era, a vitória já não chegava a quem se regia pelas leis, mas sim a quem ditava as leis, a quem as impunha aos seus adversários. Na bolsa de jogadores quem aposta no Fininho ganha sempre, por isso o Brinca na Areia já não é o seguro de vida para a vitória, e tudo isto desde o “Caso Lagoas Parque”, quando o suspeito trouxe o Sete Escadas, o veículo da golpada, um jogador descendente dos tripulantes da nave do “Caso Roswell”, segundo teoria do jornalista Bill, que causou danos existenciais em todos os atletas. A sua influência põe em risco a harmonia destes quarenta gloriosos anos, enchendo de vergonha os seus ancestrais, o Choné e o Miguel CG, que dão agora os primeiros passos na arte do Bocia paçoarcoense, antevendo um futuro glorioso no campo do lado. Será agora mais sensato escolher, logo após a saída da pedra, um velho com mais de meio século, que antes vinha no fim por exclusão de partes, a um “tenrinho”, classificação da tabela do “Capitão Porão” que ainda se mantem em vigor, assim como a mão na grande área significa livre indirecto fora dela. Este domingo solarengo esteve a favor do Fininho, a hora mudara, mas ninguém sabia em que estado viria o relógio dele? Marcaria um golo e daria por finda a partida, alegando falta de visibilidade como era prática antiga, ou aceitaria a lei, e a hora seria a oficial? Quando o pai e o filho marinheiros apareceram com chuteiras amarelas, uma bola de berlinde como esférico oficial e luvas estilo barbatanas para o guarda redes, o Bill, jornalista dos angolanos, com pouco faro para o jogo, mas muita intuição para as notícias, desconfiou, o colega da TVI, o único jogador que mantinha o penteado do princípio ao fim, sinal de que não usava a cabeça para nada, típico dos atletas da família, preparava-se para prometer uma entrevista exclusiva ao Pedro Dias no final da partida, e por isso a gestora espanhola, que não percebia nada de números, oferecera-lhe a ele e ao pai umas faluas cor de canário. A tradição mantinha-se, o Milhas mandou vir com o Peidão por causa da equipa:
- És sempre enganado, eles só têm dois velhos, o Fininho e o Marinheiro pai, o resto é só malta nova!
Ficavam de fora da contagem do jogador mais complicado de todos os tempos os adolescentes Laranja e To Zé! Após os primeiros vinte minutos de jogo já todos sabiam que a vitória não iria fugir à equipa adversária do Fininho. Puro engano! A uma dada altura da partida deu-se o incidente habitual, que faz sempre mudar o destino do encontro, mais uma vez protagonizado entre o senhor todo poderoso do Lagoas Parque e o infeliz do árabe, que na semana anterior tinha sido atirado de pantanas pelo ar. O marcador anunciava um resultado de 4 a 6 quando o Fininho se atirou de encontro ao Milhas, mas este protegeu-se miraculosamente, atirando com ele de encontro a uma parte macia do campo.
- Blasfémia, blasfémia, - gritaram os seus jogadores, exigindo um penalti duplo.
O Fininho tinha sido atirado para longe e jazia no chão com um ombro inconsciente. Durante algum tempo pareceu-lhe ouvir o barulho da carroça do senhor Bazílio a sair da carvoaria na Avenida, para mais uma distribuição de carvão pela zona. Abriu os olhos e viu-se rodeado da Amélia, da Terrugem de Cima, e das suas seis filhas, a Isabel, a Maria de Lourdes, a Rosalina, a Graça, a Arminda e a Maria Adelina, que lhe diziam:
-Acorda Fininho, estás a perder, precisas de repor a verdade do jogo!
Ao Peidão tinha-lhe saído a pedra, mas mesmo assim jogou a maior parte da partida com menos um jogador, sinal de que aqui também havia mão do Fininho, especialista em rapto de jogadores. A verdade do jogo só foi reposta quando o pai Marinheiro fez “auto-falta” e lesionou-se, sendo obrigado a recolher ao banco. As equipas estavam finalmente com o mesmo número de jogadores. Quando o Fininho ressuscitou, todos esperavam pela pesada sanção, mas surpreendeu os presentes com um veredito invulgar:
- Não foi falta! – Disse, piscando o olho ao Bill.
Não foi falta, mas foi golo cinco minutos depois, após um alívio suspeito do amigo dos angolanos: 5 a 6 no placar! Mas os festejos duraram pouco, um contra ataque da equipa mais poderosa, em que o apelo desesperado do adolescente Laranja a um companheiro, “vai com ele, vai com ele”, e apontou para o Espalha, fez com que todos corressem na direcção do sobrinho da Uber, abandonando o portador da bola, que se limitou a chutar o esférico para o fundo da baliza. Durante toda esta dinâmica futebolista o jornalista da TVI esteve mais preocupado em manter o penteado intacto para a chefe Judite. Durante a ausência do maestro, até o pacato To Zé simulou uma falta grave na grande área, acusando o mártir Milhas de uma agressão violenta, parando o jogo e evitando um golo iminente do referido árabe, que enrolou a língua nas cordas vocais e repetiu a frase de protesto várias vezes, acabando por isso de ganhar mais uma alcunha: Papagaio! E antes de dar por terminado mais um relato dos vergonhosos acontecimentos, o Chico Paulo demonstrou, mais uma vez, estar do lado dos inimigos ao permitir dois frangos monumentais que deram a vitória ao Firmourinho. Como prémio de consolação regista-se o monumental golo familiar protagonizado por dois soberbos jogadores, o Zé Miguel e o Peidão que, após o grito de guerra “passa a bola ao papá”, o veterano enfiou o berlinde dentro da baliza adversária com o pé esquerdo. Espera-se que no próximo encontro a verdade do jogo seja reposta, como é apanágio de um Estado de Direito Democrático!

Thursday, October 27, 2016

O Semita


O Comandante Guélas

Série Colégio Militar


A essência do CM é possível captar através das nossas memórias, transformadas em estórias. Contava a lenda que Amílcar Grijó, professor de Físico-Qímicas, mais conhecido por Semita, viera para o Colégio Militar após uma expulsão das minas da Panasqueira, de onde tinha sido corrido com uma “bengala” por ter feito mal os cálculos da dinamite, e por isso rebentado com uma galeria. E isto teve consequências devastadoras na personalidade do engenheiro, pois nos dias de trovoada as aulas acabavam logo com o estrondo do primeiro relâmpago. Era senhor de um nariz adunco, tinha a voz rouca e um cabelo amarelado, não se sabendo se estas duas últimas características se deviam aos efeitos da explosão. Porque sofreu violentamente na alma, fez sofrer os seus alunos que, apesar de tudo, se lembram dele como se fosse hoje. O Volvo 130 azul já há muito tinha sido estacionado junto ao pavilhão de Desenho e Trabalhos Manuais quando se deu uma explosão lá para os lados do laboratório de Química, junto à Enferma, seguido de uma reprimenda monumental do Semita:
- Ó Morais, és um bronco, disse-te para cortar mais fininho o produto! – Gritou o professor para o seu assistente, o Ruca ou Fiasco.
A gargalhada foi geral e acompanhada de ruídos de animais, por isso o Semita retaliou de imediato, distribuindo ponteiradas e gritando:
- É gado, é gado, nesta aula uns dormem de olhos fechados e outros de olhos abertos, - e continuou. - Tenho aqui as vossas notas, que são uma miséria - e olhou para o 668. – Moço, sabes andar de bicicleta? – Perguntou, ajeitando o cabelo.
- Sei! – Respondeu o Peida Gorda.
- Então vais levar uma “bicicleta” – disse, com a voz rouca que o caracterizava, e continuou. – Ó moço, tu não tens memória, tu tens uma vaga ideia. - 666?
- Aqui!
- Levas para casa uma “bengala”, quando fores velho vai fazer-te muita falta. Oube lá ó mocinho, tu percebes tanto disto como o sapo tem cabelo. Já viste algum? Ora aí tens! 384?
- Sou eu.
- “Bicicleta”! Psché, num monte de esterco fazes nódoa.
- 125 e 120, moços vocês tiveram 10, 5 para cada um! Ó moço, tástarrir? Anda aqui à pedra e escrebe-me aí bismutato sulfídrico.
- Bis quê? - Perguntou o 151.
O Semita deu-lhe o teste e comentou:
- Ó moço, tibeste Piiiii! Uma garrafinha de binho chega perfeitamente para duas pessoas, desde que uma não beba, ha, ha, ha! 
Quando entrou na sala de professores, após o final da aula, o assunto do dia era a derrota do Futebol Clube do Porto frente ao Sporting, por isso aproximou-se do Pereirinha e do Santana e gritou:
- Senhor tenente-coronel, vá para o caralho, - e saiu.
Regressou de imediato:
- Senhor tenente-coronel, olhe que é facultativo!
Mas o dia não estava a correr bem para o Semita. Foi desafiado para uma partida de xadrez pelo engenheiro Casanova, e algum tempo depois reagia no decorrer da partida:
- Não jogue assim, porque senão ganha-me, - avisou, já um pouco exaltado.
- Mas eu jogo mesmo para ganhar! – Retorquiu o adversário.
Não era esta a resposta que o professor de Física e Química, que obrigava os alunos a decorarem a Tabela Periódica e as Leis de Kirchoff, desejava ouvir. O seu pensamento estava agora a caminho do centro da noite, rodeado por um nevoeiro espesso, tentando encontrar um interruptor que acendesse uma luz. Mas a jogada do adversário precipitou as coisas:
- Xeque ao rei!
Com a mão esquerda o engenheiro Grijó, que era senhor de um grande livro de exercícios resolvidos que nunca ninguém conseguira deitar a mão, virou as peças do tabuleiro e retaliou:
- Ainda se lembra da jogada?
Apercebeu-se que já estava atrasado quando ouviu o segundo toque para o início das aulas. Correu de imediato para o pavilhão de Química mas a turma evaporara-se, excepto dois artistas, o 191 e 591 que, sabe-se lá porquê, acabaram interceptados pelo docente, e levados compulsivamente para a aula, onde foram confrontados com uma situação inesperada:
- Vou fazer chamadas orais, aleatoriamente! – Disse o professor que costumava contar aos seus alunos que quando tinha a idade deles cuspia no pão que levava para a escola, para que os colegas não o comessem.
À tarde ainda participou numa partida simultânea de xadrez, Semita versus Alunos e, pela primeira vez na história deste estabelecimento militar, um aluno ganhava terreno ao professor de Físico-Químicas. Mas foi sol de pouca dura. Com um golpe “acidental” da sua gabardine, o engenheiro Grijó acabou com a ousadia do atrevido, espalhando as peças sobre o tabuleiro. A assistir à cena, e perto da derrota, estava o 15 que, aproveitando a sabedoria do mestre, deixou cair o barrete sobre a zona do jogo. Foi a única vez que se ouviu um elogio do senhor da Panasqueira:
- Moço, essa foi a melhor jogada que fizeste até agora, - exclamou, avançando para o aluno do lado. 




Wednesday, October 26, 2016

Obrigado Zé!

O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol P.A. 3


No futebol de Paço de Arcos não há detalhes supérfluos, tudo é significante, nada é natural ou está lá por acaso. A suspeita estava lançada, a corrupção tinha chegado ao futebol de domingo, o Fininho, agora mais conhecido como o Pinto de Paço de Arcos, andava a ganhar todos os jogos, conseguia transformar derrotas óbvias, em vitórias impossíveis. Mas na última partida os indícios foram tantos, que as dúvidas transformaram-se em certezas para o único jornalista presente, o Bill, que já comemorava efusivamente o 4 – 2, quando foi perder 4 – 5, uma reviravolta que começou com um gravíssimo atentado contra o jogador mais complexo da liga paçoarcoense, que surpreendeu os colegas e foi motivo de júbilo do corruptor principal. O Milhas foi literalmente atacado na grande área adversária pelo senhor doutor, rodopiou no ar, aterrou com estrondo na zona mais pelada, sinal de que o gesto que o derrubou fora premeditado, gritou como uma tempestade, pondo as sobrancelhas oblíquas, comportamento habitual desde a adolescência quando entrava em situações de stress, e ouviu a música de uma trombeta. Entrou num estado psicótico, atirando relâmpagos sobre o agressor e olhou para o espaço entre os seus pés, sentiu que as palavras dos amigos estavam a ficar fora do lugar, estava rodeado de sons, imagens, palavras, coisas, atmosferas, ideias, sentimentos, miragens, deu de caras com a Quitéria Barbuda a fazer compras no “Severino Seco”, onde pedia 10 tostões de manteiga, meia quarta de café, uma quarta de arroz, ao mesmo tempo que punha uma garrafa vazia em cima do balcão. Ainda teve tempo de ouvir o senhor Fernando a perguntar-lhe com um ar de gozo:
- É para pôr petróleo?
Regressou ao campo, atordoado pelo turbilhão de incontáveis “Obrigados Zé”, e ainda teve tempo para deixar sair uma indignação exclamada de impropérios e gritos, quando o todo poderoso Fininho aplicou a pena máxima: um penálti sucessivamente repetido até ser falhado pelo Tarolo Neves! E como quem não marca sofre, o Chico Paulo fez de seguida um auto golo (4 – 3), mudou para a equipa adversária, ficou no mesmo sítio, desmaiou e enfiou a bola no fundo da mesma rede (4 – 4). O último golo ninguém o viu, mas foi declarado válido pelo Presidente Vitalício do Conselho de Arbitragem, o sempre presente senhor Pinto de Paço de Arcos (4 -5)!

Monday, October 17, 2016

O Sete Escadas

O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol P.A. 2


No “Grupo de Futebol de Paço de Arcos” (GFPA) nunca existiu limite de idade, e os mais novos iniciam-se quando o tio Fininho autoriza, que o diga o filho do Toguinha, logo baptizado pelo proprietário do espaço com um nome nada apropriado para um rapazito à porta da adolescência, que o pai insiste em traze-lo equipado com as cores do Sporting, e que tem como referências o Ronaldo e o Figo. E o Espalha, sem qualquer tipo de sensibilidade futebolística zás, “Violeta”! Quem entra recebe logo uma alcunha, que o diga o Caramelo, que ainda tentou reagir, mas depressa se apercebeu da tarefa impossível, pois durante os noventa minutos foi bombardeado com “larga a bola Caramelo”, “passa a bola Caramelo”, “chuta Caramelo”, e outros miminhos paçoarcoenses. E nestes tempos de tecnologias, quem entra no whatsapp “Bola PA”, com administradores exclusivos, nunca mais de lá sai, mesmo que o tente, que diga o Velinho, que joga de longe, e já tentou fugir várias vezes, por estar à beira de uma expulsão colectiva para o “Lar dos Acólitos Anónimos”, pela mulher e pelos filhos, fartos de ouvir os toques das intervenções a entrarem em catadupa pela madrugada adentro. De cada vez que saiu houve uma manifestação pedindo o seu regresso. E como o administrador principal é um jogador sensível a causas sociais, pimba, pôs o número do velhinho de volta, e ainda ele não enchera a taça de meio gordo branco para comemorar o êxito da fuga, e já o telemóvel cantava de novo. E é uma “causa social” do Fininho que dá origem a esta estória!
A notícia correu depressa pelos quatro cantos do mundo, o Choné soubera em Istambul, onde se encontrava a recuperar de mais uma grave auto lesão, da derrota da equipa que o João Laranja, filho de um pioneiro, carregava sempre às costas. A tradição tinha sido quebrada, já se falava na “maldição do Fininho”. O laranjinha atribuía a derrota imprevista a um guarda redes que o administrador do whatsapp pusera na sua baliza. E atribuía-lhe o século XVIII como data de nascimento! O Miguel CG, que já se apercebera que também podia jogar de longe na rede, quis saber qual o nome do “novato”, uma vez que era o primeiro jogo que fazia.
- SETE ESCADAS, - esclareceu o Choné!
O século foi logo emendado, não era o XVIII mas sim o XVI. O tio Fininho mostrava, mais uma vez, ser um visionário na arte de jogar à bola, em duas semanas introduzira as novas tecnologias em campo, primeiro com o seu “replay” das jogadas, e agora com um jogador em “câmara lenta”. O Sete Escadas trouxe a justiça para o mundo do “Bola PA”, porque a partir de agora quem ficar com o laranjinha é obrigado a tê-lo na baliza, acabando-se de vez com o a tática do “carregador de jogo”. Aposto que para a próxima vez que o Fininho ousar participar na escolha da mão, que dá acesso à formação das equipas, não foge se não lhe sair a pedra, pois escolher o “brinca na areia” já não é sinal de vitória garantida!