Camarada Choco
Aventura 90
Ainda
só havia um dia de praia, e já as queixas caiam em catadupa em cima da
secretária da Afilhada Principal da Tarde, agora no ex-papel da Doutora sem
Caneco, que tentava a todo o custo transformar a Escola para Desaparafusados da
Venteira num espaço de Novas Oportunidades:
-
Dei várias lambidelas no calção de banho do meu filho, e só senti o sabor a
mijo, - gritou a mãe do Tornezol, e continuou. – Sal, nem saboreá-lo, a Dona
Pilca distraiu-se a comer ameixas quentes e esqueceu-se de o levar à água!
-
A minha filha veio para casa com areia nas meias, - gritava noutra linha a
progenitora da Olhos Tortos. – Não é para isso que eu a mando à praia! A Dona
Pilca deve-se ter distraído com as bolas de Berlim.
E
havia mais. Em cima da mesa estava para despacho a queixa apresentada por um
Aparafusado contra o barulho infernal dos dois periquitos que a Dona Espatinha
tinha à entrada do bar do Codeca.
-
Já não aguento o ladrar dos pintos, e exijo medidas drásticas, senão eu… -
ameaçara na Direção, revirando os olhos e mordendo os lábios, ao mesmo tempo
que corava abundantemente, como se o mundo lhe devesse alguma coisa, uns dias antes dos ovos dos ditos terem
desaparecido misteriosamente do ninho.
-
Estou farta destes mongas todos, - desabafou uma das Afilhadas da Tarde, pondo uma folha de alface na orelha esquerda
tentando assim aliviar a pressão, conforme indicação do livro de fisiologia do
Dr. Kovac’Olhões, o chinês da loja dos “Trez-Entos” da rua paralela ao
Babilónia.
O Nélinho tinha uma cenoura enfiada no…nariz,
a Brazuca Transmontana equilibrava uma couve lombarda no cima da cabeça, a
Minhota arrastava um molho de coentros pelo chão, que mais parecia um véu de
casamento, e tirava apontamentos. De repente algo caiu com estrondo numa das
salas. Tinha sido o Peixe Espada, arremessara com raiva um frasco de “Compota
de Baba” da sala da Pirosa, cheio de lápis, e ameaçava agora com a mesa:
-
Se não te portas bem vais de castigo para a sala do Pilha-Periquitos, - gritou
a madame Luci, ultrapassando em decibéis o volume do Desaparafusado mais antigo
da Venteira.
-
Mas esta planta é minha, - gritou o Cabo Pilas ao bater com a cabeça num vaso
castanho junto aos serviços administrativos. – Quem é que ousou tirá-lo do
primeiro andar?
Mas
ninguém lhe respondeu, a Fininha da secretaria tinha-se antecipado e
escondera-se debaixo da mesa, enquanto a sua colega Maga Patalógica
encontrava-se no estado alienado habitual com a cara colada ao monitor. Lá em
cima a Chefe Bélinha encontrava-se à beira de um ataque de nervos, pois o seu
já habitual período de chefia máxima, motivado pela ausência para férias da
Madrinha Sem Caneco, ainda ia a meio e já tinha um presunto no currículo e o
voo da Cigana Destravada do primeiro andar. Estava na ressaca da medicação, por
isso a alucinação trouxera para o páteo o seu Samecas todo nu, a convidá-la
para o pecado:
-
Atira-te amor que eu agarro-te !
A
salvação foi o telheiro de plástico e as tampinhas da Menina Tatrícia, mas não
a safaram de uma perna empenada e de uma ameaça de ir saltar para outra
freguesia, pois a Venteira já estava farta destes mongas abandonados pelos
pais, depois de terem acabado os subsídios à preguiça para quem ficasse com
eles em casa. Já que tinham de ir trabalhar, a Segurança Social que tomasse
conta deles.
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