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Saturday, February 02, 2013

Camarada Choco 91 - Mixórdias


Camarada Choco
Aventura 90

Ainda só havia um dia de praia, e já as queixas caiam em catadupa em cima da secretária da Afilhada Principal da Tarde, agora no ex-papel da Doutora sem Caneco, que tentava a todo o custo transformar a Escola para Desaparafusados da Venteira num espaço de Novas Oportunidades:

- Dei várias lambidelas no calção de banho do meu filho, e só senti o sabor a mijo, - gritou a mãe do Tornezol, e continuou. – Sal, nem saboreá-lo, a Dona Pilca distraiu-se a comer ameixas quentes e esqueceu-se de o levar à água!
- A minha filha veio para casa com areia nas meias, - gritava noutra linha a progenitora da Olhos Tortos. – Não é para isso que eu a mando à praia! A Dona Pilca deve-se ter distraído com as bolas de Berlim.
E havia mais. Em cima da mesa estava para despacho a queixa apresentada por um Aparafusado contra o barulho infernal dos dois periquitos que a Dona Espatinha tinha à entrada do bar do Codeca.
- Já não aguento o ladrar dos pintos, e exijo medidas drásticas, senão eu… - ameaçara na Direção, revirando os olhos e mordendo os lábios, ao mesmo tempo que corava abundantemente, como se o mundo lhe devesse alguma coisa,  uns dias antes dos ovos dos ditos terem desaparecido misteriosamente do ninho.
- Estou farta destes mongas todos, - desabafou uma das Afilhadas da Tarde,  pondo uma folha de alface na orelha esquerda tentando assim aliviar a pressão, conforme indicação do livro de fisiologia do Dr. Kovac’Olhões, o chinês da loja dos “Trez-Entos” da rua paralela ao Babilónia.
 O Nélinho tinha uma cenoura enfiada no…nariz, a Brazuca Transmontana equilibrava uma couve lombarda no cima da cabeça, a Minhota arrastava um molho de coentros pelo chão, que mais parecia um véu de casamento, e tirava apontamentos. De repente algo caiu com estrondo numa das salas. Tinha sido o Peixe Espada, arremessara com raiva um frasco de “Compota de Baba” da sala da Pirosa, cheio de lápis, e ameaçava agora com a mesa:
- Se não te portas bem vais de castigo para a sala do Pilha-Periquitos, - gritou a madame Luci, ultrapassando em decibéis o volume do Desaparafusado mais antigo da Venteira.
- Mas esta planta é minha, - gritou o Cabo Pilas ao bater com a cabeça num vaso castanho junto aos serviços administrativos. – Quem é que ousou tirá-lo do primeiro andar?
Mas ninguém lhe respondeu, a Fininha da secretaria tinha-se antecipado e escondera-se debaixo da mesa, enquanto a sua colega Maga Patalógica encontrava-se no estado alienado habitual com a cara colada ao monitor. Lá em cima a Chefe Bélinha encontrava-se à beira de um ataque de nervos, pois o seu já habitual período de chefia máxima, motivado pela ausência para férias da Madrinha Sem Caneco, ainda ia a meio e já tinha um presunto no currículo e o voo da Cigana Destravada do primeiro andar. Estava na ressaca da medicação, por isso a alucinação trouxera para o páteo o seu Samecas todo nu, a convidá-la para o pecado:
- Atira-te amor que eu agarro-te !
A salvação foi o telheiro de plástico e as tampinhas da Menina Tatrícia, mas não a safaram de uma perna empenada e de uma ameaça de ir saltar para outra freguesia, pois a Venteira já estava farta destes mongas abandonados pelos pais, depois de terem acabado os subsídios à preguiça para quem ficasse com eles em casa. Já que tinham de ir trabalhar, a Segurança Social que tomasse conta deles.


 

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