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315 estórias

Tuesday, May 16, 2017

Solo Sagrado


O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol P.A. 25


O Futebol P.A. está para Paço de Arcos, como a Cova da Iria para Fátima: tem um apelo especial! A estória deste domingo solarengo tem o seu início na zona dos bancos para os atletas, e o protagonista é um dos jogadores com a mais baixa maleabilidade mental, o lendário Milhas:
- Que é feito do Fininho, faltou aos dois últimos jogos? – Perguntou ao contabilista Peidão, que acabara de receber uma dívida assinalável da família Laranja, e confessava que já não tinha espaço em casa para guardar tantas malas recheadas, estando por isso à espera que o sobrinho da Uber lhe desse o contacto do seu primo na Suíça, agora que o tio de todos renascera.
A preocupação seria sincera, ou uma estratégia para saber se iria ter mais um domingo agradável? A chegada do Tio Mino do Incha Padel deu-lhe a resposta! Mas este dia fica também assinalado pelo regresso de mais um membro da família Choné, o Morgado, o único que foi autorizado a entrar na Austrália e fazer um estágio especial com cangurus. Confidenciou-nos que descobrira que o pai era o único atleta do Futebol PA da família que já não jogava, mas continuava a dopar-se, e que iria continuar ligado à modalidade, mas agora na venda de cachecóis e couratos. E o Morgado apresentou-se em campo só com uma chuteira, oferecida pelo pai e pertencente ao Taroulo, quando tinha doze anos. O pai do Clarke Kent foi o jogador deste domingo, levou para casa um “'hat-trick”, fruto de várias convulsões inesperadas à boca da baliza adversária. Mas o filho, na ânsia de despachar a bola, e não dominá-la, como é costume, deu um potente biqueiro e quase que liquidou o Fininho, seu companheiro de equipa, acertando-lhe em cheio no coco. O jogador caiu no solo a ouvir o Carrilhão de Mafra a tocar o “adieu adieu aufiderzin goodbye”, viu passar o Craveiro Lopes a puxar um carrinho com o material que ia vender para a porta do mercado da vila, com uma tabuleta escrita pelos seus vizinhos a dizer, não o seu nome, mas “caralho”, que lhe gritou, “levanta-te rapaz, ainda irás marcar muitos golos”, seguido de uma nova carrilhada, que desta vez trouxe o hino rejuvenescedor:
"É motorista
e o preto preto branco
Precausa da criação
Precausa da sua direita
comigo é uma canção

Eu vou pelas estradas,
estradas de corrimão.
Estava lá o Charlot
 a cantar a nova canção

Mas qui tudo, mas qui tudo
Mas qui tudo da criação
estava lá o Charlot
 com 2 franguinhos na mão!

É Motorista
E o preto, preto banco
Precausa da criação
Precausa da sua direita
Comigo é uma canção

Eu vou pelas estradas
Estradas de corrimão
Estava lá o Charlot
Com dois franguinhos na mão

Mas qui tudo, mas qui tudo
Mas qui tudo da criação
Estava lá o Charlot
A cantar a nova canção

É Motorista
E o preto, preto branco
Precausa da criação
Pré causa da sua direita
Comigo é uma canção

O último acto foi a saída intempestiva do Tio Kiki, que abandonou o jogo alegando que ninguém lhe passava a bola, mostrando assim a sua ignorância futebolística, porque num jogo de 13 contra 13, num campo de 9, o jogador não pode esperar que lhe passem a bola, mas sim fazer pela vida, roubá-la, tanto a um adversário como a um colega, para assim conseguir jogar.



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