Comandante Guélas
Série Paço de Arcos
Depois de ter
marrado com o descapotável do Chulo do Pimenta, o carro que dobrava ao meio de
cada vez que arrancava, visto o proprietário ter-se limitado a serrar o
tejadilho, o Bajoulo ficou atulhado de dívidas. Estava no top dos estudantes
paço-arcoenses mais endividados da região de Cascais, visto que o
Pierre-Pomme-de-Terre nunca chegava a essa situação enquanto o pai teimasse em
coleccionar libras em ouro. Só muito mais tarde é que iria ter de se ausentar
do país, porque quem andaria atrás dele não seria o Chulo do Pimenta, mas a
Interpol. Tornou-se, por assim dizer, num “tio”, com direito a escolta policial
e tudo. O Bajoulo tropeçou à noite na solução quando se preparava para recolher
aos aposentos: um soberbo dente de Elefante a quem o papá dava lustro todos os
dias. Ia-se estatelando no chão devido ao dito cujo e à grade de cervejas que
lhe forrava o estômago.
- Amanhã já
estás a morar noutra freguesia e o Chulo do Pimenta a chatear outro, – prometeu
ao dente, expressando-se meio em português meio em alemão, com um arroto de
cevada pelo meio.
Foi até à
garagem arranjar espaço para o “canino” na sua Zundapp, cujo motor deveria
estar no Algarve junto ao seu legítimo dono. Amarrou ao banco um caixote de
fruta e irritou-se quando descobriu que só havia “meio-gordo” no frigorífico.
- Nestas
condições deploráveis não consigo gamar…trabalhar, trabalhar. Vou ao “Bachil”
buscar um suminho.
Por pouco não
se cruzou com o Estudante Focas, o Pilas e o Irmão do Marreco, que iam fazer
uma visita de cortesia ao Bakáus, o irmão mais velho. Os turistas bateram,
bateram, mas o mano do Bajoulo dormia um sono profundo, sonhando com uma resma
de suecas deitadas sobre a sua soberba “Honda 50”. Como não lhes abria a porta,
ficaram preocupados com a saúde do luso-alemão. Treparam ao primeiro andar,
entraram por uma janela e iniciaram de imediato uma batalha campal com
laranjas, na cozinha, mas mesmo assim o Bajulão não acordou. Quando acabaram os
citrinos, passaram para as roupas, arremessando-as da janela. Finda a
brincadeira , saíram pela porta e foram interceptados pelos gritos estridentes
duma das vizinhas, que lhes chamou “ladrões”. Quando o senhor Bajoulo
regressou, achou estranho ver as suas cuecas mijonas penduradas no catavento do
General e a toalha do bidé a ocupar o espaço reservado à bandeira nacional, mas
a sua preocupação estava exclusivamente reservada para o incisivo do Elefante.
Iria amarrar o dente à mota, logo após a última ronda do papá, para que no dia
seguinte fosse o primeiro a sair para o “trabalho”, ou seja, ir vender o marfim
lá para os lados da capital.
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