Comandante Guélas
Série Colégio Militar
Esta é uma
estória com duas partes, ligadas por um ponto em comum, a “Raça”! Neste dia o
pequeno-almoço foi reforçado porque a data pertencia à Pátria, a festa iria ser
brava: ovos mexidos cuja matéria prima tinha vindo diretamente dos rabos das
meninas do senhor Nunes, excluindo o da sua filha, porque o produto que esta
produzia chamava-se “desejo”, e mexia com as almofadas dos Meninos da Luz. Tudo
se passou num tempo em que o boletim meteorológico seguia à risca a sapiência
do Borda D´Água, por isso o calor apertava impiedosamente. Na formatura do
Colégio Militar, que juntamente com as dos outros ramos das forças armadas, esperavam
pelo presidente da república que, tal como uma noiva, insistia em não chegar a
horas, não se via um movimento, graças às Firmezas, que nestes tempos faziam
parte do Plano Curricular. Nas tripas de alguém os ovos das galinhas que
nunca causaram gastroenterites colegiais, não se sabe se pela qualidade dos
mesmos ou das tripas dos meninos, refilaram, e o som que saiu assemelhou-se ao
de uma corneta. Ninguém reagiu, nem o próprio, que continuou impávido e sereno com
a arma em descanso, e com os metais a brilhar ao sol, tudo graças ao senhor Manuel, um coxo velocista
temperamental, que reagia violentamente quando alguém requisitava algo inabitual,
como fora o caso da véspera deste 10 de junho, em que o aluno trocara a solarina
“Coração” pela Rosa. Na noite anterior
tinham levado as armas para a camarata, e por isso os saltos dos armários para
as camas, os concursos de gosmas, que deram origem a
fabulosas estalactites, capazes de competir mano a mano com as colunas de
Palmira, e que ficaram suspensas durante anos letivos seguidos, foram trocados por combates corpo a corpo com
as ditas, que só acabaram quando a almofada do Elefante foi trespassada por uma
baioneta com a cabecinha ao léu. Eram tempos em que os pais não passavam da
Porta de Armas, não havia mães a gritar, nem Correio da Manhã, a Boca Louca saltitava
em bolsas proletárias, pegar de empurrão só em pensamento e as Meninas de
Odivelas estavam apetitosamente longe! A festa oficial deu depois lugar à festa
colegial: Chá Dançante!
O evento escancarava as portas ao sexo
feminino, tão raro no colégio durante os outros dias, com exceção da apetitosa menina
Lisete, da fabulosa Júlia Patronilha, da inigualável menina Cassilda, da imponente dona Teresa, e
de muitas outras guardadas nos corações desta gente assinalada. Tal como de manhã, tinha havido um trabalho
árduo de bastidores, que consistia na montagem dos adereços, luzes, bolas de
espelhos, sistema de som, cobertores nas janelas, bar, e outras coisas mais.
Quem estava no ativo tinha de vir fardado, quem era ex geralmente ostentava um
cabelo a tocar os ombros, as Meninas de Odivelas podiam vir à civil, e as civis
traziam belos decotes e mini-saias. À espera delas estavam vários tipos de
colegiais, desde o galã, que ostentava uma farda recheada de medalhas, as dele
e as emprestadas pelos colegas marrões que tinham ficado em casa a estudar para
os testes, os conquistadores, que passavam os dias a falar das aventuras
amorosas do fim-de-semana anterior, incluindo com a almofada, o Líder, que já
tinha a fêmea marcada, e ameaçara com represálias quem ousasse dirigir-lhe a
palavra, o rata, que fazia de pau-de-cabeleira para a irmã, mas depressa
recebia ordem para dispersar, o mudo que só via e andava em grupo, mas que no
final confabulava uma estória de amor. E assim se encerrava a contribuição dos
Meninos da Luz ao dia também dedicado ao Zarolho!
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