Comandante Guélas
Série Colégio Militar
Dizia a lenda que o Colégio Militar estava ligado ao
Instituto de Odivelas por um túnel, que povoava a imaginação de todos aqueles
jovens fardados de cotim com as hormonas aos saltos, por isso a descoberta da
entrada do “El-Dourado” teria consequências incalculáveis no desempenho do
batalhão, que passava parte do dia a martelar o alcatrão com os calcanhares, a
tarde em esgalhações coletivas enquanto o Pequito debitava o verbo “Avoir” e grande
parte da noite a fazer ranger as camas. Mas algo estava a acontecer! Na
aula prática de química o Gordini distraiu-se com o pensando enredado nas saias
das Meninas de Odivelas, despejou no alguidar do ajudante Morais, o Ruca, o Sódio
e o Potássio da turma, provocando uma explosão que fez com que o Patronilha se
descontrolasse momentaneamente na Java 125, e quase se enfiasse pelo pátio da
Infia adentro com a sua bela Julia à pendura, onde, devido à deslocação do ar,
o capitão Oscaralhinho desesperava em tapar apressadamente a careca, puxando o
cabelo que tinha sido atirado com violência para cima da orelha direita.
- Nesta aula uns dormem de olhos fechados e outros de olhos abertos, - reagiu o
engenheiro Grijó.
Na aula de equitação, quarenta e cinco minutos agonizantes a trote, onde a
fruta batera com violência na sela, o ten-Coronel Dores (ex 120) ordenara à
metade da turma, a outra estava na aula de esgrima, para irem secar os cavalos no
exterior do picadeiro, deixando bem claro que só poderiam ir a passo, avisando
o chefe de turma de que qualquer incidente seria da sua responsabilidade. Ao
longe, os camaradas faziam combates no exterior. Foi dada a ordem de “alto,” e
alinharam os animais. Os da esgrima prepararam-se para o embate, a loucura
comprimida dos Meninos da Luz acabara de estar contida, todos despejavam adrenalina em vez de suor. Não
foi em passe, nem a trote, nem a galope, mas sim numa carga tão grande, por
momentos todos queriam salvar as suas dulcineias imaginárias, a barreira de
candidatos a mosqueteiros desfez-se, deixando passar os animais desembestados,
que foram chicoteados com os floretes de aço, que os atiraram para o campo de
obstáculos, onde o Peixinho saltou pendurado na sela.
No laboratório de línguas o
Teatcher preparava-se para debitar mais uma aula do seu Americam Language
Course, estando os alunos a ocupar individualmente as boxes com a panóplia de
instrumentos, e no momento em que colocou os auscultadores no alto da sua mesa
de comando, o 224 deu um berro tão grande ao microfone, pedindo-lhe que lhe
chupasse uma parte do corpo, que todos viram o docente dar um salto na cadeira,
abrir a boca e retirar apressadamente o que pusera nos ouvidos.
Quando o lusco fusco chegou havia
movimentações inabituais lá para os lados do estaleiro de obras junto ao
pavilhão de Ciências. O Horrível, o 191, o 120, e o 667 tinham acabado de
encher uma lata de tinta com mijo, e do rijo, e não sabiam o que fazer com tão
precioso líquido, até que um civil enfiado num fato azul cueca a deslocar-se
calmamente em direcção à igreja da Luz lhes chamou à atenção. Apesar de ser tempo
de verão, a chuva que caiu sobre o incauto cidadão foi tão repentina, que ele nem
teve tempo de abrir o chapéu para a chuva, que não trazia. Alguns minutos
depois foi visto a berrar com o Chico Porteiro na Porta de Armas.
A notícia correu depressa pelo
pessoal, o Vinasse anunciara o “achamento” da entrada para o Túnel que ligava
diretamente às Meninas de Odivelas, e tudo isto durante o consumo de um cigarro
debaixo de uma árvore numa zona interdita virada para o Estádio do Glorioso. Ao
princípio pensou que era do efeito do fumo, mas uma observação mais cuidada
revelou um pedaço de azulejo antigo, que foi de imediato datado do tempo de D.
Dinis. Escavou um pouco mais e apareceram outros, e mais outros, e mais…, o
Horrível ficou eufórico, já se via a chegar clandestinamente ao Instituto em
formato de “Desejado de Odivelas”, no meio de uma noite de nevoeiro, saindo de
um alçapão secreto atrás do túmulo do rei de barbas ruivas, e por ser o maior auto
intitulado predador do Largo da Luz, que dava sempre ao fim de semana oito de
seguida sem ver a luz do sol, teria com toda a certeza um batalhão de meninas à
sua espera. Escavou, escavou, até acabar com o resto das unhas roídas, e se
aperceber que só fazendo apelo ao lema “um por todos
e todos por um” poderia atingir as cuecas tão desejadas. Pediu reforços!
Mas o Gordini, o Becas, o Peidão, o Xoxo, o Bétis e o Barrada, não foram
suficientes. O buraco continuava dum tamanho miserável, e escadas nem vê-las.
Veio a turma, mas precisaram de mais, muitos mais. E vieram, a recompensa era
do outro mundo. Quando a cova já ameaçava desabar sobre grande parte dos
militarzinhos imberbes, e enterrar para sempre muitos sonhos libidinosos,
apareceu o Moca e o Meia-Lua, que acabaram com a festa à custa de paus e
pedras, mais os berros incompreensíveis do primeiro.
Do outro lado do pecado também
havia movimentações junto ao leito do monarca: "Chegámos a usar as nossas
pulseiras de prata, daquelas com nó e grupo sanguíneo, em jeito de pêndulo,
para descobrir a tal passagem” (Menina de Odivelas)!
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