Camarada Choco
Série Colégio Militar
Há todo um mundo escondido dentro dos Meninos
da Luz que tem de ser decifrado, por isso existem estórias curtas que até
parecem intermináveis. O 73 não era da Classe Especial mas tinha queda para o
sagrado, uma vez que neste estabelecimento educativo, que tentou educar futuros reis mas desistiu, e
tudo graças ao Agapito, uma espécie de Estratopel, o 289, mas com uma coroa em
vez de um penico, os alunos só se “descaminhavam”, e foi numa excursão à capela
dos claustros, faminto, que se abarbatou dum saco cheio de “Deus-Homem”, usado
no ritual cristão de comer alguém na missa. Juntaram o produto desviado às
galinhas do pai da Rosa, e fizeram uns inéditos “ovos mexidos sagrados”. Mas
não é destes anjinhos de que iremos falar, mas de outros seres voadores
exclusivos da Luz.
- O
Dario é o Einstein da ginástica, consegue transformar merda em matéria, - disse
o professor Reis Pinto.
E todos aqueles meninos da classe 1, a elite da
Educação Física, disciplina dividida em quatro níveis, cujo quarto estava
reservado aos gordos e aos coxos, sabiam que não poderiam chegar atrasados à
aula do Lâmpada Fundida.
- Este rapaz merece um 20 a Educação Física, -
fora o único elogio que o Cebola recebera, não do Conselho Pedagógico, mas sim
no Conselho de Guerra.
O 360 fora o responsável por um fim-de-semana
alucinante, que mostrou a capacidade de coletivamente os Meninos da Luz
conseguirem o que não era fácil nem provável e, para alguns, conseguirem o
impossível, mostrando ao batalhão colegial a força da juventude e da ousadia
quando lutavam por um ideal, neste caso um maço de tabaco “Kart” (Camarada Choco & Comandante Guélas:
Cebolada).
- Saia da aula, pela porta ou pela janela, -
reagiu o Falcão, perante o pedido de explicações do 157, que tinha apanhado a
única positiva da turma no teste de matemática, um “suficiente”.
- Vou pela janela, - disse o discente correndo
para ela e atirando-se.
Não sabia era que o aluno em questão pertencia
à elite da ginástica, um Top Gun dos “Gafanhotos” e por isso agarrou-se
à borda do parapeito após sobrevoar a vidraça, tendo provocado o maior cagaço
ao docente que, por momentos, endireitou a marreca, que iria ser agredida pelo
dicionário do Cão, arremessado pelo 136, o seu melhor amigo, para ver o que
acontecera à gazela. As noites do Colégio Militar eram uma espécie
de Ibiza da Luz, porque os meninos tinham uma visão abrangente da vida,
aplicavam as novas tendências e ideias, descentralizando-se. A importância
desta educação selvagem foi um dos pilares em que assentou a intervenção
pedagógica dos jovens dos anos 70, com grandes pedagogos dos 10 aos 60 anos. Num dos fins de semana de castigo alguns
alunos resolveram ir brincar para o ginásio e montaram uma aldeia dos macacos.
Quando estavam em plenos tarzans, com voos em direção aos colchões, eis que
entrou o Dario e lhes fez uma proposta:
- Querem resolver o incidente oficialmente ou
oficiosamente?
Acordaram receber uma aula extra, tendo o
docente aproveitando o circuito já montado, que só terminou quando os meninos
já pediam perdão, deixando-os de rastos para o dia seguinte.
E os efeitos da ginástica do Dario perduravam
no tempo, que o diga o Girafa que um dia entrou, já homem feito, durante uma
visita de ex-alunos, às cambalhotas no Salão Nobre, após abrir as portas de
rompante, na altura em que o director dava a seca do costume elogiando as
virtudes daquele invulgar espaço educativo.
Foi numa atividade do Dario que o 63 dos anos
setenta deu início a um processo traumático que o afastou para sempre dos
bocks, mini-trampolins, mesas alemãs e outros instrumentos que tornaram famosos
os Gafanhotos, a classe especial do Colégio militar que encantava as Meninas de
Odivelas e o resto do país, e ainda hoje lhe causa suores frios de cada vez que
tenta dar uma cambalhota, coisa já rara na sua idade. O circuito estava
montado, mini-trampolim, bock, cama-elástica, mesa alemã e colchão. O 8 iniciou
o esquema, fez tudo em estilo gazela, sendo seguido pelo 63, que saiu com uma
trajetória errada, e fez uma aterrizagem forçada na alcatifa, que lhe colocou
um braço voltado para trás, impossibilitando-o de tirar ranho à cobra. O
Lâmpada Fundida aproximou-se de imediato do ferido e colocou-lhe o membro no
lugar.
- Vai à Enfermaria!
Cruzou-se com o Tadeu que reforçou a esperança:
- Esfrega com água fria que isso passa.
O Valentim aplicou-lhe a fórmula do costume, um
copo de água com sais de fruto.
- Deixa fazer efeito e depois podes ir à tua
vida.
Mas as dores aumentaram e a solução foi levá-lo ao Hospital Militar, onde acabou por ser sujeito a uma cirurgia para colocação da lasca do osso no lugar. O 63 teve de esperar dois meses até poder esgalhar de novo o frango, que entortara devido à inabilidade do uso do braço são!
2 comments:
👏🏻👏🏻👏🏻
E o grande Tadeu
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