Os Meninos
da Luz sempre deram espaço ao acaso, e quando ele chegava abraçavam-no. A sua
relação com o poeta zarolho não era a melhor, “Os Lusíadas” eram demasiado
longos, a “divisão de orações” a que eram obrigados a fazer nos decassílabos punha-os
de rastos, e quando chegavam ao Canto VIII apercebiam-se que ainda faltavam
mais três. Por isso, a maioria da rapaziada tinha sempre a nota de Português
por um fio, e nem “Que para o rei judaico acrescentar-se” alguém os salvaria. E
a culpa era de um bebedolas quinhentista que insistira em contar a história de
Portugal a uma árvore, que ele dizia ser o Rei de Melinde. Por isso o Primo
Orelhas passou a ter uma “Gina” aberta dentro do calhamaço, durante as aulas do
Ferrari, que nestas alturas assumia um papel de libretista. Mas o escandaloso Canto IX mudava tudo, chegava a frio e sem preliminares, nem o Menau não ousava
aplicar-lhe a regra do “Sudoku Mental”, revelando-se fatal para muitos meninos,
mexia-lhes na líbido como nunca, era o responsável pela violação de muitas
almofadas, que nestes tempos do “politicamente correto” talvez já seja crime, e
tudo porque o poeta zarolho estava um rebarbado: “Ilha dos Amores”!
As
ninfas corriam “nuas por entre o mato aos olhos dando / o que às mãos cobiçosas
vão negando”. O Primo Orelhas (649), digno descendente dum ilustre catedrático
da faculdade de letras da Universidade de Coimbra, foi a primeira vítima, desfez-se
das suecas malucas e abraçou esta “Gina Lusa”, que em vez de zumbidos soltavam sonoros
arfares. Sonhou a noite toda com as ditas, misturou tudo, Ninfas, Suecas,
Meninas de Odivelas, Rosa e a Albertina das Mamas Grandes, sua musa do Bairro
Alto, acordou com os pavilhões auriculares murchos e com um nível de ereção incognoscível,
vítima do seu temperamento medieval. A cena da camponesa que lhe apareceu um
dia numa marcha de orientação na Tapada de Mafra, e o convidou para o deboche,
ato que foi consumado de imediato numa cama de flores, num processo
biodinâmico, que lhe deixou uma tatuagem na alma e que foi confirmado pelos
colegas à noite quando viram lírios a sair-lhe das cuecas, e não rosas como a
rainha Isabel. O 649 entrou para o campo do misticismo, passou
a relatar este encontro imediato com uma Maria como se fosse um milagre, mais
um milagre perto de uma azinheira. Mal sabia que o 120 também não pregara olho,
tivera a noite toda a tirar ranho à cobra e já tinha um responsável:
- É
o Rei de Melide, não pôs um travão ao Zarolho, que já estava maluco e ele
contou a nossa história várias vezes.
- Ora, ora, ora, - reclamou
o Ferrari, acendendo mais um cigarrito “Definitivo”, e aproximando-se do
Horrível, que mal teve tempo para guardar o cacete. – Essa divisão das orações
dá cabo das ninfas!
O
125 também era um dos bombeiros que dizia estar sempre a espreitar para os
esboços das moças e a apagar-lhes os fogos. Mas o troféu continuava na posse do
Dani, conseguira arrebatar a mãe de um rata nas comemorações do 3 de março.
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