O Comandante Guélas
Série Colégio Militar
Por vezes a rotina colegial fugia à
regra, caso o Diretor tivesse familiares, netos ou filhos no Batalhão Colegial.
Nos anos setenta houve uma récita extra, realizada, não pelos alunos
finalistas, mas pelos alunos do primeiro ano, o Diretor tinha netos, que
pediram ao avozinho para quebrar as regras e deixá-los fazer o espetáculo. O
593 foi expulso do colégio porque no dia das pinturas resolveu enfiar o pincel
pelo cu de um aluno e, para azar dele, familiar do Diretor. Caso o rata fosse
um filho de algo, teria andado a evacuar azul durante alguns dias, sem
consequências. Mas a estória é outra! O
Palhaço foi o maior artista colegial em atividades circenses do universo
latrinal, com a especialidade em cagandus altus trapézius e casino,
por isso os mais íntimos, o 200, o Cebola e o Ginho são de
opinião de que ele merece
o Prémio Barretina na modalidade de “Notoriedade”. Mas não se ficou por aqui! Foi também o maior jogador de “Lerpa”
do colégio, tinha o número 417 e apostava cigarros “Ritz”, que fumava uns atrás
dos outros, acompanhados de soberbas escarretas. O topo das latrinas, onde se
assavam chouriços com lamparinas de álcool desviadas do laboratório de química,
ato culinário também muito em voga no edifício da pista de aeromodelismo, onde os
onanistas apreciavam as Ginas e os intelectuais as Playboys, era a sua arena,
ao mesmo tempo que camaradas arreavam soberbos cagalhões no rés-do-chão. O 200
foi quem mais ficou traumatizado, o Palhaço limpou-lhe resmas de maços de
tabaco, produto que só era autorizado a ser consumido para lá do quinto ano,
mas que desde tenra idade se fumava! Os jogos não se reduziam à lerpa, as
latrinas foram as precursoras das consolas de jogos. Também se jogava às “Estalactites”,
tentar colar beatas ao teto, devidamente embrulhadas em cuspo, arremessadas
como escarretas. O tiro ao alvo, “Cagar de Alto”, exigia muita arte, mimesis
diria Sócrates, porque lá de cima a água da retrete não passava de um pequeno
alvo, e tudo podia acontecer se o jogador fizesse mal os cálculos matemáticos.
E um dia o jogo descambou, como era de prever neste colégio original, o
Horrível desafiou os colegas a tentarem acertar num fâmulo com um objeto ao
critério de cada um. Estavam na primeira latrina da Terceira Companhia, onde
havia um cubículo com armários dos fâmulos, com ligação aérea à área lúdica. O
120 atirou uma pastilha, que passou a rasar a cabeça do funcionário. Foi
avisado para não repetir a brincadeira. O Peidão atirou um pedaço de papel
higiénico molhado, que ficou colado à parede e respingou para o alvo. Da boca
da vítima saiu um chorrilho de palavras zangadas, mas incompreensíveis. O
inventor atirou-lhe com uma escova de engraxar sapatos, que bateu na cabeça e
fez eco. O olhar de raiva do Moca foi tão intenso, que o transformou em Hullk,
agarrou no pau com que abria as janelas altas das companhias ao toque de
alvorada, ao mesmo tempo que acordava os graduados á paulada, e desembestou em
direção aos cagatórios. Todos saltaram para os cubículos. Todos? Todos, não, os
cagadores nem compreenderam porque é que um Moca enraivecido lhes entrou pelas
latrinas adentro, arreando em tudo o que mexia, causando uma debandada geral,
uns devidamente fardados, outros com as calças a arrastarem pelo chão, e alguns
com os cagalhões pendurados.
1 comment:
O 593, que há muito nos deixou, não foi expulso pelo disseste... essa foi uma das gotas que foi enchendo o copo
Post a Comment