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315 estórias

Sunday, November 29, 2020

ATL Colegial

 

O Comandante Guélas

Série Colégio Militar

Por vezes a rotina colegial fugia à regra, caso o Diretor tivesse familiares, netos ou filhos no Batalhão Colegial. Nos anos setenta houve uma récita extra, realizada, não pelos alunos finalistas, mas pelos alunos do primeiro ano, o Diretor tinha netos, que pediram ao avozinho para quebrar as regras e deixá-los fazer o espetáculo. O 593 foi expulso do colégio porque no dia das pinturas resolveu enfiar o pincel pelo cu de um aluno e, para azar dele, familiar do Diretor. Caso o rata fosse um filho de algo, teria andado a evacuar azul durante alguns dias, sem consequências. Mas a estória é outra! O Palhaço foi o maior artista colegial em atividades circenses do universo latrinal, com a especialidade em cagandus altus trapézius e casino, por isso os mais íntimos, o 200, o Cebola e o Ginho são de opinião de que ele merece o Prémio Barretina na modalidade de “Notoriedade”. Mas não se ficou por aqui! Foi também o maior jogador de “Lerpa” do colégio, tinha o número 417 e apostava cigarros “Ritz”, que fumava uns atrás dos outros, acompanhados de soberbas escarretas. O topo das latrinas, onde se assavam chouriços com lamparinas de álcool desviadas do laboratório de química, ato culinário também muito em voga no edifício da pista de aeromodelismo, onde os onanistas apreciavam as Ginas e os intelectuais as Playboys, era a sua arena, ao mesmo tempo que camaradas arreavam soberbos cagalhões no rés-do-chão. O 200 foi quem mais ficou traumatizado, o Palhaço limpou-lhe resmas de maços de tabaco, produto que só era autorizado a ser consumido para lá do quinto ano, mas que desde tenra idade se fumava! Os jogos não se reduziam à lerpa, as latrinas foram as precursoras das consolas de jogos. Também se jogava às “Estalactites”, tentar colar beatas ao teto, devidamente embrulhadas em cuspo, arremessadas como escarretas. O tiro ao alvo, “Cagar de Alto”, exigia muita arte, mimesis diria Sócrates, porque lá de cima a água da retrete não passava de um pequeno alvo, e tudo podia acontecer se o jogador fizesse mal os cálculos matemáticos. E um dia o jogo descambou, como era de prever neste colégio original, o Horrível desafiou os colegas a tentarem acertar num fâmulo com um objeto ao critério de cada um. Estavam na primeira latrina da Terceira Companhia, onde havia um cubículo com armários dos fâmulos, com ligação aérea à área lúdica. O 120 atirou uma pastilha, que passou a rasar a cabeça do funcionário. Foi avisado para não repetir a brincadeira. O Peidão atirou um pedaço de papel higiénico molhado, que ficou colado à parede e respingou para o alvo. Da boca da vítima saiu um chorrilho de palavras zangadas, mas incompreensíveis. O inventor atirou-lhe com uma escova de engraxar sapatos, que bateu na cabeça e fez eco. O olhar de raiva do Moca foi tão intenso, que o transformou em Hullk, agarrou no pau com que abria as janelas altas das companhias ao toque de alvorada, ao mesmo tempo que acordava os graduados á paulada, e desembestou em direção aos cagatórios. Todos saltaram para os cubículos. Todos? Todos, não, os cagadores nem compreenderam porque é que um Moca enraivecido lhes entrou pelas latrinas adentro, arreando em tudo o que mexia, causando uma debandada geral, uns devidamente fardados, outros com as calças a arrastarem pelo chão, e alguns com os cagalhões pendurados.


1 comment:

Unknown said...

O 593, que há muito nos deixou, não foi expulso pelo disseste... essa foi uma das gotas que foi enchendo o copo