O Comandante Guélas
Série Paço de Arcos
Futebol P.A. 43
O Futebol PA ensinou-lhes a ter o
coração junto ao dedo grande do pé direito, a reagir às reações do Milhas, a deixarem
no campo todas as inquietações. Vale a pena invocar os exemplos históricos,
desde as lendárias cenas de quid pro quo entre
o Estalinho e o Zé da Tapada, as possessões do Chico, a breve carreira do
Carinha da Avó, as taras do Capitão Porão, os malabarismos do Bill, a forma única
como o pai Marinheiro atacava o esférico, o fim abrupto de muitos jogos quando
a equipa que estava a ganhar se apercebia da eminência de sofrer um golo,
alegando excesso de penumbra, a expulsão dos cabritos, cenas tão intensas e
marcantes cujas consequências fazem parte da vida de todos. Quarenta anos a
massacrar o Milhas é obra: Mesmo ausente é sempre uma referência em qualquer
jogo! Nas brumas da memória ficou o desaparecimento do Charlot, o autor do hino
do Futebol PA, uma espécie de “Papoilas Saltitantes”:
A equipa cujos jogadores não
compreendem o que se passa, apesar de se movimentarem, e que perdem a ligação
com os colegas, é sempre derrotada. Mas de perda em perda o Peidão ganha
sempre, pois ele é o Centeno do Futebol PA. Os jogos de domingo são sempre
ancorados na referência da convergência paçoarcoense e inspirados tanto no
passado como nas novas exigências futebolísticas. O Chico Sá é um exemplo
disso, deixou cair o Sá, e passou a Chico Solas, quando joga com ténis do
Padel, modalidade onde o ConanVargas, o Marreco e o Cocilo são referências, ou
Caveirinha quando utiliza com virilidade as chuteiras. Um sopro novo dir-se-á! Entre
os que apenas pretendem melhorar a sua pouca qualidade para a modalidade,
apesar de estarem em decadência acentuada, e os que pretendem toute
casser, está sempre o Milhas. E há os que sofrem a angústia de ver que se
estão a aproximar da performance dos pais, depois de uma longa permanência no
topo da modalidade, cujo exemplo é dado pelo Brinca na Areia, que é agora
conhecido pelo Zé das Cápsulas, e que este ano lectivo nunca conseguiu ganhar
um jogo, mesmo chegando estrategicamente atrasado. Casou-se! O ex Preto, que
passou a Cinzento por questões de racismo, continua a escolher equipas, vagueando
entre a loucura negocial e o pragmatismo da modalidade. O dono do campo,
sobrinho do Isaltino, vê agora flashes, em vez da bola, com o olho direito,
ameaçando trocar a baliza que defende por uma de hóquei, porque caso o não
façam irá autorizar a ocupação do mítico espaço da modalidade rainha por campos
de Padel. Mas o último domingo de 2018 recebeu a visita de um ilustre
futebolista paçoarcoense, o lendário Sarapito, que chegou a cinco minutos do
fim, apesar de na véspera ter prometido chegar a horas, conseguindo a proeza de
dar três biqueiros no esférico, sair com uma vitória, apesar de não ter tido
tempo de conhecer toda a sua equipa. Por isso ao fim de quarenta anos merecemos
ser uma Fundação, antes de nos transformarmos num Lar Desportivo, onde haverá
equipas, não de Baptistas contra o Resto do Mundo, ou de Velhos contra Novos,
mas sim de Atletas de Fraldas contra Atletas Algaliados. Bom Ano atletas do Futebol P.A. !
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