O Comandante Guélas
Série Paço de Arcos
Futebol P.A. 37
Esta é uma estória de dois domingos, o
último de janeiro e o primeiro de fevereiro do Ano da Graça de Nosso Senhor
Isaltino. O Futebol P.A. sempre foi uma atividade desportiva em que a originalidade
o torna exclusivo. No primeiro domingo assistiu-se a uma auto expulsão, o
Burren chegou a uma altura do jogo e teve consciência do seu défice grave na
condução do esférico, que se agrava assustadoramente à medida que acumula
aniversários, e auto puniu-se:
- Vai-te embora os velhos estão a
dar-te um bailinho, e não é o da Madeira , - soprou-lhe ao ouvido um Burran
Vermelho sentado no ombro direito do atleta.
- Ele tem razão, - confirmou o Burran
Branco.
O Burran não é com toda a certeza um
“portento do Entendimento”, como classifica o Choné o Carlos da Tapada, mas sim
um “buraco negro”, que absorve a bola e só a larga após explodir, altura em que
acusa os colegas de não usarem a cabeça para finalizar a jogada. Durante um ano
deixou de comparecer no Futebol P.A., para gláudio de todos, indo fazer
carreira no futebol universitário, de onde rapidamente foi expulso, ingressando
nos jogos intelectuais de quinta feira, a “elite”, segundo classificação do
Caramelo, onde se formaram expoentes máximos na arte de dominar as bolas, muito
bem representados pelo Carcaça. No segundo domingo a estória foi outra,
faltavam cinco minutos para o meio dia e só estavam presentes dois expoentes
máximos da velha guarda, o contabilista Peidão, já antevendo prejuízo, e o dono
do restaurante oficial do Futebol PA. Do Fininho nem vê-lo, deu assim a
terceira falta consecutiva, o Chico Paulo ficou a ensaiar para o Carnaval de
Ovar, e do Preto nem a própria família sabia. Apareceu o tio Kiki e o pai do
Balotelli. Da família Marinheiro, que tantas alegrias deu à modalidade, nem
sinal. Jogou-se por isso no campo pequeno! Foi a família Choné que tornou
possível o encontro: Tarolinho, Paulão, Maninho Ensina e Goucha! Com desconto
de ninhada o pai poupa no ginásio. Mas todos juntos num espaço tão pequeno é um
risco. Os matulões envolveram-se em confronto psicológico, que foi aproveitado
pelo mais pequeno, o melhor marcador do jogo, apesar de calçar umas chuteiras
que se foram desfazendo ao longo do encontro, até que os sábios ameaçaram fazer
queixa ao pai caso o quid pro quo evoluísse
para uma modalidade ainda mais dura. Mas como o progenitor anda numa de
filosofia, todos imaginaram que a intervenção não fosse além de um discurso do
método:
- A verdade corresponde às convicções
duma maioria, num determinado grupo e num tempo. Por exemplo, quando estou sozinho,
tal como o Marinheiro pai, acredito que tenho uns filhos exemplares.
Como a equipa do Peidão cilindrou a do
pai do Balotelli, a vitória foi de imediato entregue ao Fininho, o jogador que
nunca perde!
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