Comandante Guélas
Série Colégio Militar
Quando se quer
ouvir a alma dos Meninos da Luz basta gritar “Zacatraz” três vezes, e a caixa
abre-se de rompante:
- Traz, Traz!
- Zacatraz,
Zacatraz, Zacatraz!
- Traz, Traz!
-Zacatraz, Zacatraz, Zacatraz
- Traz, Traz
-Zacatraz, Zacatraz, Zacatraz
- Traz, Traz
- Ala, Ala!
- Arriba!
- Ala, Ala!
- Arriba!
- Allez, Allez,
à votre santé!
No dia 12 de
Abril de 2013 (Camarada Choco & Comandante Guélas: 12 de abril de 2013), quando o curso de 1971 / 1978 fez a visita oficial após 35 anos
de saída, o 69 esmerou-se tanto, que conseguiu fazer abanar o busto do
marechal, enchê-lo de perdigotos, acordar o 607, que adormecera embalado pela
lenga lenga costumeira das virtudes daquele espaço educativo, sonhando com o
Amarelo que iria degustar ao almoço em tal quantidade, que lhe permitiria
hibernar o resto da semana. O bardo tocou na border line da legalidade (Lei do Ruído, DL 9/07 de 17/01 artº 24º
nº1), porque no primeiro andar decorriam exames nacionais. No curso de entrada
de 1971 havia agora duas aves canoras, a oficial e a clandestina, esta personificada
no Monhé, que aproveitava todas as ocasiões festivas para distribuir panfletos
patrióticos e soltar o “zacatraz” que tinha encravado na garganta, uma espinha existencial.
Mal sabiam que havia outro a germinar! E o fenómeno, não do Entroncamento, mas
da Luz, revelou-se no jantar do 3 de março de 2018. Após a normalidade,
Amarelo, um copo a partir-se e todos a gritarem “paga já”, mas sem o Zé Pereira
a correr com o bloco de notas na mão, o Monhé a distribuir folhas A4 e a soltar
o seu “zacatraz”, eis que o 591 resolveu arrasar de vez com os concorrentes, e
mostrar ao batalhão de reformados e afins que o curso de entrada de 1971 tinha
um novo e definitivo bardo, com uma musicalidade própria de um vegan após ingerir uma minhoca da
salada, atirada do exterior para a travessa, actividade curricular nos anos
setenta em que se permitiam janelas abertas durante a confeção das refeições, revelou-se
um Salvador da Luz. Quando deixou sair o primeiro “zacatraz”, com irrepreensível aprumo e estrénuo labor, os olhos viperinos de um ouro cru já
pareciam querer sair das órbitas, o som foi trazido por um vento e por uma
tempestade inesperada, brilhante, veloz e aterradora, como se fosse, não do
domínio do ar, mas do interior obscuro dos medicamentos para a próstata. No
segundo "zacatraz" as veias pareciam querer sair da careca, sinal de que considerava o “cante zacatriano”
uma arte, a “arte do ruído para além do razoável”. No terceiro “zacatraz” o
curso de 1971 assustou-se, o 591 ultrapassara os limites psicomotores da idade,
sinal preocupante de travadinha iminente. O “traz”, “traz”, o coro dos
camaradas reformados e afins, trouxe um pouco de serenidade ao evento. Mas foi
sol de pouca dura! Nova rajada, que desta vez obrigou a maioria dos camaradas a
tirarem à pressa as próteses auditivas. O Peixinho cantou com um rigorismo
politicamente correto e o final foi apoteótico, comovente, com o cantor
desamparado e inclinado. E tudo isto porque uma escuna francesa de nome "Zacatraz" resolveu um dia fundear junto a Lisboa no início do século vinte e convidar uma resma de Meninos da Luz para uma visita!
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