O Comandante Guélas
Série Paço de Arcos
Futebol P.A. 6
Futebol P.A. 6
Para se conseguir sentir o espírito desta estória convém relembrar as
ameaças do Fininho no início da semana: “ Para tua informação o resultado do
próximo jogo é de 6 – 3”; “O Milhas é da tua equipa e marca dois golos na
própria baliza”! A fixação da memória através da escrita serve para combater a
corrupção, porque o Futebol de Paço de Arcos vive num tempo sem fé, que não nos
dá a energia necessária para acreditarmos, eventualmente, na vitória. A
confiança na modalidade foi abalada pelo binómio Tio Mino / Bola, e a sua
comichão na língua, que semeou a ruína e sacrificou a ética paçoarcoense às
suas ambições desmesuradas, traindo as memórias daqueles que tornaram o
desporto da vila, grande. O Rui Marinheiro, o terceiro ancião na escala
hierárquica, ainda tentou moralizar os amigos no início da época, aplicando num
dos jogos a técnica de corte Katsuramuki a um remate que pretendia fazer, e em
vez de puxar simplesmente a perna para trás como sempre fez nos biqueiros,
torneou-a em redor do esférico, e sentiu a fruta a descair e a fazer barulho como
o carrilhão de Mafra, ao mesmo tempo que revirou os olhos e elevou os ombros.
Foi de novo para o lar fazer Kung Fu, e o Fininho, o quarto na hierarquia, estava outra vez
aos comandos do esférico. Mas desta vez o Sobrinho da Uber, e proprietário do
espaço, só abria a porta com a presença dos pais fundadores, Miguel CG e Choné, que responderam
prontamente ao apelo, trazendo dois assessores, o Focas e o Rato. O confronto
era um clássico 6 x 6! A tática delineada pelo Espalha iniciou-se na distribuição
dos coletes, a pressão sobre o Preto para que não tivesse a habitual amnésia foi uma
constante, e assim o material foi honestamente distribuído. Vedaram o acesso do
Tio Mino ao Milhas, para este não ter a habitual overdose de lamentos e
queixumes, e o Rato foi amarrado à baliza adversária. Quando o Bill iniciou a sua
carreira futebolística tinha como sonho chegar à meia idade com os epítetos de
“revolucionário”, “vanguardista” ou “génio”, mas só conseguiu alcançar o
primeiro objetivo no verão quente de 1975, a jogar bilhar de bolso com o Titó e
o Balacó, quando vendiam “Avantes” na estação de Paço de Arcos. Por isso teve mais
uma vez um começo de jogo difícil, porque é um jogador atípico que não sabe o
que é passar uma bola, limita-se a larga-la, por isso a sua equipa tem sempre de
antecipar-se aos sinais de abandono iminente. E foi o que aconteceu, e assim a
equipa do Fininho aproveitou para marcar dois golos oferecidos de bandeja.
- Ainda podemos ganhar, - gritou o Peidão, tentando moralizar uma equipa
de difícil gestão.
Tarolo, Bill, Milhas, Peidão, Espalha e Zé Miguel, tinham uma missão
ingrata, levar uma vitória para o primeiro jantar do Futebol PA. Do outro lado
estava o temido fanfarrão Fininho, o tio Kiki, o Barnabé (que diz ter sempre
dinheiro no carro, e já não paga há várias épocas, um hábito adquirido pelo
convívio com o Chico Paulo), o Preto, o Caramelo e o Clark Quente. O primeiro
sinal veio do Tarolo quando, num habitual inconsequente contra ataque, tentou
imitar o pai do Clark Quente e, em vez de dar um biqueiro na bola, e colocá-la
no fundo da baliza do Fininho, optou por um Katsuramuki, que obrigou o Choné, o
segundo na hierarquia e o primeiro jogador da nova geração de futebolistas de
bancada, a reagir:
- Burro, deixa-te de marinheirísses!
E graças a Deus tudo aconteceu uns minutos depois quando o Tarolo
tropeçou na bola à entrada da pequena área adversária e empurrou o esférico lá
para dentro.
2 – 1
Com o Tio Mino longe do Milhas, este foi o responsável pelo empate.
Surgiu então a primeira tentativa para anular o feito, mas com o chefe máximo
presente tal foi impossível.
2 – 2
Seguiu-se um novo Katsuramuki do Tarolo, que ia varrendo o presidente, que ficou a saber que nesta modalidade o sítio mais perigoso é a bancada, e o mais seguro é na baliza. O Zé Miguel ainda ensaiou um
“passa ao papá”, mas só marcou após um violento contra ataque com o progenitor
ao lado, mas jogou com inteligência não lhe passando a bola.
2 – 3
Quando o caramelo se apercebeu de que para conseguir jogar teria de estar
constantemente a inverter o padrão de jogo, já era tarde, pois do quarto golo
ninguém se lembra, mas o quinto foi um fenómeno do Entroncamento, mas como as
imagens foram roubadas, ficam as palavras dum jornalista:
- Foi o Katsuramuki porque todos
esperaram ao longo destes 40 anos!
O homem do jogo foi o Sobrinho da Uber, que tem guiado a sua carreira com
audácia e coragem, aparecendo revigorado de jogo para jogo. A sorte do Fininho
mudara, desta vez não conseguiu sentar-se na bola, cair e gritar que é falta. Mas há quem diga que está a tentar trazer da Suíça um padre, para ter a ajuda do Senhor. Ficam as palavras sábias do presidente: "Gostei do que vi, bom futebol, arbitragem impecável, valeu a pena a iniciativa de 1976 na praia de Carcavelos."!
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