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315 estórias

Tuesday, July 03, 2012

Tubarões do Seixo


Camarada Choco

Aventura 88

O Choco já era uma lenda no desporto quando o padrinho, o Stor Pobre, resolveu dar continuidade aos êxitos da Escola para Desaparafusados da Venteira, e passar a dizer sempre “sim” a todos os convites, em todas as modalidades, recusando assim a parte da “recreação” destinada aos “Desaparafusados ao Quadrado” nos encontros  da “Elite dos Desaparafusados”, que só os queriam para a estatística. E tudo começou quando inscreveu os únicos atletas existentes na corrida do ”El Coxo”, uma prova de velocidade extrema à porta da Câmara Municipal, enquadrada na Semana dos Amigos dos Desaparafusados da Amadora. Como só se inscreveu a Venteira, que na altura tinha tenda montada na Brandoa, as medalhas já eram favas contadas. Foi o início da carreira fulgurante da mítica equipa dos “Tubarões do Seixo”, que tem como lema “O “i” cai sempre à entrada do clube”. Na linha de partida cinquenta metros acima da porta principal da câmara, onde se encontravam as entidades oficiais de fato e gravata, alinharam o Peixe Espada, o Saltitão, O Choco, a Zumira Destravada, a Mercedes Esgoto e a Papoila. O tiro de partida iria ser dado pelo vereador, dando assim início à “Semana Desportiva para Todos”, um vasto conjunto de eventos dedicados à saúde, e que iriam mobilizar esta meia dúzia de Desaparafusados, a que se juntariam outros tantos Aparafusados em cadeiras de rodas de competição, dois anões e um marreco. No final a estatística referiria, como já era tradição, centenas de participantes, contando com as pessoas que tinham corrido para apanhar o comboio na estação. Até ser dada ordem para o arranque, o Castanheira agarrava no Peixe Espada para não cair, e servia de encosto à Mercedes Esgoto, enquanto que a Papoila estava de olhos vendados e amordaçada; o Saltitão mexia-se na vertical e o Choco preparava-se para uma partida baixa, estando por isso de gatas. Quando o político juiz levantou o braço para o tiro, sentiu-se uma inquietação, a polícia bloqueou os cidadãos, não se sabe se para os proteger ou para proteger os atletas. Ainda o tiro não tinha sido dado e já os velocistas da atual Venteira, ex-Brandoa, desciam vertiginosamente a avenida, com a Papoila e a Zulmira Destravada a gritarem a plenos pulmões, e o Peixe Espada a ameaçar trincar os paralelepípedos. O Saltitão ficara no mesmo sítio, tendo só aumentado o ritmo dos saltos e a colega Zulmira Destravada optara por uma chiquérrima feijoada, que lhe escorria pelas pernas. Duas horas depois a meta teve de ser encurtada, apesar dos concorrentes estarem sempre à vista,  o almoço do vereador e companhia ameaçava não se concretizar, e um político com hipoglicémia aos comandos dum município, não era aconselhável. O primeiro a chegar foi o Castanheira, que não estava inscrito, arrastava o Peixe Espada, mas mesmo assim levou a taça. E foi assim que começaram os “Tubarões do Seixo”, em competições individuais, mas rapidamente saltaram para os desportos colectivos, atingindo o clímax no futebol, onde todos os golos lhes pertencem, não têm limite de jogadores, dependendo da tática do mister. E foi nestas condições que um dia defrontaram uma equipa maravilha, com adjunto e estatística na hora, que acabou com o adversário à beira de um ataque de nervos, e os pseudo-Desaparafusados a pedirem explicações ao seu treinador acerca dos festejos dos “Tubarões do Seixo”, que saíram a correr do recinto de jogo logo após o apito final e com o resultado de trinta a zero. No último encontro a surpresa foi total, os jogadores da Venteira requisitaram todos os Desaparafusados disponíveis na altura, incluindo um guarda-redes extra, e o embate foi de vinte contra cinco, que deixou o árbitro à beira do suicídio!




 

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