Camarada Choco
Aventura 88
O Choco já era uma lenda no desporto quando o padrinho, o
Stor Pobre, resolveu dar continuidade aos êxitos da Escola para Desaparafusados
da Venteira, e passar a dizer sempre “sim” a todos os convites, em todas as
modalidades, recusando assim a parte da “recreação” destinada aos
“Desaparafusados ao Quadrado” nos encontros da “Elite dos Desaparafusados”, que só os
queriam para a estatística. E tudo começou quando inscreveu os únicos atletas
existentes na corrida do ”El Coxo”, uma prova de velocidade extrema à porta da
Câmara Municipal, enquadrada na Semana dos Amigos dos Desaparafusados da
Amadora. Como só se inscreveu a Venteira, que na altura tinha tenda montada na
Brandoa, as medalhas já eram favas contadas. Foi o início da carreira
fulgurante da mítica equipa dos “Tubarões do Seixo”, que tem como lema “O “i”
cai sempre à entrada do clube”. Na linha de partida cinquenta metros acima da
porta principal da câmara, onde se encontravam as entidades oficiais de fato e
gravata, alinharam o Peixe Espada, o Saltitão, O Choco, a Zumira Destravada, a
Mercedes Esgoto e a Papoila. O tiro de partida iria ser dado pelo vereador,
dando assim início à “Semana Desportiva para Todos”, um vasto conjunto de
eventos dedicados à saúde, e que iriam mobilizar esta meia dúzia de Desaparafusados,
a que se juntariam outros tantos Aparafusados em cadeiras de rodas de
competição, dois anões e um marreco. No final a estatística referiria, como já
era tradição, centenas de participantes, contando com as pessoas que tinham
corrido para apanhar o comboio na estação. Até ser dada ordem para o arranque,
o Castanheira agarrava no Peixe Espada para não cair, e servia de encosto à
Mercedes Esgoto, enquanto que a Papoila estava de olhos vendados e amordaçada;
o Saltitão mexia-se na vertical e o Choco preparava-se para uma partida baixa,
estando por isso de gatas. Quando o político juiz levantou o braço para o tiro,
sentiu-se uma inquietação, a polícia bloqueou os cidadãos, não se sabe se para
os proteger ou para proteger os atletas. Ainda o tiro não tinha sido dado e já
os velocistas da atual Venteira, ex-Brandoa, desciam vertiginosamente a
avenida, com a Papoila e a Zulmira Destravada a gritarem a plenos pulmões, e o
Peixe Espada a ameaçar trincar os paralelepípedos. O Saltitão ficara no mesmo
sítio, tendo só aumentado o ritmo dos saltos e a colega Zulmira Destravada
optara por uma chiquérrima feijoada, que lhe escorria pelas pernas. Duas horas
depois a meta teve de ser encurtada, apesar dos concorrentes estarem sempre à
vista, o almoço do vereador e companhia
ameaçava não se concretizar, e um político com hipoglicémia aos comandos dum
município, não era aconselhável. O primeiro a chegar foi o Castanheira, que não
estava inscrito, arrastava o Peixe Espada, mas mesmo assim levou a taça. E foi
assim que começaram os “Tubarões do Seixo”, em competições individuais, mas
rapidamente saltaram para os desportos colectivos, atingindo o clímax no
futebol, onde todos os golos lhes pertencem, não têm limite de jogadores,
dependendo da tática do mister. E foi nestas condições que um dia defrontaram
uma equipa maravilha, com adjunto e estatística na hora, que acabou com o
adversário à beira de um ataque de nervos, e os pseudo-Desaparafusados a
pedirem explicações ao seu treinador acerca dos festejos dos “Tubarões do
Seixo”, que saíram a correr do recinto de jogo logo após o apito final e com o
resultado de trinta a zero. No último encontro a surpresa foi total, os
jogadores da Venteira requisitaram todos os Desaparafusados disponíveis na
altura, incluindo um guarda-redes extra, e o embate foi de vinte contra cinco,
que deixou o árbitro à beira do suicídio!
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