Comandante Guélas
Série Paço de Arcos
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- Esta ainda há-de ser a casa mais afamada de Paço de Arcos, – prometeu o senhor Xantola, ajeitando as patas do caranguejo grande, pescado junto à saída do esgoto do “Chalé da Merda” (o colector de esgotos da vila) e comprado clandestinamente (livre de impostos) como era e continua a ser tradição nos restaurantes da zona.
- É para lhes dar um ar sensual, – explicou o Xantola ao atento Focas. – Assim, o cliente fica com água na boca e entra, tendo direito a ser atendido pela minha filha Tita-dos-Pés-Sujos, sob visão atenta do seu noivo Bajoulo, que está ali na mesa das imperiais desde ontem à noite. Vai dar um genro de peso!
- O marketing é perfeito, o senhor irá com toda a certeza roubar a clientela ao seu primo galego. O Bajolinho é uma jóia, é um descanso para qualquer pai, – disse o Focas, atirando de mansinho uma santolinha para o aquário dos peixes.
Mas como os exames estavam perto, o estudante Focas despediu-se do senhor Xantola e foi para casa fazer o exame nacional, roubado uns dias antes e agora na posse de todos os estudantes de Paço de Arcos. Só saiu depois do jantar, para se juntar ao grupo de amigos que o esperava no “Áries”, o Centro Comercial junto à estação, onde também se situava o novo restaurante que pretendia fazer sombra ao velho e famoso restaurante “Os Arcos”. A noite iria ser longa, aproximava-se uma “directa”, no dia seguinte um grupo partiria em direcção a Chaves, para desceram o rio Tâmega até Amarante. Só o motorista, tinha recolhido aos aposentos, excitado com a aventura em que se ia meter, não a de descer o rio, mas sim pelo facto de ir passar uma semana com um grupo de adolescentes tenrinhos. Quando a torre da igreja deu as badaladas da meia-noite, o Focas juntou-se aos amigos. Pelas duas da madrugada começou a retirar da parede um cartaz que anunciava a vinda dos “Tubes” a Cascais, e embrenhou-se nas catacumbas do espaço comercial. Apareceu dez minutos depois com algo embrulhado no papel. Parecia um bolo, um tronco de chocolate. Chocolate?! Chocolate não era, mas sim o conteúdo intestinal do velho Focas, o maior cagador de Paço de Arcos e arredores.
- E agora, o que é que faço a isto?
Os amigos recuaram e veio-lhes à memória as férias passadas em Sagres e aquele dia em que o Focas tivera uma dor de barriga e resolvera a questão abrindo uma cova à beira-mar, ao mesmo tempo que assistia a uma partida de “beach-ténis” entre dois turistas. Tentaram atacá-lo durante o acto fisiológico, mas quando estavam a um metro do cagador ele voltou-se repentinamente, agarrou no cagalhão e atirou-o. Felizmente nessa noite não estava nos planos desperdiçar tão formosa escultura. Resolveu espalhá-la pelos vidros do restaurante do senhor Xantola e tapar-lhe as fechaduras. O cartaz dos “Tubes” também ficou colado! Até às dez da manhã o material secaria e o proprietário, mais a sua bela filha, a Tita-dos-Pés-Sujos, iriam ter uma surpresa, e das grandes. Mas a festa não ficou por aqui! As frinchas entre os vidros não estavam tapadas e houve um concurso de escarretas, cujo objectivo era decorar as carapaças das Santolas cozidas que ocupavam a montra. Até com mijas participaram!
No dia seguinte estavam longe, muito longe, e com toda a certeza que as culpas iriam cair direitinhas no já célebre Cocciolo.
1 comment:
Obrigada António! En-can-ta-da com esta "estória" de Paço de Arcos, a q acedi a seu conselho! Um primor de estilo e creio ter tido o gozo de reconhecer algum que outro
dos personagens.
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