Série "Malucos Anónimos"
2
“Não
lhe façam mal que é louco”
-
Fumei a casca da árvore e vi de imediato a santinha e dois anjos do lado
esquerdo, - garantira o Kid Aromas ao Trambolho, vítima de excesso de Psilocibina.
Por
isso de cada vez que via um cogumelo, quando ia a caminho da sua Meca, a
“Árvore Mágica”, colhia-o, guardava-o no bolso esquerdo, para o secar na janela
do quarto, triturá-lo e fumá-lo. E por incrível que pareça os flashbacks
regressavam, em forma de uma Tita dos Pés Sujos atrevida, nua e provocadora.
Recuemos!
O Sete Solas, senhor de uma bota esquerda especial, que compensava a perna
curta, sentiu o cheiro a humidade e secura da velha árvore que resistira a
muitas pragas, mas que iria tombar às mãos desta. Como era muito suscetível, e
não tinha medo de ruturas, a sensação que teve vinha do fundo da sua cabeça,
mais precisamente de um conjunto de neurónios rebeldes.
-
Uma erva gigante, - disse o Pingalim, operário vitalício na Associação Mutualista
dos Malucos de Sintra, há muito acossado por problemas mentais,
tirando uma casca bolorenta da centenária árvore.
O
Sete Solas era constituído por duas partes, uma que sabia tudo, outra que não
conhecia. Sempre que entrava num café apresentava-se:
-
Bom dia, o meu nome é Rebelo, pintor da construção civil de baixa psiquiátrica,
44 anos, e por isso não há puta que me arreganhe a cona!
O
internamento de emergência aconteceu em Cascais quando se aproximou de uma juíza
parecida com uma sueca da Brandoa, e lhe perguntou:
-
Cambien une fudeca?
À
medida que transformava a casca num produto fumável, mordia os olhos. Logo na
primeira passa começou a ver o Labumba, que tinha um império na cabeça, e que
se aproximava, deslocado, como se estivesse num daguerreótipo, e quando a névoa
passou o companheiro de quarto transformara-se numa galinha sexualmente
gostosa.
-
Onde é que arranjaste esse cigarro?
-
Fabriquei-o!
-
Fabricaste-o?
-
Da casca desta árvore!
A
nuvem negra, que há muito lhe tinha borrado o cérebro, levara-o a confundir um
pedaço de papel higiénico, com vestígios biológicos do Pernas de Alicate, com
uma mortalha. A mistura de uma casca de árvore com um traço de cagalhão,
tinha-lhe sugerido uma valente moca, que o embrenhou profundamente num sonho, e
por lá ficou perdido, não sem antes deixar o amigo provar o produto. Este ouviu
imediatamente o som do vento a bater nas copas das árvores, seguido de gritos
estridentes, vindos de trás de portas trancadas, de loucos a uivar, a insultar,
a golpearem as paredes com os punhos. Olhou para o lado esquerdo, e viu uma
porca a voar, com a tromba do Carinha da Avó. Nessa noite metamorfoseou-se
voluntariamente numa menina, e foi a refeição do Labumba, paciente do Gerenrico,
rei da tribo e psicanalista lacaniano.

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