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315 estórias

Saturday, October 11, 2025

A Árvore Mágica

 


Camarada Choco

Série "Malucos Anónimos"

2

“Não lhe façam mal que é louco”

 Miguel Bombarda após ser alvejado pelo tenente Aparício Rebelo em 3/10/1910, no seu consultório, onde o paciente acabara de entrar para uma primeira consulta.


 Dizia-se que em momentos climáticos favoráveis à proliferação do Espigão-do-Centeio, este fenómeno provocava uma alucinação coletiva, que coincidia sempre com acontecimentos históricos, como por exemplo a Revolução Francesa. E já há vários dias que resmas de malucos eram vistos a dirigirem-se lá para os lados das traseiras do Pavilhão 1, e coincidiam com os rebanhos de beatas em direção a Fátima.

- Fumei a casca da árvore e vi de imediato a santinha e dois anjos do lado esquerdo, - garantira o Kid Aromas ao Trambolho, vítima de excesso de Psilocibina.

Por isso de cada vez que via um cogumelo, quando ia a caminho da sua Meca, a “Árvore Mágica”, colhia-o, guardava-o no bolso esquerdo, para o secar na janela do quarto, triturá-lo e fumá-lo. E por incrível que pareça os flashbacks regressavam, em forma de uma Tita dos Pés Sujos atrevida, nua e provocadora.

Recuemos! O Sete Solas, senhor de uma bota esquerda especial, que compensava a perna curta, sentiu o cheiro a humidade e secura da velha árvore que resistira a muitas pragas, mas que iria tombar às mãos desta. Como era muito suscetível, e não tinha medo de ruturas, a sensação que teve vinha do fundo da sua cabeça, mais precisamente de um conjunto de neurónios rebeldes.

- Uma erva gigante, - disse o Pingalim, operário vitalício na Associação Mutualista dos Malucos de Sintra, há muito acossado por problemas mentais, tirando uma casca bolorenta da centenária árvore.

O Sete Solas era constituído por duas partes, uma que sabia tudo, outra que não conhecia. Sempre que entrava num café apresentava-se:

- Bom dia, o meu nome é Rebelo, pintor da construção civil de baixa psiquiátrica, 44 anos, e por isso não há puta que me arreganhe a cona!

O internamento de emergência aconteceu em Cascais quando se aproximou de uma juíza parecida com uma sueca da Brandoa, e lhe perguntou:

- Cambien une fudeca?

À medida que transformava a casca num produto fumável, mordia os olhos. Logo na primeira passa começou a ver o Labumba, que tinha um império na cabeça, e que se aproximava, deslocado, como se estivesse num daguerreótipo, e quando a névoa passou o companheiro de quarto transformara-se numa galinha sexualmente gostosa.

- Onde é que arranjaste esse cigarro?

- Fabriquei-o!

- Fabricaste-o?

- Da casca desta árvore!

A nuvem negra, que há muito lhe tinha borrado o cérebro, levara-o a confundir um pedaço de papel higiénico, com vestígios biológicos do Pernas de Alicate, com uma mortalha. A mistura de uma casca de árvore com um traço de cagalhão, tinha-lhe sugerido uma valente moca, que o embrenhou profundamente num sonho, e por lá ficou perdido, não sem antes deixar o amigo provar o produto. Este ouviu imediatamente o som do vento a bater nas copas das árvores, seguido de gritos estridentes, vindos de trás de portas trancadas, de loucos a uivar, a insultar, a golpearem as paredes com os punhos. Olhou para o lado esquerdo, e viu uma porca a voar, com a tromba do Carinha da Avó. Nessa noite metamorfoseou-se voluntariamente numa menina, e foi a refeição do Labumba, paciente do Gerenrico, rei da tribo e psicanalista lacaniano.


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