O Querido Mister

O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol PA 66

O Futebol PA não se reduz somente ao desporto, há sempre uma parte cultural, que substitui o aquecimento, onde se fala de cultura paçoarcoense. Neste domingo o Sabão trouxe uma dúvida:

- Tio, quem é o “7 Solas”?

Quando o regressado guarda-redes de 3 metros pisou o relvado, foi-lhe atribuída uma alcunha provisória na fase de inscrição, “7 Solas”, a que o agora deputado não compreendeu, tendo passado a semana a dizer que já estava inscrito, mas que o nome não aparecia. A alcunha vitalícia foi de imediato atribuída em campo pelo Fininho:

- Passas a ser o Montebranco, o inverso da cor do nome do teu chefe, que Negro não significa Preto, palavra proibida, mas Cinzento.

Vamos à dúvida do Sabão!

- 7 Solas era um ex-desportista paçoarcoense a quem um infortúnio no futebol lhe fez reduzir o tamanho da perna, com o consequente aumento do número de solas no sapato, - explicou o Tio Fininho.

E o Peidão reforçou:

- Por exemplo, a “Espirro de Punheta” era uma menina de 1,40m. Percebeste a filosofia das alcunhas?

Neste domingo foram batidos vários recordes, a equipa do Fininho marcou um golo aos 5 segundos. Alguém deu um chuto no esférico, que bateu nas costas dum companheiro, e golooooooooo! Mas houve mais escândalos. Um minuto depois o Amuadinho 2 deu um potente biqueiro, e como estava virado para a sua própria baliza, empatou o encontro. A tática da sua equipa mudou de imediato, de cada vez que se aproximava da área do seu guarda-redes, os colegas mandavam-no virar-se para a baliza adversária. O Espalha ganhou 3 vezes, começou na equipa do Fininho, meia hora depois mudou para a outra e na restante meia-hora ganhou 3-2, ou seja, tudo isto num resultado oficial de 5 – 5, mais uma vitória incontestável do Tio Fininho.

No final houve um incidente diplomático, o Sabonete ousou marcar um golo a meio minuto do fim à equipa do Fininho, dois segundos depois de o Pingamisú o acusar de tocar com a bola na mão. Houve discussão, alguém disse que tinha parado de jogar por causa desse aviso, o Fininho confidenciou mais tarde, já fora do relvado, que a sua equipa não parara, já estava parada, e acrescentou:

- Temos de compreender que o Pingamisú entra sempre em campo com meio-litro de branco, e não é leite, no bucho!

- Por isso viu o Sabonete rodeado de 4 bolas, e as probabilidades de uma lhe ter tocado no braço são grandes. A falta foi bem marcada! - Reforçou o Peidão.

Mas porque o jovem ficou desanimado, o Querido Míster foi falar com ele, e explicar-lhe a legalidade da decisão!

A religiosidade do Espalha refletiu-se na baliza, pois ao adversário que metia golo pela direita, oferecia sempre a esquerda no contra-ataque seguinte. Portanto, não era por ter as mãos furadas que sofria tantos golos, mas por ser o evangelizador do Futebol PA, um envagelhodependente.

 

O “Disco de Cifras do Alberti”

 

O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol PA 65

O Futebol PA é uma comunidade de alcunhas, funciona tal como Lisboa funcionava em 1870, a alcunha é o nome, os atletas vêm há 50 anos de todos os cantos do mundo, com os tomates carregados de sonhos, procurando esquecer o passado miserável na modalidade. Neste domingo, devido ao protesto do Al-Berto, um derrotado militante, a escolha das equipas não fez uso do “Algoritmo do Zé Miguel”, mas sim dum documento quatrocentista, que ele dizia ser de um antepassado, o “Duplo Círculo”, 2 círculos concêntricos repletos de letras e algarismos, um dentro do outro, recorrendo-se ao “Disco de Cifros” do florentino, não o cinzento do Benfica, mas sim o pentavô Alberti do Al-Berto.

- E tem um documento oficial passado por um historiador credenciado, com titulatura e cachucho de conde, um tal Dr. Pierre Pomme-de-Terre, – reforçou o jogador que por vezes se apresenta com um cabelo estilo caniche.

Mas o “Disco de Cifros” revelou-se uma fraude, ao Al-berto calhou-lhe uma equipa com todos os sobrinhos (onde ele se incluía), com um guarda-redes da Assembleia de 3 metros, o Montebranco, e aos outros tinha calhado a família Neves, que se inscreveram e não apareceram.

Na eminência de uma manifestação de velhos em pleno relvado, cujo cartaz do Peidão ameaçava aumentar a quota para os sobrinhos, uma forma de custear as fraldas do Pingamisú, o bom-senso optou pelo produto do século 21. A partida iniciou-se com a Equipa do Fininho com dois jogadores a mais. Por momentos todos pensaram que o Cinzento regressara e participara na escolha das equipas. Ao Peidão, e a outros, Deus não lhes deu a graça da inteligência futebolística, por isso o biqueiro é o único gesto técnico que este sabe executar, mas com qualidade, pois é um dos melhores marcadores, a seguir ao Caveirinha que marca com os tomates e ao Bill, neste caso autogolos com a próstata. O Sabão persigna-se de cada vez que entra no relvado, em frente do Altar do Querido Míster, beijando o Cachucho do Fininho. Mas ultimamente geme com o peso da ausência de golos. Mas hoje tirou a barriga de misérias, a opção de beijar na boca do ícone valeu-lhe dois golos, e em ambos o corpo retesou-se num espasmo tempestuoso, estremecendo dos pés à cabeça, e assim ficou por momentos, gozando o orgasmo do golo! Num contra-ataque violento, por breves segundos, o jovem Sabonete teve uma desconexão momentânea, ficou a fazer sapateado em frente a um adversário, dir-se-ia que havia espuma no relvado, o jogo ficou em pausa, exceto o Pingamisú, que continuou a correr para longe da bola, atrás de um esférico imaginado. O Montebranco optou pelo ataque e por várias vezes foi visto a nevar-lhe na cabeça, principalmente nos dois centros que deram origem a golos. O tio Kiki jogou a maior parte do jogo em formato apoplético, tendo posto o Tio Platini à beira de um ataque de nervos. A um dado momento o Zé das Cápsulas começou a deitar fumo dos tomates, saiu do campo, deu um beijinho ao Querido Míster, regressou com remendos para a baliza, e ainda teve tempo de assistir à sua equipa a marcar mais dois golos. O Dr. Sopapo chegou fora de horas, por isso foi para a equipa que tinha menos dois, que passou a ter mais três. Enfim, banalidades!

6-3

Perdeu a equipa do Tio Fininho, menos este, que vestiu o colete no final do jogo quando ainda estava no relvado. O Tio Platini continua a cair em marcha atrás, sinal de que ainda não cortou as unhas.

O Outro

 

O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol PA 64

Neste domingo, 10 de novembro do Anno da Graça de Nossa Senhora da Tita dos Pés Sujos, o encontro começou na bancada quando o Sarapito se insurgiu com os amigos:

- Deixem em paz o Outro, ele já não bate bem, telefonou-me a fazer queixa de vocês.

- Um “intrujoutro”, - disse o Bill do outro lado do mundo.

- Há dois? – Perguntou o Tio Fininho coçando a cabeça.

- Outro & Outro, - concluiu o Bill.

- Pena o Fufa não intervir. Era especialista nestes mistérios, - lamentou-se o Espalha.

- Deixem-no acalmar, foi viver para um convento, mas mesmo assim os diabos perseguem-no. Ele deu muito ao Futebol PA.

Mas o mais grave tornou a ser o resultado, 6-3, perdeu a equipa do Fininho, não o Fininho!

O Caim, um dos filhos do Platini, o outro é o Abel, confidenciou, no início do jogo a um adversário, o Zé Miguel, filho do Peidão, responsável pelo “Algoritmo Futebol PA”, que tremia de cada vez que jogava contra o Zé das Cápsulas, o Dr. Sopapo e o pai, não sabendo ainda que iria juntar-se a estes o temível Pingamisú, após se ter descoberto que a equipa do Fininho preparava-se para iniciar a partida com dois a mais, uma técnica usada antigamente pelo saudoso Cinzento. E o Caim tinha razão, o pai substitui-o na função bíblica, e atirou várias vezes o Abel à parede, de cada vez que este ousava marcar golo na baliza defendida pelo Peidão, a recuperar duma mazela do Padel, onde todos ouviram o estoiro que a sua perna esquerda deu, excepto ele , tendo optado por ir ao fisiatra e não ao otorrino, como seria mais lógico.

Quem se estreou a marcar golos, neste caso indireto, foi o Tio Petroni, fazendo jus ao nome (“Epá é muito mau dar essa alcunha a este santo homem” – insurgiu-se o Sarapito. “Tu nem sabes quem é que é esse paçoarcoense”), acertou na cabeça dum colega e enfiou o esférico no fundo das redes do adversário. Afinal, o nickname caia-lhe que nem uma luva, poupou a cabeça dele gastando os neurónios do outro. Era a economia de saúde pura e dura, especialidade do Conde Petroni, cujo maior feito tinha sido vender a casa com a mãe e a mulher lá dentro!

O Sabão, o Al-Berto e o Sabonete mais uma vez perderam, e não marcaram golos. Aliás este último esteve em formato “Outro” o tempo todo, estava tão escorregadio que a bola de cada vez que lhe tocava deslizava, e ele parecia gritar, “Porque é que eu vim para este Jogo?”!

Os 3 golos da equipa do Fininho saíram dos pés mais improváveis, os do Amuadinho 2, que desta vez optou por não pensar,  usando o clássico “biqueiro”, em vez do “rodriguinho”, técnica exclusiva do saudoso Tio Ricardinho, desaparecido lá para os lados do Bairro Alto.

Para legalizar o resultado do jogo, cujo resultado só poderia ser a vitória do Tio Fininho (Lei 1), os vitoriosos entregaram-lhe um colete que, escandalosamente, ele recusou:

- Perdi porque todos os meus colegas estavam ao nível do Peidão!

Mas o dia acabou com mais uma surpresa, a inscrição do Tio Choné e do Sobrinho Bajoulo, não para a bancada, mas sim para o relvado. Era o regresso dos Neves. Para o circo ficar completo só faltava o regresso do hilariante Outro!

O Grito

 

O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol PA 63

Neste domingo a primeira parte decorreu sem incidentes dignos de registo, houve um golo inesperado aos 5 minutos de jogo, que ficou para memória futura, a perna esquerda dum veterano tropeçou nas unhas do Platini, as suas antenas bateram com violência uma na outra ,provocaram um curto circuito de faíscas e flatos, atirando com o pai do Caim e do Abel ao chão, seguido de um potente espasmo da perna direita, que chocou com a bola, enfiando-a no fundo da baliza defendida por um ex-aluno do Professor Palhaço, que regressou agora ao relvado diretamente da Assembleia.

O segredo do Peidão marcar tantos golos, é que, finalmente, aprendeu a desligar a atividade do córtex pré-frontal na altura do chuto, limitando a perna ao biqueiro, em vez do “rodriguinho. Mas desta vez não quis traumatizar o Sabão no recorde de marcação de golos, e optou por ficar todo o encontro na baliza, para dar liberdade de ação ao jovem. Mas este não aproveitou o bónus e acabou a zeros, derrotado e …. traumatizado.

O Tio Filipa andou confuso o jogo todo, o Tio Al-berto levou várias cuecas seguidas de golo e culpou o Tio Peidão pelo sucedido, mas este foi absolvido pelo Tio Zé das Cápsulas, que foi testemunha juramentada, e confirmou as slipes. Enquanto estudante o Tio Al-Berto também foi aluno do Professor Palhaço, e este acusava-o de não saber distinguir um osso de frango dum osso de Pterossauro. Dai confundir sempre o esférico com uma abóbora. Tinha razão o Esferovite quando, no meio duma alucinação, lhe chamou Cabeludo!

Mas algo de muito grave estava para vir, como uma tempestade a entrar pela costa:

- HAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA – um grito, semelhante ao do quadro de Munch, alucinante, ecoou por Tires, trazido por um vento e por uma tempestade inesperada, brilhante, veloz e aterradora, como se fosse, não do domínio do ar, mas do interior obscuro de um líder socialista.

- Um leitão por aqui? – Perguntou o Caim, o mais perto da vítima.

O jogo parou? Não, o Platini não ouviu, sinal de acústica baixa a juntar aos joanetes, deu um biqueiro no esférico, que saiu pela linha de fundo rasando o poste adversário, que ele viu golo, mostrando ter também necessidade de pedir uns óculos ao Goucha, e o Dr. Sopapo exigiu golo ou penalti. Rapidamente se descobriu que a vítima simulara a queda, à boa maneira da sua madrinha Leitão no parlamento, mas o dano já estava feito, a confusão instalara-se, e o Tio Fininho, a autoridade máxima da Justiça Desportiva do Futebol PA, não estava presente. Cinco minutos de parlamentarismo! O Dr. Sopapo estava a ficar Dr. Sopapo, procurava desesperado o Esferovite para descarregar os argumentos, o Platini não abdicava do seu penalti e o Tio Kiki ameaçava que ir trocar as bolas de Corega nada dentadura de uma namorada por Naftalina, mal acabasse o encontro. O bom senso imperou, afinal a equipa acusada era a do Fininho. Mesmo estando ausente, tornou a ganhar!

5-4