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315 estórias

Thursday, March 16, 2006

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                                                   Camarada Choco
                                                                Aventura 35

- Espanha, isto aqui é Espanha.
- Não, essa palavra não – gritou a Dra. Sem Canudo, interrompendo a aula de Bisca lambida…perdão…Apoio Psico Pilas Gógico , do Cabo mais famoso da Venteira, e continuou. – Atenção ao Bacalhau Pascoal, ele está traumatizado. Desde que a namorada se ausentou para Espanha que o homem se sente um genuíno cornudo. Ninguém o segura em casa, até já atacou o cão da vizinha, confundindo-o com um castelhano.
- Então vou falar do Benfica e do Sporting – disse, titubiante o cabo mais cabo de Portugal.
- Não, essa palavra também não, - alertou novamente a Dra. Sem Cascalho…perdão…sem Canudo. – O colega dele, o Bode, vai contar tudo à mãe e ela depois massacra-me toda a noite ao telefone.
A conversa foi interrompida pelo cumprimento do aluno mais brilhante da Instituição, que fazia questão de dar os “bons-dias” em linguagem estrangeira, depois de ter ido com o Vira-bicos a uma Convenção de Mongas na Alemanha.
- “Broche”, - atirou secamente, com o ar duro dos nórdicos.
A Dra. Sem Canudo estava tão preocupada com o seu Bacalhau, que nem ouviu o “Bom – Dia “ em grego.
- “Chupa-me o Pau” – disse com sapiência o Pitrongas, avançando de imediato para uma saudação em francês, “minete”. – E rodou a língua tão depressa, que se engasgou e tossiu. Como monga com uma formação pessoal das melhores, pediu desculpa pela interrupção das saudações, e justificou. – É um pintelhinho.
Mas o caso da fuga da noiva do Bacalhau para terras de Castela ocupava toda a mente da doutora mais Dra. De Portugal.
Recuemos no tempo.
A noiva do Bacalhau Pascoal nunca deveria ter saído da Azinhaga, nunca lhe deveriam ter tirado os piolhos que trouxera no primeiro dia, e o cheiro a ranço deveria ter sido conservado. O sabão “Macaco” e a escova do piaçaba roubaram-lhe a alma, puseram-na pelada de odores corporais das barracas. E não satisfeitos com esta lavagem existencial, resolveram levá-la para os cavalos em cascais, onde as tias a transformaram numa “dádinha”, mais correctamente, numa “monga dádinha”. De Cinderela a prazo passou a Princesa definitiva, e isso mexeu com a Carolina Caracol. Depressa passou a olhar para os colegas de cima de um pedestal, enterrando para sempre a vista deslumbrante que tinha da barraca da coxa do buço. O Choco já não servia para noivo, o Bibi era muito velho, o Porres era deficiente motor, talvez o Bacalhau fosse o indicado, enquanto fosse proprietário do Ferrari. Mas, o anjo vermelho que morava no seu ombro esquerdo, em substituição dos Pediculus Capitis , dizia-lhe diariamente que ela merecia mais, muito mais, talvez um príncipe árabe!
E o Ferrari do Bacalhau pascoal deixou de ser uma mais valia. A Carolina Caracol…a Dra. Carolina Caracol merecia muito, muito mais. E resolveu dar corda aos sapatos, à traição, deixando para trás o seu Bacalhau, agora reduzido a um miserável deficiente de Cacilhas, e não a um Príncipe da Noruega, como antigamente.