Camarada Choco
Depois do relato arrepiante do pesadelo de dona Pilca, que lhe fez crescer um bigode tipo alentejano, e em que a pecadora contou que tinha caído num caldeirão cheio de Pilas com sabor a “Mon Chérri”, as peregrinas da Roque Gameiro não conseguiram fechar mais os olhos e aproveitaram a ocasião para se confessarem.
- Eu fui muito velhaca para o Cabo – desabafou Dona Pilca. – Vou-te contar um segredo. Fui eu que o convenci a participar no bailado “O Lago dos Cines”.
- Bailado “O Lago dos Cisnes”!?? Estás maluca ó mulher, acorda, vê lá se atinas. Aquilo que eu vi na festa foi o bailado “O Charco dos Sapos” – gritou-lhe madame Tatrícia, levantando-se.
- Ajoelha-te ó pecadora. Tu também tens culpas no cartório – berrou a agora alentejana, puxando-a pelas calças.
- Eu!?? Mas o que é que eu fiz ao maçarico?
- Tu!?? Tu gamaste-lhe a sala, e não só.
- Eu não fiz mais nada – disse a agora dona da sala do Pilas, atirando fumo, com desprezo, para a cara da colega de peregrinação.
- Ai não? Ai não? Quem é que o convenceu a entrar no bailado e lhe disse que tinha o aspecto de um Cisne?
- Um Cisne, aquele Morcego?
- Vá lá, diz que é mentira – desafiou a alentejana. – Não te esqueças que estás em peregrinação e que, se pecares outra vez, vais parar a um caldeirão cheio de morcegos com sabor a sebo.
- Ok,ok, eu disse-lhe que ele era parecido com um cisne, para o tentar fazer esquecer da sala. Mas foi com boas intenções. Agora responde-me a esta: é verdade que ele desmaiou no camarim, antes do espectáculo e tu recusaste-te a fazer respiração boca a boca? Não te esqueças do caldeirão de morcegos!
- Sim. Sim, é verdade. Ele estava ali todo esticadinho, a precisar de oxigénio, mas eu olhei para ele e vi um batráquio.
- Podias ter-te lembrado daquela história em que uma princesa beija um sapo e ele transforma-se no Carlos de Inglaterra.
- Torresmo por torresmo, prefiro o Nacional.
- Ó amiga – desabafou a peregrina Tatrícia, pondo-lhe o braço para cima. – Somos umas pecadoras genuínas. É melhor recomeçarmos a caminhada. O Cabo é o nosso tormento!
E disto isto levantaram-se, ajoelharam-se e rumaram em direcção à Lua que, felizmente para todos, estava para Norte. Meia hora depois um camião tentou atropelá-los, tendo-as confundido com dois coelhos.
Ao amanhecer chegaram à Península de Tróia e, devido ao facto de estarem de joelhos, só pagaram meio bilhete, preço estipulado para anões, marrecos e crianças.
- Ó Pilca, mas isto não é ilegal numa peregrinação?
- Ilegal? Ilegal porquê?
- Porque quem anda é o barco e não nós.
- Ó Tatrícia, querias que nadássemos de joelhos? Ainda algum pescador nos confundia com duas santolas e íamos directamente para a panela.
- Isso não era nada em comparação com o que fizemos ao Peixe-Balão.
O diálogo das duas mártires foi interrompido por uma senhora que lhes perguntou:
- As meninas fugiram de alguma Cerci?
- Cerci, acha que nós temos cara de andarmos numa Cerci? – Indignou-se a dona Pilca.
- Acho, acho, só numa Cerci é que os utentes têm um tamanho desses e bigodes.
- Pois fique sabendo que na nossa Cerci há uma educadora que elimina qualquer pêlo mais teimoso e não deixa vestígios, arrancando até as beiças, se for preciso.
A situação estava escaldante! Uma pequena multidão cercava agora as pecadoras da Roque Gameiro e havia quem ameaçasse chamar as autoridades. A dona Tatrícia levantou-se e tomou conta da situação:
- Calma, calma, eu sou a auxiliar responsável pela reeducação, um pouco difícil, desta anoa de bigode e estava só a ensiná-la a rezar.
Foi trigo limpo! O pessoal dispersou e o barco chegou ao destino. Mas, a vida não estava fácil para as pecadoras. Uma gaivota mais atrevida resolveu despejar o seu conteúdo intestinal sobre a miss Pilca, acertando-lhe em cheio no bigodão. O odor a maresia embrenhou-se pelo nariz sensível da peregrina e alterou-lhe os circuitos cerebrais. Nova alucinação!
O Cabo ocupava agora o lugar da Doutora sem Canudo e a Doutora sem Canudo era o Cabo. A Cerci era um quartel, onde todos andavam fardados. Junto a si passou o Soldado Raso Choco, que estava de faxina aos cães e a si próprio, levando na mão uma travessa recheada de croquetes, que deixou na mesa da entrada do Quartel General.
- Tenente Pintor, é favor de se apresentar no gabinete do Comandante, o General Cabo Pilas.
A conversa foi rápida e incisiva, o Pilas queria que o oficial das Artes Gráficas o pintasse num quadro tipo D. Sebastião, tendo ao seu lado os dois canídeos em posição de combate: de um lado o Virgulino com a máquina de corta relva em riste e do outro o Porres em calções tipo Batatoon. Ainda conseguiu ver a Alferes Espatinha a passar com o seu pelotão de Mongas e a gritar:
- Esquerdo, Direito, Ope dois, esquerda,direita, Ope dois….quero ver todos a marchar direitinho, nem que para isso fiquemos aqui o dia todo.
No dia seguinte ia haver desfile do Batalhão no exterior, com a presença do Grande Minorca, o Generalíssimo Cabo Pilas. No ginásio o Coronel Stror Rico com Bigode tratava da saúde aos magalas mais atrevidos. Noutra ponta do quartel o Major Stror Pobre sem Bigode, inspeccionava o cano do Choco, não fosse ele disparar inadvertidamente durante o desfile. Na sala ao lado a Capitoa Sobrinha da Doutora dava os últimos retoques, com catana, aos bigodes dos mancebos. Era a azáfama geral! O ditador não queria falhas na formatura, todos tinham de ser esculpidos à sua imagem.
A alucinação foi interrompida por uma velhota que, dirigindo-se às peregrinas, lhes perguntou:
- As senhoras podiam dar-me um autógrafo?
- Um autógrafo? – Indignou-se a beata Tatrícia. – Mas, a que propósito lhe vou dar um autógrafo?
- As senhoras não são as célebres meninas do Sado?
- Meninas do Sado!??
- Aquelas senhoras que lavram a terra com as unhas dos pés e têm carrapatos atrás das orelhas.
- Estás a ver ó Pilca? Por tua culpa andámos há dias a arrastarmo-nos pelo Alentejo e o resultado é este: as nossas unhas dos pés estão enormes, os carrapatos invadiram os nossos corpos, as hormonas alteraram-se e os pêlos descontrolaram-se. Agora somos famosas!
Triologia - O Cabo das Tormentas
Parte 2 - As Duas PeregrinasDepois do relato arrepiante do pesadelo de dona Pilca, que lhe fez crescer um bigode tipo alentejano, e em que a pecadora contou que tinha caído num caldeirão cheio de Pilas com sabor a “Mon Chérri”, as peregrinas da Roque Gameiro não conseguiram fechar mais os olhos e aproveitaram a ocasião para se confessarem.
- Eu fui muito velhaca para o Cabo – desabafou Dona Pilca. – Vou-te contar um segredo. Fui eu que o convenci a participar no bailado “O Lago dos Cines”.
- Bailado “O Lago dos Cisnes”!?? Estás maluca ó mulher, acorda, vê lá se atinas. Aquilo que eu vi na festa foi o bailado “O Charco dos Sapos” – gritou-lhe madame Tatrícia, levantando-se.
- Ajoelha-te ó pecadora. Tu também tens culpas no cartório – berrou a agora alentejana, puxando-a pelas calças.
- Eu!?? Mas o que é que eu fiz ao maçarico?
- Tu!?? Tu gamaste-lhe a sala, e não só.
- Eu não fiz mais nada – disse a agora dona da sala do Pilas, atirando fumo, com desprezo, para a cara da colega de peregrinação.
- Ai não? Ai não? Quem é que o convenceu a entrar no bailado e lhe disse que tinha o aspecto de um Cisne?
- Um Cisne, aquele Morcego?
- Vá lá, diz que é mentira – desafiou a alentejana. – Não te esqueças que estás em peregrinação e que, se pecares outra vez, vais parar a um caldeirão cheio de morcegos com sabor a sebo.
- Ok,ok, eu disse-lhe que ele era parecido com um cisne, para o tentar fazer esquecer da sala. Mas foi com boas intenções. Agora responde-me a esta: é verdade que ele desmaiou no camarim, antes do espectáculo e tu recusaste-te a fazer respiração boca a boca? Não te esqueças do caldeirão de morcegos!
- Sim. Sim, é verdade. Ele estava ali todo esticadinho, a precisar de oxigénio, mas eu olhei para ele e vi um batráquio.
- Podias ter-te lembrado daquela história em que uma princesa beija um sapo e ele transforma-se no Carlos de Inglaterra.
- Torresmo por torresmo, prefiro o Nacional.
- Ó amiga – desabafou a peregrina Tatrícia, pondo-lhe o braço para cima. – Somos umas pecadoras genuínas. É melhor recomeçarmos a caminhada. O Cabo é o nosso tormento!
E disto isto levantaram-se, ajoelharam-se e rumaram em direcção à Lua que, felizmente para todos, estava para Norte. Meia hora depois um camião tentou atropelá-los, tendo-as confundido com dois coelhos.
Ao amanhecer chegaram à Península de Tróia e, devido ao facto de estarem de joelhos, só pagaram meio bilhete, preço estipulado para anões, marrecos e crianças.
- Ó Pilca, mas isto não é ilegal numa peregrinação?
- Ilegal? Ilegal porquê?
- Porque quem anda é o barco e não nós.
- Ó Tatrícia, querias que nadássemos de joelhos? Ainda algum pescador nos confundia com duas santolas e íamos directamente para a panela.
- Isso não era nada em comparação com o que fizemos ao Peixe-Balão.
O diálogo das duas mártires foi interrompido por uma senhora que lhes perguntou:
- As meninas fugiram de alguma Cerci?
- Cerci, acha que nós temos cara de andarmos numa Cerci? – Indignou-se a dona Pilca.
- Acho, acho, só numa Cerci é que os utentes têm um tamanho desses e bigodes.
- Pois fique sabendo que na nossa Cerci há uma educadora que elimina qualquer pêlo mais teimoso e não deixa vestígios, arrancando até as beiças, se for preciso.
A situação estava escaldante! Uma pequena multidão cercava agora as pecadoras da Roque Gameiro e havia quem ameaçasse chamar as autoridades. A dona Tatrícia levantou-se e tomou conta da situação:
- Calma, calma, eu sou a auxiliar responsável pela reeducação, um pouco difícil, desta anoa de bigode e estava só a ensiná-la a rezar.
Foi trigo limpo! O pessoal dispersou e o barco chegou ao destino. Mas, a vida não estava fácil para as pecadoras. Uma gaivota mais atrevida resolveu despejar o seu conteúdo intestinal sobre a miss Pilca, acertando-lhe em cheio no bigodão. O odor a maresia embrenhou-se pelo nariz sensível da peregrina e alterou-lhe os circuitos cerebrais. Nova alucinação!
O Cabo ocupava agora o lugar da Doutora sem Canudo e a Doutora sem Canudo era o Cabo. A Cerci era um quartel, onde todos andavam fardados. Junto a si passou o Soldado Raso Choco, que estava de faxina aos cães e a si próprio, levando na mão uma travessa recheada de croquetes, que deixou na mesa da entrada do Quartel General.
- Tenente Pintor, é favor de se apresentar no gabinete do Comandante, o General Cabo Pilas.
A conversa foi rápida e incisiva, o Pilas queria que o oficial das Artes Gráficas o pintasse num quadro tipo D. Sebastião, tendo ao seu lado os dois canídeos em posição de combate: de um lado o Virgulino com a máquina de corta relva em riste e do outro o Porres em calções tipo Batatoon. Ainda conseguiu ver a Alferes Espatinha a passar com o seu pelotão de Mongas e a gritar:
- Esquerdo, Direito, Ope dois, esquerda,direita, Ope dois….quero ver todos a marchar direitinho, nem que para isso fiquemos aqui o dia todo.
No dia seguinte ia haver desfile do Batalhão no exterior, com a presença do Grande Minorca, o Generalíssimo Cabo Pilas. No ginásio o Coronel Stror Rico com Bigode tratava da saúde aos magalas mais atrevidos. Noutra ponta do quartel o Major Stror Pobre sem Bigode, inspeccionava o cano do Choco, não fosse ele disparar inadvertidamente durante o desfile. Na sala ao lado a Capitoa Sobrinha da Doutora dava os últimos retoques, com catana, aos bigodes dos mancebos. Era a azáfama geral! O ditador não queria falhas na formatura, todos tinham de ser esculpidos à sua imagem.
A alucinação foi interrompida por uma velhota que, dirigindo-se às peregrinas, lhes perguntou:
- As senhoras podiam dar-me um autógrafo?
- Um autógrafo? – Indignou-se a beata Tatrícia. – Mas, a que propósito lhe vou dar um autógrafo?
- As senhoras não são as célebres meninas do Sado?
- Meninas do Sado!??
- Aquelas senhoras que lavram a terra com as unhas dos pés e têm carrapatos atrás das orelhas.
- Estás a ver ó Pilca? Por tua culpa andámos há dias a arrastarmo-nos pelo Alentejo e o resultado é este: as nossas unhas dos pés estão enormes, os carrapatos invadiram os nossos corpos, as hormonas alteraram-se e os pêlos descontrolaram-se. Agora somos famosas!
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