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315 estórias

Friday, January 26, 2018

O Holocausto do Carcaça








O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol P.A. 36


O dérbi da semana foi emotivo, com polémicas prontamente resolvidas por um senhor do futebol, o Chico Paulo, que tinha instalado nas suas chuteiras padeleiras um VAR, enfrentando as queixas de uns e de outros. Mas comecemos do princípio:
- Demoram muito tempo a escolher, - gritou o Carcaça para o assustado Peidão, que não conseguia vislumbrar nenhum jogador da sua geração, assustado por uma possível travadinha colectiva.
A pouco e pouco o Carcaça está a tornar-se um “mito em processo”, porque se especializou a sacudir bolas para longe. Este domingo atreveu-se a escolher como equipa um molho de atletas que tinha por perto, e sofreu um holocausto: 7 – 2! A propósito de Marinheiro, soube-se que o Clark Kent, que em campo espanta todos com ziguezagues que demonstram omissões graves na arte do futebol, tinha ido fazer queixa ao pai, campeão de karaté na classe tetraplégicos, de ter sofrido “Boling” devido aos excessos de “REMATA” com que tinha sido agredido pelo Peidão & Fininho. Ficou por isso em casa a rever o manifesto da Oprah Winfrey, emprestado pela Judite, tentando arranjar elementos para os acusar de “assédio futebolístico”! Na ausência do Fininho, que foi o vencedor absoluto deste encontro, porque os vitoriosos tradicionalmente oferecem-lhe a vitória, o Chico Paulo, futebolista padeleiro de bons princípios morais, honesto e profissional, foi logicamente o árbitro da partida. Existiram razões objectivas para o desaire do Carcaça, nomeadamente ele próprio e o Chico Marinheiro, e a escassez de real qualidade do plantel, onde não havia defesas, nem meio campo, mas sim um conjunto de brincas-na-areia. No Futebol P.A. a velhice é sinal de qualidade, como o vinho do Porto, é por isso que o ousado mister Peidão escolheu o Chico Paulo, o Ronaldo da vila, que sabe sempre desmaiar na altura certa, ocasião em que a bola tabela em qualquer parte do seu arredondado corpo, e vai sempre direta para o fundo da baliza. Espera-se que o Viagra e as chuteiras do Incha Padel não influenciem esta maneira harmoniosa de progredir com o esférico, e o tornem num atleta consciente. Antes do pontapé de saída, e com os jogadores ainda à procura do seu lugar no campo, o Peidão fez suas as palavras do Garibaldi:
- “Não ofereço nem recompensas (isenção de pagamento), nem casas (está a aumentar a sua com as quotas dos outros), nem comissões (são pagas ao Fininho). Ofereço fome, sede, marchas forçadas, batalhas e morte (o Paulão). E não hesitou em faltar à verdade para levantar o moral dos seus atletas:
- Marca Burren, tu és como o Clark Kent!
 E por último o homem do jogo, o Paulão, que jogou sempre em modo de toiro enraivecido mesmo a cilindrar o adversário, varreu todos aqueles que se atreveram a cruzar-se no seu caminho, amigos e inimigos, que o diga o Dédé, que foi visto a voar várias vezes. O pai Choné tem razão:
- “Quem manda no futuro é o presente e não o contrário!”

Monday, January 15, 2018

Remata!






O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol P.A. 35


“Remata” foi eleita a palavra bulling neste domingo solarengo em que um dos jogadores veio de pijama, o famoso médio campista Rafael Marques. Mais uma vez a vitória coube ao Fininho, um elemento essencial para manter a qualidade desportiva do Futebol P.A. e a sanidade mental, da qual o Espalha tem dúvidas, pensamento que afeta gravemente o visado, do Tigre de Bengala. O Clark Kent veio para o jogo traumatizado com os acontecimentos no Torneio da Sueca em Tondela, e não jogou futebol, mas sim dominó:
- A culpa é da polícia, que não classificou aquele jogo como um encontro de Risco Elevado, e agora arrisco-me a ir abrir o noticiário em Viseu.
E a equipa do Peidão teve de gramar com este artista, irmão do lendário Chico e filho de um mestre de Kung Fu com chuteiras que, em cada contra ataque, dava dois passos para trás e um para a frente, acabando invariavelmente por atrapalhar a sua própria defesa, e a ser o causador de dois dos três golos da equipa do Caramelo, porque de cada vez que se sentia encurralado dava um biqueiro para onde estava virado. E como a imparcialidade é uma característica destas atas, o Carcaça foi o autor, contra todas as perspectivas e a seriedade estatística do Fininho, de um golo consciente, após ter escorregado no capachinho do Choné, que tapa a marca da grande penalidade da baliza mais perto do hotel do dono do campo. O Dédé, um brinca na areia do tamanho do Marques Mendes, esteve em estilo carrossel, na grande área adversária, tendo influenciado negativamente a maioria dos colegas, o que levou o condutor, contabilista no final do jogo, da equipa, a lançar uma campanha de sensibilização ao golo, através de um feed-back pedagógico: Remata! Mas o inesperado aconteceu. A palavra não fazia parte do léxico do Clark Kent, ou Faisão caso esteja a jogar com carrapito, e este reagiu estilo Chico Marinheiro, gritando desesperado por silêncio, ato prontamente aproveitado, em termos táticos, pelo Fininho, que nunca mais lhe deu descanso. O Primo do Chico Paulo (Chico este que insiste em utilizar os ténis padeleiros neste jogo viril, dando sempre a sensação de jogar em pantufas, com pezinhos de lã) um jogador que demora meia hora a equipar-se, e que põe Vick Vaporub nas pernas, finalmente expressou-se neste jogo que é sempre intenso, e pediu tréguas para o Faisão:
- Deixem o galináceo em paz, senão perco o jogo!
E perderam! Justiça seja feita ao Maninho Ensina, um livre pensador híbrido, que joga sempre em anóxia na direcção oposta à da sua equipa, mas que desta vez mostrou a todos, a arte de bem dominar as bolas, tendo feito jogadas dignas de manual, e correspondido ao apelo do responsável máximo da sua equipa, hierarquicamente logo abaixo do Fininho, que jogava do outro lado da barricada:
- REMATA!

Tuesday, January 09, 2018

O Tigre de Bengala










O Comandante Guélas
 Série Paço de Arcos
Futebol P.A. 34

No dia sete de janeiro do Ano da Graça de dois mil e dezoito  ficarão para a eternidade dois nomes do Futebol PA: Carcaça e Tigre de Bengala! O primeiro porque marcou o primeiro golo de um novo ano, de ricochete quando corria em direcção à linha lateral, o segundo, o Milhas, um paradoxo desportivo de Paço de Arcos, que todos pensavam ter sido curado pelo Tarolinho quando o arremessou sem piedade de encontro a ele próprio, tirando-o do campo para gládio de todos os amigos. Rachou o rádio, mas rasgou o cérebro. Por ter continuado a jogar no Whatsapp contra o Fininho, um improvisador inesgotável, cheio de ruídos dos fantasmas do passado, e o Espalha, um experimentador compulsivo, cheio de memórias do antigamente, ganhou uma nova alcunha, a juntar a Soneca, Azias, Beduíno e Milhas: Tigre de Bengala! Previam-se mudanças na dinâmica de jogo, quando o psiquiatra lhe desse alta por cada golo que a sua equipa sofresse o Fininho gritaria não o clássico “obrigado Zé”, mas sim “obrigado tigre de bengala”, ou, “Milhas queres a bengala para jogar?”. A escolha das equipas coube a dois veteranos, o Caramelo e o Peidão, que sabiamente escolheram os atletas que pensavam estarem ainda aptos para darem uns chutos na bola. Por isso o golo em situação de distração do Carcaça tornou-os arrogantes, julgaram que já tinham no papo a primeira vitória do novo ano. O Chico Paulo pensou que a performance continuava nos sapatos do Padel, um jogo de reformados parecido com o Dominó e o Milho aos Pombos, mas o Fininho toureou-o durante toda a partida, e várias foram as vezes em que gritou “olé”, após dribles fabulosos. A equipa do Peidão estava imparável, motivada, coesa, por isso o capitão da equipa marcou um fabuloso golo de fato e gravata, e ao Paulão, o demolidor do Futebol P.A. E isto merece um replay! O canto foi marcado com mestria, o contabilista do Futebol P.A. pensou elevar-se na altura certa, e quando se preparava para cabecear, a bola deslizou pelo pescoço, e saiu disparada para as mãos do filho mais velho do Choné, que estavam rotas, e aceleraram o esférico para o fundo da baliza. É nestes encontros que se vê a aposta que o Choné faz nos filhos: o Maninho Ensina estava possuído, o ar da bomba não era o habitual dióxido de carbono, mas sim hidrogénio, porque o oxigénio está caro, o Paulão mostrou estar com caibras nas mãos, sinal de ausência de bananas à refeição, e respectivo défice de potássio; apostou tudo no Tarolinho, que fica aviado com um Hambúrguer Natura, e este correspondeu com um golo consciente.