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315 estórias

Tuesday, December 28, 2021

American Language Course

 


O Comandante Guélas

Série Colégio Militar

A vida é uma longa viagem com um mapa feito por um idiota, por isso somos sempre um misto de essência e de circunstância. Os ratas que conseguiam absorver uma nova personalidade por entre as personagens complexas que os rodeavam, tinham mais hipóteses de sobreviver no sistema. O Colégio Militar dos anos setenta do século passado, tal como Hogwarts School, era um espaço educativo muito à frente no seu tempo, onde a magia acontecia num Laboratório de Línguas. Aqui os Meninos da Luz eram sujeitos ao “American Language Course” que, tal como nas cavalariças lá para os lados da Formação, os cavalos, perdão, os “senhores alunos”, estavam distribuídos por boxes, cada uma equipada com microfone, auscultadores e gravadores de bobines semeados de botões multicolores. Ao longe, num estrado com uma consola futurista, estava o professor, que dirigia as operações, dando início à aula pré-gravada e ouvindo individualmente o desempenho dos alunos, que eram obrigados a responder à voz vinda de outro mundo:

- Good-Morning!

Coro: Good-Morning!

- How are you?

Coro: I’m fine, thank you!

O “Teacher” tinha um ritual, antes de pôr os auscultadores abria a aba do blêizer, parecendo uma águia a abrir uma asa, e tirava uma caneta de uma resma que ocupava todo o pano. Iria ser com ela que distribuiria os mais e os menos na folha com o esquema da posição dos alunos. A vida no Colégio Militar nos anos setenta era dura, desprovida de sentimentos éticos, com uma justiça sumária que causava duas sensações, o que a aplicava estremecia de prazer, o que a sofria estremecia de dor. Todas as aulas decorriam lá para os lados do Zimbório. Todas? Todas não, houve uma turma que não saiu do Geral das Companhias, o 2º B, cujas aulas eram ministradas por baixo da soca. Começaram por ser trinta e seis anjinhos fardados de cotim no 1º B de 1971/72, perdendo sete alminhas para uma nova turma no 2º período, o 1º E, comandadas pelo Peidão tendo como adjunto o Horrível. A tempestade perfeita aproximava-se do chefe 191, o 289, o Stratopel, cuja entrada naquele espaço cheio de pergaminhos era um mistério, uma vez que só possuía meia dúzia de neurónios, que nunca conseguiram fazê-lo acertar o passo, sendo por isso o alvo preferido dos biqueiros dos graduados, seria um dos deslocados e iria pôr, umas semanas mais tarde, um conjunto de psicopatas frente a frente com o Peidão, numa noite no Geral da Companhia, onde descarregariam todas as suas frustrações até este cair exausto no chão. Enfim, banalidades da Luz que não deixaram marcas na maioria, mas que fez com que uma minoria de gente boa ficasse a odiar o Colégio Militar para sempre. De manhã tinha havido problemas com o professor de matemática, o Gunga, que não respeitava a ética do limite. Chegara à formatura junto à sala de aula, de óculos escuros, impossibilitando o chefe de turma de dar as ordens necessárias à formatura: “firme”e “siope” (voltado para os colegas), “direita volver” (duas vezes sozinho), ficar de frente para o professor em sentido, continência, autorização, mais dois “direito-volver” sozinho, “esquerda volver” para todos, passo de corrida para a frente da primeira fila e ordem “em frente marche”, ao mesmo tempo que se deslocava lateralmente para a fila do meio, que recebia a mesma ordem quando o último da primeira entrasse na sala, seguido de passagem para a terceira fila, sendo depois o último a entrar, seguido do Gunga. Todos ficariam em sentido junto às carteiras, até receberem ordem para se sentarem. Mas o ”firme” não saía, o chefe de turma não conseguia dar a ordem, à sua frente os colegas riam, atrás de si o Gunga mirava-o do seu metro e noventa, com um ar imperial.

- Estou a ver que temos festa, - ameaçou o único professor de matemática que entregava os testes 10 minutos depois de os recolher.

Tudo correu na perfeição exceto a entrada. A turma, num ato de suicídio coletivo, continuou a marchar dentro da sala de aula, fazendo um barulho infernal com as botas. Não tiveram autorização para se sentarem, ou melhor, a ordem só foi dada depois de o Gunga ter distribuído abrunhos duplos a toda a turma, que permaneceu sempre em sentido durante o ato pedagógico.

A aula que decorria na sala do 2º B era de francês, ministrada pelo “François”, um ciborgue, um humano equipado com um aparelho auditivo, que acabara de ser vítima de bulling noutra turma, quando os alunos decidiram só mexer os lábios na altura da resposta às questões do docente, fazendo-o pensar que a culpa de não os ouvir era do volume do aparelho, por isso aumentou-o, sendo de imediato envolvido por uma gritaria, que o obrigou de novo a rodar o botão do volume, novamente para perto do mínimo. O espaço onde decorria a aula tinha três varandas, por isso de cada vez que o docente escrevia no quadro, os alunos das últimas carteiras trocavam de lugar com os das primeiras através das varandas. Assim tornava-se impossível classificá-los através de perguntas orais, pois estes não correspondiam ao mapa da distribuição de lugares.

- Lá para traz, - ordenou ao 200, que cumpriu com todo o brio.

Mas bastou escrever o “Avoir” no quadro para este voltar à carteira da frente.

No primeiro andar dos claustros o Moreira gritava desesperado com os alunos que tinham acabado de lhe atacar o armário, mal abrira a porta, recheado de Bolama:

- Bós sois piores que os ciganos!

Na semana anterior tinham-lhe tirado os fundos do armário e por isso quando se preparava para iniciar o complemento do ordenado, já com uma fila de clientes devidamente ordenados, e com distância de segurança, das bolas de Berlim e dos mil folhas só restava algum açúcar e umas poucas páginas.

Quando outro professor pôs os auscultadores para dar início ao American Language Course, um “senhor aluno” aproximou-se do microfone e gritou:

- Óó Tabiii, chupa aquiiii”.

Mas quem chupou foi o autor da brincadeira, o Fogaça, várias murraças na carcaça, ao mesmo tempo que sentia o vibrar dos gritos do professor, uma mistura incompreensível entre português e inglês, neste caso “amaricano”. De regresso ao estrado apanhou o Elefante a mastigar:

- Cospe para a minha mão a pastilha elástica, - ordenou.

Com o "senhor aluno" em sentido esfregou-a no cabelo.

- Vai para o barbeiro!


Sunday, September 12, 2021

12 de setembro de 2021

 



O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol P.A. 53

Este domingo a Supertaça “O Regresso dos Coxos” ficará para sempre assinalada como o encontro com mais tempo de casos do que de jogo jogado. O regresso do Brinca na Areia em formato leitão, que mesmo assim marcou dois golos, e não sete como era tradição, e um deles de ricochete, tal como os amigos do pai. O homem do jogo foi o Maninho Ensina com uma fabulosa jogada individual, da sua baliza até às redes do adversário, onde introduziu, não as suas bolas, mas o esférico, a seco e a frio, tendo esta jogada sido classificada como “Maninho-Milagre”, que é agora um novo desafio para o Ronaldo. O mano Trazfácil também deu nas vistas quando foi à baliza, dois fabulosos frangos com molho de alho e manteiga; o Taroulo apresentou-se em versão Dele, e teve de sair a meio lesionado com calos nos pés; o Calcinhas passou mais tempo no balneário a beber água, do que no campo a jogar. A assistir a tudo isto do banco esteve o responsável por esta Ínclita Geração que, talvez por vergonha, abandonou o local cinco minutos depois de ter entrado. Mas também foi o regresso do Esferovite, primeiro disfarçado no exterior com barba e bigode, não fosse aparecer o Doutor Sopapo, depois convidado para o ataque da equipa do Fininho, onde foi um dos protagonistas do golo, mesmo a jogar de pantufas, que deu a vitória à equipa do Fininho, a única tradição que se manteve. E a fama do Futebol PA é tanta que o Barcelona pediu para o Martin Braithwaite jogar na equipa do Pingamisú, onde quase ia tirando a cabeça ao Peidão quando este se preparava para marcar um soberbo golo de cabeça, mas fez mal os cálculos e a bola caiu aos pés do dinamarquês que estava atrás dele. O Talisca foi o responsável por um minuto de silêncio pelo Caveirinha, quando deu um biqueiro na bola e acertou-lhe em cheio no coco. O pré-reformado congelou, nem um som se ouvia do seu interior, os membros inferiores pararam, o olhar era vazio, por momentos esperou-se o pior, iria esta lenda do Futebol PA para o banco, junto ao Dele? Ou pior, para o Milho ao Pombos como o pai do Dele? Mas eis que o milagre acontece quando o Caveirinha gritou a plenos pulmões:

- 2 mais dois são quatro!   

  

Saturday, July 03, 2021

Jogos sem fronteiras

 




O Comandante Guélas

Série Colégio Militar

O Menino da Luz é uma unidade íntegra e única, falar dele é recordar fragmentos, ficções, fantasmas, a vida é constituída por grandes e pequenos afetos. Esta estória vai-nos conduzir de jogo em jogo, inebriando-nos, numa alquímica busca das raízes culturais mais profundas deste espaço único, um local construído por muitos, durante muito tempo. O produto do 664, “La Vache que Rit”, era o motivador do jogo que decorria em simultâneo com os verbos “Être” e “Avoir” debitados pelo professor, triângulos de queijo francês cruzavam o espaço aéreo da sala, e quando acabou, por exaustão do material que já se confundia com o branco das paredes, os atletas fizeram o retorno à calma através de perguntas em voz baixa, que obrigaram o François a aumentar o volume do som da prótese auditiva, altura em que se apercebeu estar a ser vítima de buling, os étudiants passaram para um coro de gritos. Numa das camaratas da terceira companhia, transformada em Cabo Canaveral, o 224 puxava, mais uma vez, tudo o que lhe entupia o nariz, e lançava na vertical o conteúdo amarelado tentando colá-lo ao teto onde, sobe o efeito da gravidade tentava sempre voltar à base, mas que, por razões de densidade e química, transformava-se numa soberba estalactite. Quem se deitasse nos anos setenta do século passado na cama do Fogaça e contemplasse a abóboda celeste via-se transportado, por momentos, para uma galeria nas grutas da serra de Aire e Candeeiros. O jogo mais atrevido, ir até à zona vermelha e trazer uma prova, passou-se nos anos noventa, quando alguém trouxe as estrelas de prata do gabinete do Dito, uma oferta da filha, que lhe iriam ser colocadas nos ombros, e obrigou o Colégio Militar a entrar em “Defcom 1”. Na aula do Feio, cujo tema eram os eternos “Descobrimentos”, um dardo improvisado, uma borracha e uma agulha, cruzava o espaço aéreo, e tinha como alvo a parede contrária onde o lançador pretendia espetá-lo. Mas por razões não esclarecidas o objecto evaporara-se e todos tentavam encontra-lo, incluindo o 120 em cuja cabeça ele se espetara.

- Miolos no teto, miolos no teto, miolos no teto, oeh, oeh, oeh, oeh, ooh, – gritava-se algures numa sala do primeiro andar do Zimbório, seguido de um “BUM” que fez estremecer o local.

O jogo começara com uma manta e quase ia vitimando o Bola quando umas das pegas se rasgou na fase de aterragem. Por isso o Pencas não quis arriscar, trazendo desta vez duas mantas e um pássaro mais maneirinho, o Mosca, que foi arremessado com vigor conseguindo deixar no teto uma pegada estilo Armstrong.

Bufar-se com estrondo na altura em que o carrasco-Mor da companhia dera início à sessão de tortura, uma brincadeira das noites frias de inverno, mais conhecida por “Firmeza”, não era aconselhável de todo, mas a tripa do Leitão traiu-o, e o petardo deu a sensação de estarem no São João, provocando a risota geral, uma humilhação intolerável para os adolescentes com estrelas aos ombros armados em rufias, e alguns com tendência para a psicopatia. Houve uma imediata distribuição de biqueiros e pena sumária para o prevaricador. E a festa brava prosseguiu pela noite dentro!

- Façam pela vida, - aconselhou o professor Oliveira, mais conhecido como Baco.

A inspeção ao andamento dos trabalhos manuais, que teimavam em não sair da fase da bola de barro, porque de cada vez que virava as costas o cinzeiro do 69 voltava à forma primitiva, e tudo graças aos murros dos colegas no material, desesperava o docente, que não se apercebia de outro jogo que decorria em simultâneo, o arremesso de barro contra a parede branca, que mais parecia um cenário de guerra polvilhado de estilhaços de granadas.

O tempo era de “Estudo”, o último do dia, e o professor resolvera faltar, obrigando o Chefe da Turma, o Peidão, a manter em silêncio uma turma de trinta e dois macaquinhos com bicho carpinteiro, e se não o fizesse o oficial de dia, o Aparício, um meia-leca com uma tabuleta pregada na farda a dizer “comandos”, ameaçara-o fazer-lhe a folha por “incompetência”. E para agravar a situação o 289, Stratopel, que, além do bicho carpinteiro, tinha também graves problemas nos carretos, mas nestes tempos muitos progenitores pensavam que o Colégio Militar era o local indicado para curar riscos nos cromossomas, resolvera desestabilizar ainda mais a turma. Foi o alvo de um jogo de “Bullying Farmacêutico”, sendo imobilizado no estrado para que cada camarada lhe conseguisse despejar, sem desperdiçar o produto, o conteúdo das cápsulas de óleo de fígado de bacalhau, o complemento alimentar da moda e presente na maioria das carteiras. Entrou Stratopel, saiu Texugo!

A estória acaba com a avó do Boinga que, devido às modernices, instalar um telefone público no recinto, recebeu um telefonema colegial a ameaçarem raptar o seu bambizinho. Contactou de imediato o Dito que decretou o alerta geral.


Monday, June 07, 2021

Fundação Pingamisú

 



Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol P.A. 52

Este domingo ficou mais evidente a urgência do Futebol PA, com 45 anos de existência, evoluir para uma Fundação, e a mais provável será a Fundação Pingamissú, uma vez que é pai de um jogador da casa emprestado ao Benfica, e que futuramente renderá uns milhões à bolsa do Peidão, o contabilista, que prometeu erigir a obra, tendo este domingo iniciado conversações com o sobrinho do Isaltino, na altura em que este estava à baliza. Prometeu terreno e autorização para uma estátua de Daniel Martins de Almeida à entrada em que, por apenas 1 euro, o visitante poderá ouvir o “É Motorista” (https://youtu.be/yxs1F_05oP4). As instalações contemplarão um Lar do Jogador, estando os quartos números 1 e 2 já reservados, respectivamente, para o Presidente e o Choné, com fraldas incluídas. O resumo do jogo deste domingo dia 6 de junho do ano da Graça de 2021 ficou a cargo do herdeiro de Oeiras:

“1 vitória e 2 empates; A) Jogo Corrido: resultado antes da ponderação regulamentar 4-8; 2 golos do Fininho na Própria e oferecidos à equipa, 6-6 (1 empate); B) Autogolo do Caveirinha com nota artística 10, vale 5 na própria equipa, 9-6 (1 vitória); C) Espalha na baliza, por 4 períodos de 10 minutos, 2 golos marcados e 2 sofridos (1 empate); resultado final após ponderações regulamentares, 1V + 2 Empates”.

A prestação do Caveirinha na baliza foi digna de um jogo de voleibol, pois o autogolo pareceu mais o comportamento de um distribuidor, do que de um “enterra-equipa”. Aliás o comportamento pós-covid do Caveirinha, resultado da Astrazeneca, sofreu alterações. Antes da pandemia marcava todos os golos de ricochete, mantinha-se estático na grande área adversária e os colegas limitavam-se a acertar-lhe com a bola na esperança dela ir direta para os fundos da baliza adversária; agora salta, por isso ninguém consegue acertar-lhe, e até agora golos nem vê-los, por isso o Peidão evoluiu e “pinga” em todos os encontros. O Ricardinho bateu o recorde de hérnias discais no domingo anterior, seis só num jogo, por causa de um salto estilo Caveirinha. Daí a urgência do asilo para atletas!

 Pela primeira vez uma das equipas teve um treinador na bancada, o Bastonário, que se limitou a escolher a equipa e a levá-la à vitória, resultado que foi alterado posteriormente na secretaria depois de visualizado pelo VAR, o senhor Luís de Espanha, e devido a doping do Maninho Ensina, a bomba de ar estava cheia de GPL. O Choné anda a investir tudo na educação do Calcinhas! O Al-Berto cada vez se parecesse mais com o Dic a jogar, de cada vez que entra na grande área adversária opta pelos rodriguinhos em vez do clássico biqueiro em direção às redes.

Peidão, Peidinho, Al-Berto, Sabão, Fininho, Espalha, Paisagista (irmão do Dedão), Lobo, Caveirinha versus Balão, Almeida (que dormiu na casa do anterior e é parecido com um paçoarcoense famoso), Tio Kiki, Pingamisú, Dedão, Coiote (amigo do Lobo, da turma do Maninho Ensina), Maninho Ensina, Bastoninho.


Monday, May 24, 2021

A Goleada

                                  


O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol PA 51

(Supertaça “O Regresso do Caveirinha”)

Foi um jogo com um resultado de difícil interpretação, 3 vitórias num só encontro, que mostra, sem sombra para dúvidas, que o Fininho está invencível: Fininho contra Todos, 2 a 0; Fininho versão Clássica 7 a 5, por golo próprio na sua baliza que concedeu à equipa (“Golo é de quem o marca”); Fininho em Jogo Corrido e sem favores de Secretaria, 7 a 6. Nunca mais perdeu desde que o Bill foi para Macau. E o Pingamisú não se apercebeu do fim do jogo e continuou não tendo, no entanto, conseguido marcar golos na baliza adversária até ao momento. O Bastonário regressou aos relvados, mas mesmo assim o Espalha não trouxe o dinheiro para pagar a quota obrigatória do Futebol PA, nem a dele nem a do Bourbilha! Todos se aperceberam que o primo Baptista necessita urgentemente de mudar de óculos, mas como o médico oficial anda desaparecido, não foi possível arranjar-lhe uma receita para mamas novas. A nutrição também teve um papel importante, o Sabão e o Al-berto por andarem a levar a sério estes jogos de domingo, nunca tinham jogado um futebol tão intenso, física e psicologicamente, preocuparam-se com a alimentação da véspera:

- Ontem à noite comi sopa e hoje granola de aveia e banana. Corri mais, e cansei-me menos - confidenciou o Sabão.

Não marcou nenhum golo!

- Eu jantei mais cedo e comi um peixinho cozido. Senti o cabelo mais solto, - retorquiu o Al-Berto

Golos nem vê-los, só “rodriguinhos”!

- Ontem ao jantar comi um picanhão de quilo, - respondeu-lhes o motivador Zé Miguel.

Uma assistência e um golo!

Mas o mais notado foi o Caveirinha, meteu-se a tomar carvão, e turbo nem vê-lo, saltos baixinhos, arrancadas miseráveis e nenhum golo.

- Eu respeito os meus gases, sou um homem livre, - disse o Peidão!

O,035m/s de metano misturado com 746,6 watts de potência: Dois soberbos golos, o melhor marcador do campeonato, abandonou a defesa e é agora o Ronaldo de serviço! A juventude apercebeu-se da volatilidade das regras de jogo do Futebol PA, houve um livre direto sem barreira, com golo do Peidão à borda da baliza, porque quem marcou é que decidia se queria ou não barreira, apesar dos protestos que não foram atendidos pela Justiça Desportiva, Fininho e Espalha estavam na equipa que marcou a falta, cujo bola levou um toque extra da mão do Caveirinha. Pela primeira vez o Caveirinha fez uma barreira única do outro lado e pediu que um jogador se deitasse atrás dele. Os “rodriguinhos” no mesmo sítio do Ricardinho na semana passada tiveram uma explicação: Astrazeneca! Neste jogo ia marcando o golo da jornada. O futebol PA pós-Covid está vivo e recomenda-se!  


Wednesday, May 19, 2021

Supertaça “Saudades do Cinzento”

 

O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol PA 50

É já um desafio crónico aquele com que o Futebol PA se tem vindo a confrontar neste pós-segundo-bicho. No entanto, há sempre jogadores intemporais, transversais a todas as épocas e gerações, pela própria força que imprimiram à modalidade. No Maninho Ensina está a desabrochar um novo Bill, enquanto o mano Trazfácil faz lembrar o Jordão varrendo o ataque adversário, quando este ousa aproximar-se da sua baliza, mesmo que seja o mano Tarolo, um Chico em potência, que não deixa ninguém indiferente, onde o fantástico e o futebol sem predicados andam de mãos dadas, um singspiel, jogando todos os estilos futebolísticos, mas com tendência para os matrecos. Este foi um domingo diferente, não no resultado, o Fininho tornou a ganhar, mas nas novidades: coletes novos, fresquinhos, o regresso do Caveirinha ao campo e do Choné às bancadas. Todos os jogadores tiveram de assinar um termo de responsabilidade, e o Al-Berto dois por causa do penteado à Kebab. Há um vírus específico do Futebol PA, o “Rodriguinho”, que está a afetar a juventude, obrigando a terceira idade a subir para a grande área adversária e marcar golos. Hoje, mais uma vez, o Peidão foi o jogador de eleição, dois soberbos golos, que talvez inspirem o Sabão e o amigo Kebab, uma vez que o Balão está afetado de “rodriguinhos” da cabeça aos pés. Os atletas foram assim divididos em duas equipas: Peidão, Zé Miguel, Maninho Ensina, Al-Berto, Sabão, Balão, Ricardinho e Caveirinha versus Toni Mendes, Fininho, Trazfácil, Dedão, Tio Kiki, Gustoso, Pingamisú. O Futebol PA atingiu agora um estatuto que lhe permite lançar-se para o futuro, um novo conceito de negocio do Peidão para motivar as novas gerações: jogar com ou contra equipas especiais!

Equipa do Capitão Porão (10€+IPP+Preço da fralda), destinada a tenrinhos que irão ouvir um eco de cada vez que o esférico acertar na bilha do militar altura em que terão de gritar "em cheio na kona" como dizia sempre o Caveirinha.

Equipa de Sonho (12€+IPP, IVA pró Peidão), jogar num conjunto com cartas especiais: Biblot, Dic, Tuguinha, Carinha da Avó, Marinheiro Pai, Chico, Rato (com chuteiras cor de alface) e Judite de Sousa.

Equipa feliz (15€+IPP), jogar numa qualquer que tenha o Milhas, onde será só rir, só rir, e em que o Fininho irá ensinar a fazer a silhueta quando o Constante cair, porque cairá sempre, e ficar agarrado à perna a olhar para a cicatriz que fez num desastre de mota há 40 anos.

Poderão também ter treinos de “Rodriguinhos” com o Ricardinho por apenas 9€+IPP, lições de “Gestão de Campos” com o Peidão por apenas 17€ que inclui IPP, “Aquecimentos” com cigarrilhas da responsabilidade do Cinzento (15€ inclui tabaco, com duplo IPP, a cigarrilha e o jogador), “Desaprendizagem do Futebol” pelo mister Pingamisú (5€ paga-vos ele, já inclui 98% de IPP), “Agradecer Golos ao Milhas e ao Chico Marinheiro” (7€+IPP), treino de colocação de voz, muito importante no Futebol PA, e outras aventuras que permitirão ao contabilista continuar a subir na vida à conta de uma perceção de melhorias semanais de performance dos novos jogadores. A expetativa é grande no regresso do Zé das Cápsulas, durante muitos anos o Ronaldo PA, que se casou e teve gémeos. As apostas na performance estão todas do lado do pai Laranjão!


Sunday, May 09, 2021

Supertaça “Os Ânus do Focas”


O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol PA 49

Se o Fininho disser que este domingo ganhou, isso é Impulse. Desde o início do Futebol PA aproximadamente 1000 seres humanos caminharam sobre o relvado, incluindo o preto profissional que jogou na Praia de Carcavelos descalço que chutava como o Koeman e ia tirando a cabeça ao Caveirinha. Atrás de cada novo jogador encontram-se 30 coxos, este é o rácio pelo qual os sexagenários ultrapassam os vintage. Este domingo foi o regresso a Porto Salvo, após muitos protestos do Taressi, o patinho feio do Choné, um jovem jogador de sentido contrário, que se desmancha e só consegue desenvolver-se porque dá ganhos aos adversários, sinal de que para ele futebol e corfebol é tudo a mesma coisa. E o entusiasmo era tanto que o Al-Berto arrombou com a porta, só para ir aquecer, fazendo com que o rececionista preto, e não o saudoso Preto, agora tratado por Cinzento, fugisse com medo do gangue do Futebol PA. Mesmo com mais de 40 anos de prática o campo continua a albergar, para muitas almas penadas, recantos desconhecidos capazes de conter mistérios insondáveis.

- A bola só atrapalha, no futuro será retirada, - prometeu um dia o Presidente.

Neste domingo ficou patente que o Pingamisú está preso a um incessante braço de ferro contra um ser demoníaco que o habita e de quem não se pode livrar sem correr risco de vida. Mas o ambiente de Tires ainda se sentia, porque as damas de companhia fizeram ouvir os seus sentimentos quando descobriram novos cabritinhos:

 

- Bourbilha, punha-te uma maçã na boca e assava-te todo, - gritou a Diana Fialho, especialista em churrascos.

- Comia-te aos pedaços Flecha barbuda, - berrou a segurança algarvia.

O homem do jogo foi o Maninho Ensina, que veio para o campo com um blusão de penas, e parecia que voava. Foi um encontro do antigamente, de início a equipa escolhida pelo Toni Ramos parecia jogar num plano inclinado favorável, e marcou quatro golos de rajada. Mas a pouco e pouco o nível desportivo foi subindo, até serem encostados à parede, tendo o Trázfácil recorrido à pantufada familiar, que amedrontou o mano Tarolo, um profissional de campos do tamanho de matraquilhos e não de relvados para profissionais. 7-5 foi o resultado, com as seguintes equipas: Peidão, Zé Miguel, Balão, Taroulo, Maninho Ensina, Ricardinho, Al-Berto, Espalha e Bourbilha versus Toni Ramos, Fininho, Pingamisú, TrazFácil, Sabão, Dedão, Flecha e Gustoso.

 

P.S.: O Cinzento confidenciou que irá regressar em breve, porque só joga em Porto Salvo, uma vez que nunca conseguiu encontrar o campo de Tires devido ao tamanho reduzido; o Laranjão também prometeu voltar, após autorização do Zé das Cápsulas, que também já pediu licença de jogo a autoridade superior. 

Bill, se o Fininho te disser que este domingo ganhou, não te esqueças, explica aí ao chineses que isso é Impulse!


Tuesday, May 04, 2021

Supertaça "O Regresso do Taroulo"

 



O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol PA 48

 

Este domingo foi um regresso ao passado, houve goleada, a equipa do Fininho levou 9 – 4, mas ganhou: Toni Ramos, Tio Kiki, Taroulo, Sabão, Al-Berto, Ricardinho, Pingamisú versus Peidão, Zé Miguel, Balão, Dedão, Maninho Ensina, Fininho e Espalha. O encontro decorreu no mítico Estádio Rosa Grilo, e quem quis dar nas vistas foi o Taroulo, que veio diretamente de Barcelona armado em Messi, entrou no terreno com a quota do mano Trasfácil, e jogou como Taressi, com a música “Trouble’s Coming” dos Royal Blood a tocar ao máximo em 45 rotações  em todo o coco, mas o tamanho fez a diferença, não chegou aos colhões do argentino, tropeçou quatro vezes na bola e, após dois ressaltos no guarda-redes adversário, lá conseguiu enfiar o esférico do Balão no fundo das redes. E de cada vez que o fez puxou a franja maricon para o lado como que a gritar “olé”. Por isso o Comité de Disciplina anulou dois dos seus quatro golos por comportamento ilícito no relvado. Ficou assim 7 -4. Mas há mais! Na fase de aquecimento o Dedão deu um biqueiro na bola do Sabão e colocou o esférico ao alcance da Rosa Grilo e suas muchachas, por isso o proprietário recusou-se a ir buscar o material, e tinha razão, a namorada da patroa de Tires gritou:

- Se vens aqui transformo-te em vários sabonetes!

Foi o Dedão, o leitão da Diana Fialho, que por estar ausente do estabelecimento para ir tratar de um assunto familiar escaldante, tinha deixado avisos ameaçadores às colegas caso tentassem tocar no seu xuxu, mas perdeu-se no mato e teve de ser resgatado, mesmo com o jogo a decorrer. O Pingamisú regressou ao antigamente, um jogador onde a técnica não faz parte do léxico cerebral, levando-o a lutar constantemente contra a complexidade do mundo, sinal de que o sicofanta Bill estará sempre presente nestes domingos de Futebol PA, fazendo com que alguns, os “bileiros” olhem de uma forma diferente para o esférico, vendo-o quadrado. O Toni Ramos jogou coxo, característica só autorizada ao Choné, na perna, e ao Milhas, na cabeça. Por isso o Espalha, mesmo fora do território, aplicou a justiça desportiva do Tio Isaltino, retirando mais dois golos, por “abuso indevido de vantagem desportiva”: 5 – 4! O Ricardinho voltou a fazer rodriguinhos, mas esqueceu-se de informar o Peidão, que escolheu as equipas com o falso-coxo que, por se considerar desportivamente enganado fez queixa ao Fininho, da Federação, que castigou a equipa adversária com menos dois golos. Assim, a vitória foi justamente entregue à equipa do do costume, que somou os respetivos golos retirados aos batoteiros: vitória do Fininho por 9 – 4!

P.S.: O Cinzento foi visto a passar em direção a Sintra, para ir jogar o encontro da semana passada!

Sunday, April 25, 2021

Supertaça "E depois da Covid"

 


O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Futebol PA 47 


O dia era de festa, o país enchia-se de cravos vermelhos, vendidos na vila de Paço de Arcos pela Mula do Ártico, e desfiles à La Carte, mas acima de tudo assinalava-se o regresso do Futebol PA à arena da Rosa Grilo, até que o bicho feche tudo de novo. Apresentaram-se no jogo de Tires 14 jogadores: Pingasú, Fininho, Tóni Ramos, Peidão, Zé Miguel, Trazfácil, Balão, Tio Kiki, Sabão, Al-Berto, Ricardinho, Espalha, Maninho Ensina e Dédé. Dentro, mas só a jogar com os olhos, o Rato das chuteiras verde alface, vítima de violência familiar, mais propriamente uma ucraniana do rugby. Esperava-se o Cinzento mas, como já é tradição, apresentou-se no dia anterior, sinal de que estava de boa saúde, por isso foi considerado o homem do jogo. O Dédé apareceu no relvado em formato de Dedão, por isso é justo passar a ser mencionado devido ao volume. Não passou despercebido a falta de rendilhados e rodriguinhos do Ricardinho, a ausência de insultos do Fininho, as fúrias do Tio kiki e o esquecimento na escolha de jogadores que deixou de fora o Pingasú, sinal de que este atleta ainda estava longe da normalidade, traumatizado por a Rosa Grilo o ter trocado pela neta do Zé Borrego, desmembrista paçoarcoense. O vencedor absoluto da partida foi o contabilista Peidão, um dos poucos empresários do esférico a lucrar com a pandemia, pois como sabia que a idade avançada dos colegas tinha-os feito esquecer as quotas do primeiro confinamento, que regressara dois domingos depois, montou a banquinha da coleta. Só o Caveirinha insistia em reclamar, por isso não apareceu neste domingo de dízima, mas não se sabe se já contagiado pelo mano Cinzento ou por proibição superior. Foi um jogo muito tático, ninguém brilhou, e acabou num justo empate 4 a 4. A comemoração, não da revolução de abril, mas do regresso do Futebol PA, ficou manchada por uma lesão, provocada pela bola do Sabão, que dizia ser de boa qualidade, vendida pelo Bil, que transformou o pé mágico do Tony Ramos numa pata de elefante que, se fosse cortada, faria um belo puf, por isso foi aconselhado a pedir uma opinião ao Dr. Cinzento que, segundo o mano Pontas, cujo registo de interesses da Assembleia Municipal de Lisboa diz ter ter 9 luxações no braço (9 apartamentos) e 2 roturas de ligamentos nos pés (2 contas bancárias de 1,7 milhões de euros em nome do seu amigo Milhas), garantiu conseguir rapidez no atendimento, talvez no natal de 2023. O Fininho e o Espalha, com ausência do Peidão por estar a contar as inúmeras notas, reuniram o Conselho Disciplinar do Futebol PA e analisaram o Var, onde viram a vítima a avançar com classe para o esférico, sem se aperceber da chegada meteórica do Zé Miguel que, ao pequeno-almoço, confundira o Viagra do papá com as smarties. Se fosse no tempo do Capitão Porão teria ficado marcado como cabrito para degustar. Os juízes foram rápidos na sentença, o jogador Sabão foi compulsivamente encaminhado para uma consulta do Dr. Cinzento, onde irá, como manda a tradição, sair com um par de mamas, o que obrigará de imediato o Conselho de Cognomes a reunir de emergência para decretar a mudança do nome do arguido: Sabão Mamalhudo!    


Tuesday, April 13, 2021

Mixórdia Colegial

 




O Comandante Guélas


Série Colégio Militar

 

Nesta estória o princípio, o meio e o fim são dedicados a um fâmulo famoso dos anos setenta, abarca vários assuntos, os pioneses do comportamento, a filha do caseiro da Feitoria e outros cavanços. Era mais seguro o Moreira andar com a caixa de bolos no Largo da Luz do que dentro do Colégio Militar. E houve um dia que nem teve tempo para os guardar no seu cacifo, pois foi logo emboscado num corredor, vinte “senhores alunos” empurraram-no contra uma parede, enquanto outros gamavam-lhe a bolama, ao mesmo tempo que distribuía abrunhos raivosos aos que estavam ao seu alcance e gritava:

- Bós sois piores que os ciganos!

Mais tarde teve direito a um assessor, o Cylon que, tal como o professor Loureiro, os olhos apontavam para lados diferentes.

Com a revolução veio outro conceito de avaliação comportamental, a justiça sumária das chapadas e dos murros em sentido foram substituídos por um quadro em que cada aluno era senhor de um pionés, que subia e descia consoante o seu comportamento. Abaixo da linha de água era suspenso, acima das nuvens recebia um louvor. E como estávamos na balda, perdão, democracia, apelava-se à responsabilidade revolucionária, o placard estava a descoberto. Resultado, o 69, o Fernandinho, o nome mais vergonhoso do Colégio Militar, que tinha o blaiser cheio de lacinhos coloridos, que marchava sempre com os braços esticados à altura dos ombros, que tinha a parte posterior das botas mais gastas e mantinha o desempenho mesmo com os colegas a darem-lhe pontapés na peida, dum dia para o outro estava na linha de água. Em contrapartida o 125, 191 e o 601, cabulões encartados, estavam à beira do Quadro de Honra, por isso o tenente Mota nem queria acreditar:

- Estão a gozar com a democracia!

O Processo Revolucionário em Curso teve de recuar neste espaço educativo exclusivo, o contador de comportamentos foi preso numa vitrine com chave.

Diziam que a Rosa tinha uma rival, a filha do caseiro da Feitoria, à qual aparecia sempre o 151 nos seus sonhos molhados. Era a musa do espaço, dona da única cabine telefónica, instalada na casa do pai. 

Quando o aluno aterrou do lado de fora do Colégio Militar, após ter saltado o portão, para usufruir de um pouco de liberdade, deu de caras com um par de sapatos.

- 634, onde vais?

Levantou os olhos e viu o Diretor, para azar dele o Casanova morava em frente ao colégio. Mas um Menino da Luz tem sempre uma carta na manga:

- Ia ver o Benfica, - respondeu sabendo que o oficial era um adepto ferrenho do clube.

- Então não ias, vais, - e deixou o rapaz ir à sua vida.

Após o Glorioso vencer, comeu um clássico bitoque no Ricochete e entrou lá para os lados do campo de aeromodelismo. Mas houve um dia em que o diretor bateu um recorde, caíram-lhe oito fugitivos aos pés. O primeiro saltou e apercebeu-se de um carro que parou ainda ele ia no ar e antes de ser apanhado avisou os camaradas:

- Está aqui o Dito!

- Epá, não brinques com esta merda, - e avançaram!

Havia quem se ausentasse para ir beber um copo no “Mae Preta”, nome inadmissível nos tempos de hoje onde as histéricas, de todos os géneros, reinam como "senhoras",  cujo nome caracterizava o tipo de restaurante. Outro após o salto ouviu o barulho de um carro a chiar e alguém a gritar:

- Que merda é esta a saltar o portão, já lá para dentro!

Era um ex-aluno a gozar, que lhe deu boleia. Havia 3 técnicas para que os vigilantes não dessem pela falta dos alunos: um boneco feito com almofadas cujo cabelo era a escova dos sapatos, pedir a um colega mais afastado que ocupasse a sua cama após o vigia passar por ele ou desmontar a cama e esconde-la!

Nesta manhã os cúmplices do 549 distraíram o Moreira, e ele escondeu-se dentro de um saco no cubículo onde ele guardava a mercadoria. Bastou ir à sua vida para que a porta se abrisse e a bolama desaparecesse num abrir e fechar de olhos.

O 271 foi um dia com um camarada ao “Aranha” comer um pastel de nata, e no regresso foram apanhados por um graduado, o 527, que lhes ordenou que fossem comprar uns bolos para ele. Os pastéis de nata da excelência vieram carregados de sal, por isso o castigo foi um mês de apresentações à alvorada. O 634 estava imparável, cavou com uma trupe em direção ao cinema Condes, onde compraram os bilhetes mais baratos e assistiram entusiasmados um filme para adultos, que lhes deu uma fome danada, por isso após a sessão foram comer bifanas lá para os lados da estação do Rossio. No fim de semana o pai quis saber como corria a sua vida académica, e ele não se fez rogado, esgalhava como um Ronaldo nos treinos de remo no Alfeite, que decorreram no dia da ida ao Condes. Azar dele, um camarada do pai tinha ido ao cinema naquele dia e vira-o!

E como prometido a estória acaba com o Moreira desesperado à procura do 695, a quem tinha vendido dois bolos a crédito, porque o aluno alegara ter o dinheiro na farda de pano guardada no armário da companhia. Nestes tempos o número mais alto era o 694!

 

 


Sunday, March 14, 2021

Finalistas em Porto Santo

 



O Comandante Guélas

Série Colégio Militar

 

Quantos de nós já não se lembram do que fizeram no passado, fazem-no no presente e querem, ou não, repeti-lo no futuro? O 92 de 1934 disse que no Colégio Militar havia “uma espécie de democraticidade efetiva entre os alunos (…), todos tínhamos um número”, ou seja, nada de classes sociais. Mas no curso de 71/78 havia castas e na viagem a Porto Santo elas ficaram expostas. Na Madeira os fait divers sucediam-se, desde o roubo dos botões do Fernandinho, passando pelas berliets que deixavam os meninos todos molhadinhos de cada vez que entravam e saiam dum túnel, da procura incessante das Meninas do Maria Amália até ao ataque de caspa monumental de um Menino da Luz na piscina da Matur, que pôs em causa a segurança da ilha. Num dos dias do intenso programa de secas, os finalistas rumaram à ilha de Porto Santo mas, por serem muitos, foram divididos em dois grupos, uns iam de Aviocar e outros numa lancha da marinha, transporte que trocariam no regresso, uma espécie de alterne, não fosse o Colégio Militar “uma espécie de democraticidade”. E foi aqui que entrou em ação a casta dominante! Mas, continuemos. A viagem de avião até Porto Santo correu da melhor maneira, os finalistas chegaram alegres, por isso fizeram brilhar os olhos das nativas. No barco a estória foi outra, o mar alteroso não ajudou na viagem, quase todos os Meninos da Luz bolsaram, à grande e à francesa, e o seu cheiro azedo, e cor de defunto, sobrepôs-se ao do peixe, assustando as filhas das vendedoras que fugiram em debandada. O contraste era flagrante, uns estavam rijos que nem sardas, os outros tinham-nas flácidas e com cheiro a decomposição.

- Nem pensar, não vou de barco, - resmungou um, metendo a mão no bolso e tirando uma nota de vinte escudos.

- Mas isso é o preço de um rodeo na Dallas Cowboy, - reclamou outro.

- Paciência, mas não chego bolsado ao quartel!

A malta da massa, a casta superior desta estranha “democraticidade”, tinha razão, era mais cauteloso subornar os camaradas que deveriam regressar no avião, do que ficarem expostos aos humores do mar das ilhas descobertas por João Gonçalves Zarco e o Tristão Vaz Teixeira, bem representados naqueles dias pelo Primo Orelhas e o Maneli, o único que conseguia adormecer as galinhas do pai da Rosa. Para a casta inferior um Santo António dentro das calças de cotim era uma sorte, e ainda por cima nas noites mágicas da ilha da Madeira com as Meninas do Maria Amália em roda livre. Para a casta superior era somente uma mudança de óleo a menos na “Albertina das Mamas Grandes”. O Aviocar trouxe no regresso uma parte daqueles que levara, mas para azar deles o mar estava chão para os que vieram na lancha com os bolsos forrados de santo antónios!  


Sunday, March 07, 2021

A Maddie Colegial

 


O Comandante Guélas

Série Colégio Militar

Estava a reunião no zoom a decorrer, sob a coordenação do Querido Líder Gordini, quando os presentes foram confrontados com uma triste notícia: o Peida Gorda tinha desaparecido dos radares, dava a sensação que andava a fugir do seu passado colegial. Logo este cujo número encerrava o título das comemorações dos cinquenta anos de entrada do curso de 1971, “Do 8 ao 668”, apesar de ter havido mais um, o 669, o Serra. Criou-se logo ali um grupo de busca do Peida-Gorda, dirigido pelo insaciável Escalope.

- E não é só o 668, - confidenciou o 601, deixando cair uma única lágrima.

- O quê, há mais? – Indignou-se o Zacarias.

- Infelizmente o Canibal também está desaparecido, - respondeu a seco, e sem preliminares o Gordini.

As comemorações arriscavam-se a ter de mudar de lema: “nunca tão poucos comemoraram por tantos”!

- Abri o Blog, enviei centenas de convites e só tenho meia dúzia, - queixou-se o Ginho, ao mesmo tempo que ouvia a entrada de mais um cliente. – Sete, o Peidão acabou de entrar.

- Só agora encontrei o botão, - justificou-se o 191, que não tinha tido o número mais vergonhoso do Colégio Militar, 69, do Fernandinho, mas que agora era olhado de lado por não ser uma alcunha ambientalmente aceitável.

Enfim, contingências de um colégio especial a quem ninguém podia escapar, nem mesmo que o Peida-Gorda fosse viver para a Antártida, com toda a certeza, o Monhé mais tarde ou mais cedo iria declamar um “Zacatraz” à porta do seu iglô.

- Eu vi o Canibal, - exclamou o 27, um pouco embaraçado.

- Onde? – Perguntou o Querido Líder, aproximando um olho da camara.

- A última vez que vi o Canibal foi no cinema Império, quando eu e o Cebola fomos ver a “Garganta Funda”, perdão, “A Música no Coração”, e ele quis vir connosco.

O Cebola dizia que ele espantaria as fêmeas amigas e por isso na altura de comprar bilhetes arranjou-lhe um na primeira fila, entregou-o ao pirilampo que o conduziu de imediato o Canibal ao seu lugar. O 27 viu-o desaparecer na noite fria do Cinema Império.

- Lembro-me do seu sorriso, ia todo contente por ir ficar mais perto da garganta da artista.

Tinham agora mais de quarenta anos de avanço, o Canibal estava desaparecido há mais tempo que a Maddie, mas para os Meninos da Luz nada era impossível.


Saturday, February 20, 2021

O Capitão Caetano


O Comandante Guélas

Série Colégio Militar


- Sua Excelência meu capitão, dá licença que penetre?

O bigode do Comandante da Terceira Companhia eriçou-se, sinal de que o pedido do Bomba H entrara a seco, sem preliminares, na sua alma militarista. A primeira missão a que se propôs foi acabar com uma tradição, o “descaminhamento dos alunos”, ou seja, roubar à grande e à francesa, começando pelos graduados ao domingo à noite junto à Enferma. Ao “descaminhamento” estavam diretamente ligadas outras atividades extra-curriculares como as firmezas, a banalidade do mal, às quais o capitão Caetano fechava muitas vezes os olhos e assobiava para o lado quando era Oficial de Dia, as apresentações à alvorada, missões impossíveis que invariavelmente levavam o aluno a chegar tarde à formatura e a ser sujeito a outra tradição, levar nos cornos em sentido, uma estalada ou um murro, consoante o grau de psicopatia do graduado.

- Estão proibidos os cadeados nos armários!

Como era de prever, o índice de “descaminhamento” teve um aumento exponencial, assim como outras atividades a ele ligadas. Foi a primeira fatwa do Capitão Caetano, especialista em carolos e em inspecionar cabelos durante as formaturas que antecediam as saídas ao fim-de-semana.

- O seu cabelo não está em condições, tem de ir cortá-lo – disse, bloqueando o aceso do 280 à vitrine onde estava o cartão que lhe permitia sair.

Mas o Comandante da Terceira Companhia tinha um assunto mais premente a resolver nesse mês de fevereiro do ano de 1975, ler ao encarregado de educação do aluno 191 o relatório dos incidentes ocorridos junto à bomba de gasolina colegial entre uma administrativa achinesada, que resolvera abastecer o carro, e a rapaziada duma turma do 4º ano instalada no 1º andar. Atrás da porta dois dos arguidos ouviam atentamente a leitura do documento:

- … e o aluno 125 gritou “abre as pernas que eu vou de cabeça”, ao que o colega 191 acrescentou “senhor soldado, não se engane no buraco, olhe que é o do carro”, sendo imitado pelo 601 “não queres segurar na minha mangueira” …

A investigação deu uns dias depois origem a um primeiro Ofício Circular coletivo, “Encarrega-me Sua Exa. O Brigadeiro Director de transcrever a V. Exa. O nº 1 do artº 10º da Ordem de Serviço Militar, nº 47, que é do teor o seguinte: punições com 2 dias de suspensão, cada um dos alunos da 3ª Companhia e do 4º Ano nºs: 157, 601 e 653, por no dia 30 de Janeiro de 1975 terem dito “palavras insultuosas para com um funcionário deste colégio, que foram ouvidas por elementos militares e civis, que se encontravam no local de abastecimento de gasolina”; e a mais dois Ofícios Circulares personalizados com a data de 26 de fevereiro de 1975, um para o Horrível, com três dias de suspensão que, com toda a certeza, iria aproveitar as férias antecipadas para dar “8 de seguida sem ver a luz do sol”, não fosse ele, segundo opinião própria, o maior fodilhão colegial;  e outro para o Peidão, quatro dias, por ser reincidente, já tinha ficado detido uns dias durante umas férias da Páscoa, uma segunda pena para o mesmo crime, a primeira fora sumária, um enxerto monumental à noite aplicado pelos psicopatas de serviço em frente à companhia, como jovem chefe de turma despejara uns anos antes todo o óleo de fígado de bacalhau existente no espaço sobre a cabeça do Stratopel, uma justiça que o diretor achara ser exemplar, tendo reforçado a opinião mostrando aos encarregados de educação, que o questionaram porque é que a excelência não considerava a tortura o suficiente, uma moldura com um documento que o atestava como um ser justo, uma espécie de rei Salomão dois em um. Mas voltemos ao início da estória com o pedido do Bomba H:

- Meu capitão, dá licença que penetre?

O aluno sentiu de imediato o calor intenso que saia da alma do oficial, que se projetava em estilhaços por todas as direções, sentiu a fúria aterradora, tão poderosa que até a porta do gabinete tremeu. Como um astronauta na Lua em movimento rápido, correu para o corredor com saltos de gigante, não sem antes sentir a deslocação do ar da tentativa de abrunho do capitão Caetano, embrenhando-se pelo geral da Companhia com um superior raivoso no seu encalço.

Sunday, February 07, 2021

O Regresso do Conan

 


O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

O Choné, um dos últimos humanistas de Paço de Arcos, estava preocupado com o Conan Vargas, por isso enviou-lhe um pdf da Playboy, sem se aperceber dos riscos que a vila corria. Com o seu ato irrefletido arriscava-se a transformar o maior cobridor da vila, bem imaterial da Costa do Estoril, num onanista incontrolável, que trocaria o acelerador da sua TMax pelo pescoço do seu frango, e isso era uma heresia para o Tribunal do Santo Ofício da República Independente do Alto de Paço de Arcos (TSOR), dirigido pelo implacável Proveta, que andava desaparecido, depois do jantar de natal. O Querido Líder mandou, para o bem da nação, suspender a conta do careca coxo. O bicho ia fazendo o seu caminho, o Focas também já não conseguia sentir os seus flatos, por isso o condomínio ressentia-se, enquanto o Conan queixava-se de uma dor no peito que lhe dificultava a respiração, tudo isto porque insistia em ter a ovelha por cima a cavalgar-lhe o frango. Se tivesse seguido o conselho emitido pelo governo de New South Wales, na Austrália, de “masturbação mútua” bastava pôr a Franginhas de lado. Em fuga do Cociolo andava o misericordioso chinês com um passado alcoólico, perdão, acólito, a inteirar-se da saúde dos amigos e futuros clientes:

- Está a olhar pelo rebanho, - comentou o Orlando em confinamento numa bancada de padel.

- A mim tu não fritas, - disse-lhe o Neto. – Já estou a sentir-me melhor!

O primeiro sinal da boa-nova veio quando o Doutor Professor Ánhuca, do Centro de Estudos João da Quinta, estimou que, desde que o homem era sapiens, tinham já nascido 108 biliões de pessoas, conta esta validada pelo Professor Coelho, mas só uma chegara ao livro de Ciências Naturais da vila-Estado de Paço de Arcos: Conan Vargas! Por isso a notícia do seu iminente regresso estava a deixar as fêmeas nervosas, e ainda por cima geometricamente alimentadas pelo artigo científico que dizia que o pénis dos infetados ficava maior após a saída do bicho.

- Vamos fazer uma procissão de agradecimento, - propôs a Espirro de Punheta.

Mas a notícia porque todas esperavam veio pela boca do Orlando:

- O Vargas já tem alta! – E tossiu para cima do Chinoca, que fizera uma visita comercial de cortesia ao seu saudoso amigo muito estimado. E disse mais:

- Regressará numa noite de nevoeiro na Praia Velha com um blusão Hardley Davidson com 560 cm3, 215 Kg de músculo e 48 cavalos de sexo.

O “Grupo das Amantes do Conan” (Espirro de Punheta, Sapo, Baleia Azul, Aninhas Carro Elétrico, Anita Carapita Carapau Sardinha Frita, Olívia Palito, Sóni, Lucinda Careca, Odete Estica, Crespa, Branca de Neve, Espia Feia, Bezelina, Tita dos Pés Sujos) correu para a praia, todas queriam estar perto do repuxo, o local que mais lhes fazia lembrar o herói.


Wednesday, January 06, 2021

A Peste de Natal

 


O Comandante Guélas

Série Paço de Arcos

Portugal teve o terramoto de 1755, Paço de Arcos a orgia natalícia de 2020. Quando o Focas tossiu no jantar de natal para disfarçar o som de um flato, barulho  inadmissível no restaurante da Nova School of Business and Economics, não imaginava que acabara de abrir a Caixa de pandora, e soltara o bicho de Wuhan que havia em si.

 

Uns dias depois, algures no Alentejo profundo, o Conan abriu o olho esquerdo na Pensão Moreira em Beja e sentiu um frio, não na espinha, mas nos entrefolhos. Pensou na manhã alucinante do dia anterior em que fora estuprado a 200 metros de altitude, na altura em que atravessava uma nuvem, não pela Mulher Maravilha, mas sim pelo Carlão dos Ares, sem contar com o abalroamento que sofrera em Mértola, quando um camião carregadinho de cabras lhe entrou pela retaguarda, sem preliminares, tendo tido muita dificuldade em tirar o cobridor que se colara nas suas cuecas tipo carrapato. Tentou apertar a cobra, mas só encontrou uma lagartixa.

- Maldito Focas! – Gritou furioso este ar-tesão pertencente a um coletivo de fêmeas.

O Conan Vargas, o paçoarcoense que se gabava de dar “8 de seguida sem ver a luz do Sol”, acabara de perder o tesão do mijo. Deu um peido do feijão da noite anterior e não sentiu o cheiro.

- Maldito Focas!

Noutro ponto do país uma enfermeira enfiou um cotonete pelo nariz de um asiático, um paçoarcoense habituado a afiambrar num capitão e não a ser afiambrado, e apercebeu-se de imediato da gravidade da situação, a cabecinha que entrara branca saia agora verde e pestilenta. Ligou de imediato para o chefe da segurança da vila, o senhor Cociolo:

- O chinês está com as 7 pragas do Egipto!

Mas já havia dois paçoarcoenses com as malas à porta, o Orlando e o Neto, um desterrado para uma masmorra, o outro para as galés. Os restantes estavam caladinhos, tinham-se evaporado no éter. A crise sanitária na vila ia-se alastrando como nevoeiro pela costa, por isso o Comandante Guélas deu plenos poderes ao Cociolo nomeando-o o marquês de pombal de Paço de Arcos, que ordenou a prisão do Chinoca:

- Quem o vir amarre-o a uma árvore que eu vou lá busca-lo!

O inspetor Narciso Serapitola Figueiredo Baeta também já estava a cheirar o terreno, à procura de vestígios do bicho chinês, mas só encontrava o odor típico da zona:

- Mas que cheiro a kona!

Entretanto um empresário ligado á saúde, o Dr. Pierre Pomme-de-Terre, com vasto currículo de epidemiologista brasileiro, prometia teste imediatos ao bicho, um dia depois do espirro do Focas, e não seis como determinavam os “especialistas de aviário”, não tinha mãos a medir, todos os presentes no jantar de Natal faziam fila à porta do seu consultório, na antiga roulotte de bifanas do Mocho e do Bajoulo, agora transformada na Clínica PUF. E por mais 50% do preço, uma promoção especial para amigos, garantia a negatividade no resultado. Mas houve um dos velhos fez queixa no livro amarelo:

- Passados mais de 40 anos tenho que enfrentar de novo o trauma dos testes negativos! – Lamentou-se o Caveirinha.

O Chinês fugitivo não largava a porta da sua churrasqueira em Barcarena, o negócio ia de vento em popa, até já comprara um lancha chamas a um árabe para acelerar as cremações, com a condição de este não se fazer explodir junto ao seu estabelecimento. Mas a notícia do dia foi na área da Educação,  a positiva do Conan, que alertou o Marreco para a necessidade de ir gastar uns euros à Clínica PUF.

- O meu irmão bem me disse que as amizades paçoarcoenses iam-me custar caro!

Finalmente a fita do tempo foi entregue ao Cociolo:

 “O Focas teve necessidade de soltar um gás, por isso disfarçou com uma tosse para a esquerda, que apanhou o Neto distraído, e com outra para a direita, que conspurcou o Chinoca, ricocheteou e caiu no bife do Orlando. Este no final do jantar fez uma visita de cortesia à mesa do Conan e deixou-lhe uma recordação de Wuhan, um perdigoto à entrada do nariz. Bastou um arroto para dividir o bicho com o Marreco e o Páni”.