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315 estórias

Thursday, November 25, 2010

A Rena


Camarada Choco
Aventura 69
O Samecas estava inconsolável porque a sua noiva, a Beta Cigana, acabara com a relação de quase um século, trocando-o pelo Tóni, o filho do novo chefe máximo da Escola, que sucedera ao hilariante Torres. E tudo por causa de uma inofensiva carícia mal calculada, que se transformara num abrunho estilo Rocky que pôs a cigana a ouvir frangos a assar durante uma semana. O ponta de lança da equipa líder do Campeonato Nacional de Futebol para Destravados, os célebres e consagrados “Tubarões do Seixo”, no qual o “i” caía sempre que regressavam ao clube, estava a ser traído pela visão, naturalmente com falhas, mas que agora se aproximava da red line porque já não conseguia distinguir um elefante duma mosca. Mas ele sabia que podia contar com o apoio incondicional do mister, o Stor Pobre, que o convocava sempre que havia jogo, mesmo com o risco de deixar lá metade da dentadura, devido aos problemas de navegação que o faziam sair sempre do campo em alta velocidade e parar só quando algum objecto mais traiçoeiro se interpusesse no seu caminho. E todos estavam lembrados de que o Samecas já tinha um dia, na altura do pico de forma e de visão, deixado metade dum Incisivo no Colégio Vasco da Gama. E o Stor Pobre só era mister dele por afinidade, porque oficialmente este Tubarão tinha mudado de mãos e estava agora dependente da autorização da Rakette, uma stora com os carretos todos no lugar que, para o proteger, o queria inscrever na Federação Nacional de Matrecos. O argumento do Stor Pobre era infalível, enquanto o Mantorras jogasse no Benfica, o Samecas continuava nos “Tubarões do Seixo”. Ou saíam os dois ou não saía ninguém. E assim os “Tubarões do Seixo” podiam ainda contar com o ponta de lança toupeira durante o aquecimento e o intervalo…apesar dele sempre pensar estar no jogo. E os treinos tornaram-se rigorosos: de Técnico e de Físico, que já não precisava passara para…psicológico! E tudo isto veio mesmo a calhar nesta fase existencial do Samecas sem a Beta Cigana.
- Tens de aguentar todos os insultos, - gritava-lhe diariamente o mister no seu quotidiano encontro matinal, - meu pa…cornudo…gay!
O Samecas tremia, mas nem pestanejava.
- Quero-te preparar para aguentares toda a pressão do adversário durante um jogo, – berrou o Stor Pobre, enchendo o atleta de baba, - percebeste meu panas…com cara de cara… e maluco?
Mas havia quem não concordasse com estes métodos pedagógicos:
- Lembrar ao miúdo a sua condição de rena, não está nos manuais das “Boas Práticas com Grogues”, – avisou a Dra. Yogurte.
- Mas já que o Samecas está em estado de rena, aproveitamos a época natalícia que se aproxima e fazemos com que ele tire proveito da armação que já risca o tecto da sala do seu reeducador, o Senhor Pintor. O desporto de alta competição cura tudo, até Desaparafusados, - exclamou o Stor Pobre mostrando os guizos que ia oferecer ao Samecas para pôr nas hastes.
- Os guizos ainda vão traumatiza-lo mais, - retorquiu a Dra. do primeiro andar.
- Estes sininhos vão torná-lo famoso, pois quando os ouvirem todos gritarão: “Vem aí a rena da Venteira
O Desaparafusado estava diferente, o treino intensivo tornara-o outro homem, já não havia abrunhos para ninguém.
- A Beta Cigana, eu quero a Beta Cigana, - mas tinha por vezes recaídas.
Para o mister não havia segredos e a solução do problema chegou num abrir e fechar de olhos:
- A partir de agora o teu nome oficial será…
- Samecas Cristiano Ronaldo, - antecipou-se o jogador.
- Cristiano?? Mas que nome tão foleiro, – gritou o Stor Pobre colando-se à cara do atleta. – Tens de ter um nome artístico inesquecível que te faça cair ao colo, não uma cigana que só funciona pela metade, mas sim uma sueca monga que te mostre onde fica o teu clímax.
- Mas Cristiano Ronaldo é um nome bonito, - insistiu o Samecas.
- Passas a ser o Samuel Atum, o ponta-de-lança mais famoso dos Tubarões do Sexo, capaz de furar uma bola de futebol à dentada, caso esteja com disposição para tal, percebeste ó meu panas…da Venteira (sinal de que o treino psicológico era uma constante).
O mister explicou então que já tinha encomendado ao Senhor Pintor uma carrada de posters, onde a figura esbelta da toupeira da Porcalhota aparecia em posição de remate, mas em vez de uma bola da Fifa, preparava-se para chutar num fabuloso croquete, feito em parceria pela Nina e pela Duna, as holliwdescas cadelas de reabilitação, estando na baliza o seu eterno rival Tóni, o ladrão da Beta Cigana.