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315 estórias

Friday, April 08, 2016

A Sexualidade da Luz

O Comandante Guélas

Série Colégio Militar


Nestes tempos de mudanças rápidas, pensar que virá o dia em que poder-se-á entrar aluno e sair aluna, caso as histéricas melancólicas de juízo curto, incapazes de suportar a tensão das suas impotências e tormentas, cujos casais de referência são o Romeu e Júlio, ou Mariana e Filomena, vençam, atira por terra o último dos mandamentos do Colégio Militar: pegar de empurrão só para lá dos muros! Por isso quando o Jerónimo, que da Luz não percebia nada, deu de caras com o anúncio escrito no papel que forrava a bandeja do buffet do Continente, “café procura pastel de nata para relação própria”, decidiu-se pela demissão, assim o obrigavam as palavras inconsequentes do Grilo, “carinhos, drogas e roubos, não são admissíveis neste espaço educativo”! O sub andava aos papéis, punha uma tradição, o “gamanço”, no mesmo saco do “montanço”, e isso era um ultraje. Sem aquelas atividades de “desenrascanço” não haveria “firmezas”, “apresentações à alvorada”, e outras brincadeiras exclusivas deste espaço militar, onde tudo começava aos domingos à noite junto à enfermaria, com os graduados a fazerem uma operação stop à bolama e ao tabaco, que rapidamente passava das cuecas dos ratas para os bolsos dos estrelados, sem que estes atos fossem ilícitos e muito menos considerados carícias. Quanto aos “charros”, por lá andaram nos anos quentes da revolução, para aquecerem a malta alucinada pelos ideais revolucionários, que também quiseram transformar em borboletas estes meninos de “tosões de oiro”! Ainda o ano vai a meio, e o “Rei das Fadas”, ao contrário da Cinderela, mal consegue transformar o primeiro “a” da segunda palavra num “o” após o toque do recolher, mesmo já depois de um e uma camaradas terem sido apanhados a serrar na sala de leitura da quarta, e a intoxicação colegial está de volta, mesmo com a Aberta já longe da Luz e perto de Évora, e o onanista primário do Alguidar algures a tentar conservar o tacho que lhe está a escorregar pelos entrefolhos. Nestes tempos tão sensíveis, em que comentar um hipotético olhar de soslaio para uma bilha, tapada ou escancarada, abre mais uma caixa de Pandora, os antigos da “Geração Rosa” deverão ajoelhar-se e agradecer-lhe pelas horas íntimas em que esgalharam freneticamente os frangos, cada qual com o seu, olhando babados para uma “Gina” gamada, onde uma sueca, sem necessidade de charros, ficava com a cara da musa, dava aso à imaginação dos imberbes vestidos de cotim. Arrependam-se aqueles que numa noite tentaram estragar-lhe o bem que, por ser imaterial, pertencia a todos os sonhos, e cujo efeito secundário não passava de umas almofadas rotas ou umas molas frouxas. Orgulhem-se aqueles que “em campos de glória fulge” montaram o Tangerina, o Quadrado, o Alfange, o Eusébio, o Vapor, o Patacho, que vos deixaram com calos perpétuos nas bilhas, ou os outros que, “com ardor guerreiro”, manusearam com brio as Mannlicher, ou que sopraram com “engenho e arte” nas flautas colegiais, servindo hoje, como no passado a deusa Minerva!     

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